Em julho, o ambiente entre os dois era de cortar à faca. Depois de Donald Trump ter apresentado, na sua candidatura, Elon Musk como uma espécie de braço direito para cortar gastos desnecessários e melhorar a eficiência dos Estados Unidos, e do clima de namoro, que durou meses, o presidente norte-americano e o dono da Tesla zangaram-se precisamente quando as medidas fiscais de Trump começaram a ter impacto direto no bolso do amigo, que não deixava, então, nada por dizer. Furioso com Donald Trump, dizia que as suas atitudes eram "uma vergonha" para todos aqueles que nele tinham votado e que, no seu caso, pessoal já não aguentava mais algo que definia como uma “abominação repugnante”. Perante a chuva de críticas, o presidente dos EUA acabaria por se mostrar "desiludido" com o bilionário, confirmando o corte de relações com Musk, que recebia, então, guia de marcha da Casa Branca.
No entanto, no jantar de gala que assinalaria o dia que Cristiano Ronaldo foi recebido em Washington, a presença de Musk não deixou de ser notada. O que teria, afinal, acontecido para que o dono da Tesla voltasse a ter a passadeira vermelha estendida e logo num momento tão solene. Se dúvidas houvesse de que a amizade com Trump tinha sido dissipada, o presidente confirmou-o de viva voz, garantindo que os dois voltaram a falar ao longo dos últimos meses, unidos precisamente por um acontecimento trágico como foi a morte do ativista político de direita Charlie Kirk, atingido por um disparo, enquanto discursava na Universidade do Utah. No funeral de Kirk, Musk e Trump voltaram à fala, naquele que seria o primeiro indício de que a amizade poderia ter sido reatada.
Curiosamente ou não, a notícia surge numa altura em que Musk – depois de ter sofrido quebras substanciais nas ações da Telsa – regressa aos escaparates pelo facto de a sua fortuna ter voltado a atingir a marca dos 500,2 mil milhões de dólares (cerca de 431 mil milhões de euros), no início do mês de outubro, o que sugere como que um ressurgimento económico do magnata.
O MAGNATA DIAGNOSTICADO COM ASPERGER QUE VIVE NO SEU PRÓPRIO MUNDO
A curiosidade em torno da figura de Elon Musk é imensa e a sua história de vida é, na verdade, digna desse interesse, ajudando, de acordo com psicólogos e especialistas, a explicar parte da personalidade de um homem que não se encaixa socialmente e continua a viver na sua bolha, que é como um refúgio necessário para o diagnóstico de Asperger, dado bastante cedo aos pais do jovem Elon, nascido na África do Sul, numa família com três irmãos e com mais violência do que afetos.
Na sua última biografia, lançada há dois anos, conta-se que Musk cresceu sob o jugo de um pai violento, o que marcaria para sempre a sua existência. Era muitas vezes, também, incompreendido. Aos três anos, a mãe conta que sentiu necessidade de o colocar na creche porque não era raro apanhar o filho a tentar manusear foguetes ou a brincar com coisas inapropriadas para a idade. Mas o seu percurso escolar estava, então, longe de ser considerado promissor.
Musk tinha dificuldade em interagir com outras crianças, não criava relações e, com o avançar da escolaridade, começou a ser gozado, considerado estranho, o mais baixinho, tornando-se num alvo fácil para o bullying. Só que quando chegava a casa não encontrava a tão desejada estabilidade e acolhimento: era uma tortura a dobrar. Levava constantemente tareias do pai, que não tinha pejo em chamá-lo de "atrasado mental" ou "idiota".
As dificuldades em integrar-se no meio escolar geraram preocupação entre os professores, que chamaram os pais de Elon à escola para lhes dizer aquilo que, à época, lhes parecia óbvio: "o seu filho tem um atraso mental", declararam. Era o início de um diagnóstico que mais tarde se fixaria no Aspeger (uma doença do espetro do autismo que afeta as capacidades de comunicação e relacionamento) e que, por mais ou menos acompanhamento, moldaria para sempre a sua personalidade.
Aos 12 anos, Musk revela que já vivia com "muitos demónios na cabeça" e foi por essa altura que revelou as primeiras tendências suicidas. "Fui moldado na adversidade", admite o magnata, que herdou do pai os ataques de fúria, que em diversas situações da sua vida diz não conseguir conter. "Os demónios na minha cabeça são aproveitados, na maioria das vezes, para fins produtivos, mas às vezes as coisas correm mal", admite.
Apesar da sentença que parecia ser esta infância dramática, contra as expectativas da família e professores, foi quando começou a estudar Física que Musk se tornou num aluno brilhante, na universidade, e já liberto do domínio do pai, tendo encontrado também prazer nas festas e na vida boémia. Depois, iniciaria um percurso de sucesso numa empresa de videojogos, que era apenas o início desta escalada até à fama, glória e milhões – a fortuna está hoje estimada em 400 milhões de dólares.
RELAÇÕES TÓXICAS E PELO MENOS 12 FILHOS
Elon Musk chegaria ao topo de uma carreira de sucesso, liderando empresas milionárias e tornando-se no braço direito do novo presidente dos Estados Unidos, mas socialmente a escalada está longe de seguir o mesmo caminho. Como patrão, é considerado "execrável", "pouco humano", desligado dos problemas daqueles com quem trabalha. "Quando alguém não corresponde às suas expectativas ou comete um erro, não tem problemas em humilhar essa pessoa", pode ler-se na sua biografia, onde são descritas as suas "oscilações emocionais imprevisíveis". "É constantemente atraído pela tempestade e pelo drama."
As relações amorosas não fogem a esse padrão. Aos 53 anos, Musk tem 12 filhos, de muitas mães diferentes. Em 2002, Musk teve o seu primeiro filho, mas a chegada ao mundo esteve envolta em tragédia, com o bebé a morrer com apenas 10 meses, vítima de síndrome de morte súbita infantil. Após a perda, Elon e a então companheira, a escritora Justine Musk, recorreriam a uma técnica de fertilização in vitro para voltarem a ser pais, tendo gémeos em 2004, Griffin e Xavier. Este último acabaria por fazer a transição de género recentemente, adotando o nome de Vivian.
Dois anos depois, seriam pais de trigémeos, mas o divórcio aconteceria pouco depois, em 2008.
Entre as relações mais mediáticas e também mais explosivas está o romance com Amber Heard – que mais tarde estaria nas bocas do mundo devido às acusações de violência doméstica contra Johnny Depp. "A maioria das suas relações foram de pura turbulência psicológica, sendo que a mais angustiante foi a que manteve com Amber Heard, que o arrastou para um vórtice de obscuridade. Eram como Batman e Joker", é descrito na sua biografia.
O relacionamento considerado mais estável foi com a artista canadiana Grimes, com quem teve dois filhos. Em entrevista, ela contou que no primeiro encontro amoroso, Musk a levou à fábrica da Tesla e lhe fez um questionário sobre o 'Senhor dos Anéis', mas que os dois se entendiam naquilo que descreviam como e estranho mundo que partilhavam. Tiveram dois filhos e tudo parecia correr bem, até que a cantora foi surpreendida com a notícia de quem em simultâneo, o companheiro era pai de gémeos com Shivon Zilis, diretora de operações e projetos especiais da Neuralink, uma das empresas de Musk.
"Ele quer que as pessoas tenham filhos", sublinhou Shivon Zilis, mãe dos bebés nascidos em 2021, ao autor da última biografia de Musk.
Como pai, diz-se que transmite uma "doçura" acima da média, e uma preocupação acrescida com as crianças que herdaram alguns dos seus traços: tem um filho com autismo e mostra-se especialmente atento a Damian, o mais introvertido, que aos oito anos anunciou que era vegan e é considerado um prodígio da música clássica e da matemática.
Apesar do amor pelos filhos, estes não conseguiram restabelecer totalmente a paz de quem vive num turbilhão de emoções e entre 2017 e 2018 Musk enfrentou talvez a pior tempestade na sua saúde mental, entre a separação de Amber Heard e a notícia de que o pai tinha tinha tido um filho com a enteada. Para enfrentar a depressão, entregou-se de forma obsessiva ao trabalho na Tesla.
Com uma personalidade descrita como fanática, Musk admite ter aprendido a viver com os demónios na sua cabeça e, garante, não espera ser compreendido. "Sei que às vezes digo ou publico coisas estranhas na internet, mas essa é a forma como a minha cabeça funciona. A quem se sente ofendido, apenas quero dizer que reinventei os carros elétricos e estou a enviar pessoas a Marte. Pensavam que ia ser um tipo normal?", questionou.