O fim do glamour. As razões escondidas que levaram a rainha Rania a afastar-se das luzes da ribalta
Não havia semana em que a mulher do rei Abdullah II da Jordânia não aparecesse nas capas das revistas internacionais, em que não a víssemos em compromissos oficiais ou simplesmente em que não surgissem fotografias daquela que é conhecida como ‘Lady Di do Oriente’ a desfilar os seus looks de luxo. Mas desde há uns tempos para cá, Rania recolheu-se. Tornou-se discreta. Desapareceu da ribalta. Saiba o que motivou esta mudança drástica de uma das mulheres mais elegantes da realeza mundial.
A rainha Rania é conhecida no mundo inteiro pela sua beleza, elegância, forma requintada de vestir e até pelos rumores (que são certezas) de que é obcecada por cirurgias estéticas, que a ajudam a manter-se jovem por mais tempo. Mas a mulher do rei Abdullah II da Jordânia também fez muito por ser conhecida. Sempre gostou de ter as luzes da ribalta em si. O papel de celebridade assentou-lhe (e assenta-lhe) como uma luva. Valeu-se do seu papel de destaque na realeza, para aparecer nos mais diversos eventos internacionais, viajava muito pelo mundo e em especial para a Europa. Os looks de luxo fizeram (e continuam a fazer) história. Os fotógrafos adoravam-na pelo que Rania era presença assídua nas revistas de moda e não só.
Contudo, aos 51 anos, a ‘Lady Di do Oriente’ – como é conhecida a rainha da Jordânia – está cada vez mais discreta. Tem optado por ficar mais no seu país, onde se tem dedicado a várias causas, como a das mulheres jordanas. Parece que aquilo de que tanto gostava – o mediatismo – hoje é um fardo. Recolhe-se e tem-se mantido mais na sombra. Embora não abdique dos visuais luxuosos, criados com peças de designers e marcas internacionais de prestígio, Rania tem apostado cada vez mais em criadores nacionais. As vestes e os padrões orientais fazem hoje parte do seu guarda-roupa. É uma mulher diferente, mais focada na Jordânia do que em si própria. As razões para esta mudança drástica estão à vista, mas já lá vamos. Primeiro, traçamos o perfil da mulher do rei Abdullah II da Jordânia.
UMA BONITA HISTÓRIA DE AMOR Rania al Yassin
Desde então, construíram uma família feliz e são a imagem de um casal unido e muito cúmplice. Há dois anos, quando completaram 27 anos de casamento, Rania usou as redes sociais para fazer uma declaração de amor ao marido: "Como não me enamorar deste sorriso, uma e outra vez ao longo destes últimos 27 anos", escreveu a rainha. Dessa bonita história de amor que de tão perfeita até parece ser pouco real, nasceram quatro filhos: Hussein, nascido a 28 de junho de 1994; Iman, no dia 27 de setembro de 1996; Salma, a 26 de setembro de 2000; e, por fim, Hashem, no dia 30 de janeiro de 2005.
Mas nem tudo tem sido um mar de rosas para Rania. A mulher de Abdullah II tem sido muito criticada para uma elite mais conservadora devido à sua imagem ocidentalizada. Consideram os beduínos mais tradicionais que a rainha consorte deveria usar véu islâmico. Sobre isso, disse a rainha: "No Ocidente, as pessoas veem o véu como um símbolo de opressão. Não é verdade, sempre que a mulher o use por convicção e vontade própria". Nesse seguimento, pediu que as mulheres árabes sejam julgadas pelo que têm dentro da cabeça e não sobre ela.
Também os gastos em roupas, cirurgias estéticas, viagens e festas faraónicas – como aquela que organizou quando fez 40 anos de idade – não são bem vistas aos olhos do povo. Ainda assim, Rania tem sabido, através das as suas ações conquistar o coração dos súbditos. Apreciam-lhe o empenho em campanhas contra a violência doméstica, maus tratos e abusos sexuais perpetrados contra menores ou dar a cara contra os chamados crimes de honra (assassinatos de mulheres no seio das suas próprias famílias). Também a educação, em particular a feminina e a infantil, tem sido uma das suas batalhas mais consistentes. Na sua página digital pode ler-se: "Educação = Oportunidade. A oportunidade de escapar à pobreza, a oportunidade de viver saudavelmente, a oportunidade de ter esperança. A educação é uma corda de salvação". Por todas estas tomadas de posição, a rainha é hoje um símbolo de modernidade no mundo árabe.
AS RAZÕES PARA O "DESAPARECIMENTO" DA RAINHA
Vamos, então, às duas razões que levaram a uma maior discrição de Rania. Tudo começou com a Primavera Árabe (uma onda revolucionária de manifestações e protestos que ocorreram no Médio Oriente e no Norte da África a partir de 18 de dezembro de 2010). Não foi logo, mas com a escalada de protestos contra a monarquia jordana e a família real, a mulher do rei Abdullah II começou a levar uma vida muito mais reservada e ponderada. Ainda assim não se julgue que as ameaças jihadistas conseguiram silenciá-la: "Historicamente, os extremistas baseiam-se na complacência dos moderados. Acreditam que não faremos nada para os travar. Estão enganados".
Mas o pior estava para vir. Mesmo sendo considerada uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo da revista Forbes, Rania da Jordânia passa agora por grandes apertos que – essa sim – é a principal razão para se manter o mais discreta possível. Esta pressão vem de notícias apuradas por um consórcio de meios de comunicação social no passado domingo, 20, e em que são revelados dados sobre milhares de contas bancárias mantidas no Credit Suisse a partir da década de 40. Esses dados e documentos agora revelados colocam a família real em (muito) maus lençóis. O mundo ficou a saber que o rei Abdullah II e a rainha Rania são titulares de pelo menos seis contas no banco suíço Credit Suisse. O jornal britânico ‘The Guardian’, garante que uma das contas de suas majestades tem um saldo de 215 milhões de euros. Uma quantia demasiado avultada, até mesmo para a realeza.
Entretanto, e perante o escândalo mundial, o rei jordano já negou através um comunicado a notícia do diário inglês. Garante que a notícia não está correta e que a soma avançada é "exagerada", pois ter-se-á somado "os mesmos saldos várias vezes". Lê-se no referido comunicado que a notícia: "Contém informação inexata, desatualizada e enganosa que está sendo utilizada indevidamente com o objetivo de difamar Sua Majestade e a Jordânia e distorcer a verdade".
A família real jordana vai ter de explicar ao pormenor a origem desta colossal fortuna. Assim, no referido comunicado, o rei revela que a maior parte do dinheiro depositado na Suíça procede da venda de um avião Airbus 340 pela quantia de 187 milhões de euros. Este avião terá sido comprado pela família com o dinheiro da venda de um avião do falecido rei Hussein e, entretanto, substituído por um mais pequeno e mais barato. O dinheiro poupado foi depositado para cobrir as "despesas privadas" da família real. Assim, enquanto não se clarifique todo este imenso escândalo financeiro que mancha o reinado de Abdullah II, convém que Rania assuma uma atitude mais reservada, mais dedicada ao seu povo e até mais modesta e menos fútil e gastadora.