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A vida no "apagão": como ficaria o mundo sem redes sociais e que hábitos antigos poderíamos resgatar?

Foi um "confinamento" diferente. Por seis horas vivemos num mundo em que só quem tinha "seguidores" eram os líderes de um culto. O que revela o "apagão" das redes sobre os nossos hábitos? Especialistas explicam como fazer o detox digital.
Amarílis Borges
Amarílis Borges
07 de outubro de 2021 às 22:38
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
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Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
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Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg, Christopher Wylie
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg
Facebook, Mark Zuckerberg, Christopher Wylie

Alguém 'tropeçou na ficha elétrica' numa das centrais do Facebook na passada segunda-feira, 4, e deixou o mundo fora do ar. Durante seis horas tivemos um gosto do que seria a vida sem redes sociais, sem as aplicações de conversas, e houve até quem falasse no tão esperado bug do milénio.

Para quem tem algum tipo de dependência – sejamos honestos, muitos de nós -, a queda do Facebook, Instagram e Whatsapp gerou vários níveis de ansiedade. "Houve mesmo relatos de períodos de pânico", contou à 'The Mag' a psicóloga clínica Dénis Sousa, especializada em comportamentos aditivos.

"É difícil o controlo do impulso, aquele pequeno hábito motor de pegar no telemóvel, ver as notificações. Então, se se publica alguma coisa, ver qual foi o 'feedback' dos seguidores e dos amigos", afirmou ainda.

Imaginando um cenário em que teríamos períodos prolongados sem estas ferramentas, a psicóloga acredita que "obviamente a irritabilidade [dos utilizadores] iria aumentar, o nervosismo de forma geral, se calhar até com comportamentos mais exteriorizados de alguma agressividade".

"Tive conhecimentos de casos de pessoas que acharam que [o problema] era o próprio telemóvel, ou a falta de Internet, e atiraram o aparelho contra a parede a dizer 'isto não funciona, não presta para nada'. Pessoas que contactavam com outras e mostravam um discurso irritado como consequências de estarem sem as redes, uma inquietação generalizada, a sentirem-se mal porque não conseguiam aceder. Quem fez uma publicação poucos minutos antes da queda teve os níveis de ansiedade maiores porque não tinham o 'feedback', que é o reforço que se procura, por norma positivo, para aumentar a autoestima. Podemos mesmo falar em síndromes de abstinência", explicou Dénis Sousa.

As poucas horas de detox digital de segunda-feira geraram rapidamente uma procura de novos hábitos: uma corrida ao velho amigo Twitter para partilha de sentimentos e a procura por novas app de conversa, como é o caso do Telegram, que nunca registou tantos novos utilizadores como durante o apagão. "Demos as boas-vindas a mais de 70 milhões de refugiados de outras plataformas em um dia. Estou orgulhoso da forma como a nossa equipa lidou com o crescimento sem precedentes porque o Telegram continuou a trabalhar sem problemas para a grande maioria das páginas", disse o fundador da app Pavel Durov.

Mais ao final da tarde já havia utilizadores do Twitter a mostrar os livros que estavam a sair das prateleiras. "De volta à velha leitura quando eu normalmente estaria no Facebook por esta altura da noite… Não leio um livro há imenso tempo", lê-se. "A queda do Instagram fez-me perceber quanto tempo eu costumo passar no Instagram diariamente", diz outro utilizador. "A minha namorada finalmente perguntou como foi o meu dia… Instagram precisa cair mais frequentemente".

Se estes apagões passarem a ser rotina teremos de resgatar (ou repensar) outros hábitos: As fotos voltam ao domínio pessoal, os jantares de amigos perdem o conceito dos retratos de comida, as fake news dependem de certos presidentes no poder e se quisermos ser "seguidos" por um grande número de pessoas temos de liderar algum culto.

"A TECNOGIA A DAR-NOS COLO"

Uma das principais preocupações desta nova realidade de conexão é o sentimento de solidão fora das redes sociais mas também quando estamos online. Um estudo do Ispa - Instituto Universitário, de 2019, com dados pré-pandémicos, revelou que os jovens portugueses que passam muito tempo nas redes sociais se sentem mais sozinhos. Dois anos antes, um inquérito da Universidade Lusófona do Porto chegava à mesma conclusão: quem passa mais tempo online se sente mais só.

Agora, com a experiência do confinamento e um aumento generalizado do tempo online, a psicóloga Ivone Patrão, fundadora do projeto Geração Cordão, que faz campanha para o uso saudável da Internet na adolescência, conta à 'The Mag' como é possível reverter este ritmo de utilização.

"Nós passamos pelo contexto pandémico e só pudemos desfrutar do mundo online, porque não podíamos contatar uns com os outros. Agora, este caminho ao contrário, é mais difícil, também temos que entender. Não foi só ficarmos seis horas sem as redes sociais [na segunda-feira], é que no nosso cérebro também temos esse registo de já estarmos há um ano e meio sem ver pessoas e esta foi a forma de estarmos em contacto com elas", começou a explicar.

Para começar a desintoxicação, "é muito importante olhar para três ou quatro aspetos, sobretudo nas nossas necessidades básicas".

"Primeiro, não dormir com a tecnologia porque precisamos de um sono reparador e não precisamos receber notificações à noite", defendeu a psicóloga, passando depois às situações à mesa. "Não fazermos as refeições com a tecnologia. Ainda por cima agora que podemos estar com os amigos e com a família mais alargada. Experimentar esse lado sem a tecnologia. Uma coisa é usar a tecnologia para mediar uma conversa, para acrescentar, outra coisa é estarmos sentados e cada um com o seu telemóvel".

Para finalizar, "deixarmos de fazer atividades em que andamos com a tecnologia atrás de necessidades básicas: a cozinhar ou na casa de banho. Só estes momentos, se olharmos para eles, já fazemos um detox digital. Andamos tão distraídos que nem percebemos que andamos com a tecnologia ao colo – ou a tecnologia a dar-nos colo".

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