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Alerta covid! Classe científica em alvoroço: a Ómicron e a teoria da imunização coletiva

Depois de um ano e nove meses de pandemia, a nova variante do coronavírus está a criar polémica na comunidade científica. Ninguém tem certeza de nada. Saiba porquê.
Amarílis Borges
Amarílis Borges
30 de dezembro de 2021 às 22:50
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Os números alarmantes de novas infeções do coronavírus deixaram todos sem fôlego por um instante com as recordações do estado da pandemia em Portugal no final de 2020 e, principalmente, janeiro 2021. Mas o número de casos graves não tem acompanhado o ritmo das infeções, o que tem levantado outras questões na comunidade científica.

Esta quinta-feira, 30, a DGS revelou no seu relatório diário que mais 28.659 pessoas testaram positivo à covid-19, com mais 63 internados, totalizando 1034 pacientes nos hospitais - destes, 144 estão nos cuidados intensivos.

Ao olhar para os números de 30 de dezembro de 2020, enquanto Portugal somava mais 6.049 casos, havia 2.896 internados, que incluíam 487 pessoas nos cuidados intensivos. Se este ano temos mais 25.763 casos confirmados do que no período homólogo, temos também menos 343 pessoas nos cuidados intensivos.

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A comunidade científica já vê as consequências positivas da vacinação em massa contra a nova variante do vírus. Ómicron "parece ser menos severa e muitos pacientes passam relativamente pouco tempo no hospital", disse o professor de Ciências Médicas da Universidade de Oxford John Bell.

No Reino Unido, o país com mais infeções diárias atualmente, e que esta quinta-feira teve mais de 189.200 casos, a preocupação é com a população mais velha e mais vulnerável nos próximos dias. "Tivemos muitos encontros intergeracionais no Natal, então estamos todos à espera para ver se teremos um aumento significativo de casos em relação aos pacientes que estão nos hospitais com casos graves da doença relacionados à Ómicron", afirmou o diretor executivo do NHS Providers (a associação britânica das equipas de saúde), Chris Hopson, à ‘BBC’.

O aumento do isolamento entre os profissionais de saúde também agrava a resposta. Alguns especialistas britânicos prevêem que 40% dos profissionais de saúde de Londres possam entrar em isolamento.

AINDA A IMUNIDADE DE GRUPO

Em Portugal, ouvimos esta semana a hipótese de testarmos a polémica teoria da imunidade de grupo. O epidemiologista Manuel Carmo Gomes afirmou que a elevada transmissibilidade da variante Ómicron, combinada com os números baixos hospitalizações, poderão levantar aquela hipótese.

"Se realmente é muito menos grave do que a Delta em populações muito vacinadas, como é a nossa, talvez faça mais sentido deixar que as pessoas se imunizem naturalmente", disse o investigador, sublinhando: "Nunca advoguei teorias de imunidade de grupo por infeção natural, mas estamos numa situação completamente diferente, com a população praticamente toda vacinada e uma variante que, para já, não parece ser muito preocupante em hospitalizações", disse à ‘Lusa’.

Manuel Carmo Gomes quer ainda esperar para ver como serão os próximos dias no Reino Unido e na Dinamarca, antes de defender a teoria.

"Ainda é uma doença endémica epidémica, porque ela gera grandes subidas, muito anormais, como neste caso que estamos agora a assistir. Diria que ela não estabilizou a sua dinâmica, ainda tem muito 'combustível' para consumir e vai levar algum tempo até que nós consigamos perceber que tipo de endemismo é que vamos ter", disse.

CAUTELA, CAUTELA, CAUTELA 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) não partilha do otimismo de parte da comunidade científica e lançou esta quarta-feira, 29, uma nota de cautela afirmando que ainda não existem dados suficientes sobre a Ómicron nos casos mais vulneráveis.

Trata-se de uma resposta aos resultados de um novo estudo da África do Sul que sugeriu que a Ómicron era cerca 70% ou 80% menos severa do que a variante Delta.

O gestor da OMS para as ocorrências da covid, Abdi Mahamud, alertou que a população na África do Sul, e alvo do estudo, é muito mais jovem que em muitos países. "Como a variante comporta-se em pessoas mais velhas, e entre os mais vulneráveis, ainda não sabemos", apontou, citado pela 'Fortune'.

Além disso, não só a população sul-africana é mais jovem como há um grande número de cidadãos daquele país com anticorpos por terem contraído a doença anteriormente, acrescentou o diretor executivo da OMS para emergências, Mike Ryan.

Outros dois estudos preliminares que estão a ser realizados no Reino Unido sobre a Ómicron também apontam para uma forma mais leve da doença, em comparação com infecções Delta. A OMS reagiu com a mesma cautela, alegando que os dados são difíceis de interpretar nesta fase devido às altas taxas de vacinação na Europa.

"Sinto-me um pouco nervoso a fazer previsões positivas até vermos quão bem a proteção da vacina vai funcionar nos mais velhos e na população mais vulnerável", declarou Ryan.

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