
O triunfo de Filipa Martins! Quem é a portuguesa que chega à final dos Jogos Olímpicos depois de superar cinco operações e de admitir ter sido ignorada pelo presidente Marcelo
Ao carimbar o passaporte para a final, jovem foi abraçada pelo namorado, com quem partilha o amor pela Ginástica. É a consagração de uma atleta que nunca desistiu perante as adversidades e quer ser um exemplo para quem lhe pretenda seguir os passos.
Filipa Martins pratica ginástica desde os quatro anos e cedo percebeu que queria fazer carreira no desporto. Ora, esse percurso deu-lhe bagagem para enfrentar não só as dificuldades de uma modalidade que recebe muito pouco apoio público, mas também para fazer face às várias lesões que já teve pelo caminho.
Aos 28 anos, a portuguesa que agora chega à final dos Jogos Olímpicos de Paris na 'All Around' de Ginástica Artística já passou por cinco cirurgias ao tornozelo, que lhe deram novas e variadas cicatrizes, treinou com dor, pagou a fisioterapia do próprio bolso, mas, garante, nunca pensou em desistir.
"Acho que falta muita coisa (à modalidade). Falta uma estrutura de apoio por detrás, falta eu não ter de ir de manhã, à tarde e à noite à fisioterapia por minha conta. Eu sei que isso [corrigir as lacunas] é muito difícil, porque o nosso mundo é bastante pequeno", conta Filipa, natural do Porto, e atleta do Acro Club da Maia.
É a sua terceira participação numa prova como os Jogos Olímpicos e a evolução foi progressiva, até chegar ao topo. Nas últimas competições, elevou sempre a bandeira portuguesa a um novo patamar, atingindo marcos históricos. Ver agora o seu nome a ser repetido um pouco por todo o país (e pelo mundo) acaba, por isso, por ter um sabor especial para quem nunca viveu de palmadinhas nas costas, mas sempre lamentou o pouco apoio que recebia por parte das maiores figuras nacionais.
Por exemplo, quando há três anos, nos Mundiais de Ginástica no Japão, alcançou a sétima posição, a melhor de sempre para Portugal, tendo recebido, inclusivamente um diploma, não calou a sua revolta por não ter recebido sequer uma palavra por parte do presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Na altura, e confrontada pelos jornalistas se tinha recebido um telefonema do presidente da República, a jovem respondeu com ironia: "O nosso desporto não tem uma bola, é mais difícil isso acontecer", disse, lamentando o desinteresse na modalidade. "Há cada vez mais atletas, mas infelizmente acabam por desistir porque percebem que não têm grande futuro. O salário não nos permite viver da ginástica e muitos atletas desistem cedo, porque não recebem quase nada em troca do trabalho que realizam."
No entanto, este ano tudo pareceu já ultrapassado quando Filipa Martins se juntou aos restantes atletas olímpicos portugueses para uma receção no Palácio de Belém. Foi antes de sequer imaginar que, de repente, estaria a disputar o pódio, numa final que decorre esta quarta-feira em Paris.
O APOIO DISCRETO DO NAMORADO
Ao carimbar o seu lugar na final, Filipa não escondeu o orgulho, que se refletia no sorriso aberto e olhos a brilhar, naquele que é o concretizar de um sonho. "Ainda estou um pouco emocionada porque fizemos algo que nunca imaginámos fazer na vida e na ginástica portuguesa. Superámo-nos a todos os níveis e estou muito orgulhosa do nosso trabalho", disse a portuguesa que, no código de Ginástica Artística já conseguiu introduzir um movimento com o seu nome: o Martins.
A seguir ao desafio, a jovem tinha à espera o abraço sentido do namorado, Nelson, com quem partilha a paixão pela ginástica, e a ligação ao Acro Club da Maia.
Discreta em relação ao namoro, a jovem não deixa de partilhar, no entanto, algumas fotografias mais pessoais na sua conta de Instagram, seguida por quase 100 mil pessoas e onde vai paetilhando não só os vídeos das provas, mas também satisfazendo a curiosidade dos fãs em relação aos seus momentos de lazer, que incluem viagens pelo mundo fora.
Estudante do Mestrado em treino desportivo, quer dar seguimento à carreira como treinadora quando a 'reforma' lhe bater à porta, mas até lá sonha inscrever o seu nome entre as melhores da modalidade com uma medalha olímpica. E tem um país a torcer por ela, Marcelo Rebelo de Sousa incluído!