
Sempre que se fala no príncipe André fala-se também no filho preferido da rainha Isabel II. Dos quatro que tem: Carlos, Ana, André e Eduardo, diz-se que a monarca britânica se sente muito mais próxima daquele que nasceu quando ela já tinha sido aclamada rainha. Esta cumplicidade vem desde sempre e não é, garantidamente, por André a ter poupado a desgostos. Pelo contrário, terá até sido aquele que mais lágrimas a fez derramar, aquele que tantas vezes a colocou em apuros e envergonhou. Mas Isabel II – tida como uma mulher dura e pouco afetuosa – nunca deixou de passar a mão pela cabeça do filho e relevar tudo o sofrimento que ele lhe provocou.
Mas vamos ao início, a 1960, ano em que André nasceu. Como já dito, o terceiro filho de Isabel e Philip nasceu quando já ela estava sentada no trono de Inglaterra. O príncipe nasceu após as incontáveis viagens que a monarca fez pelo mundo, em particular pelos países da Commonwealth para se apresentar como rainha. Após o nascimento do bebé, a rainha tirou mais tempo para a família e dedicou-se aquela criança como nunca se tinha dedicado a Carlos ou a Ana, os dois mais velhos. Terá sido até ela a ensiná-lo a ler e a escrever, tal era a sua dedicação ao menino. "Ela nunca teve disponibilidade para se dedicar nem a Carlos, nem a Ana. As suas obrigações com a coroa não lhe permitiram isso", esclareceu Richard Fitzwilliam, especialista em temas da família Windsor.
Esta cumplicidade entre a rainha e André tem, segundo a análise de vários especialistas em assuntos da realeza, uma explicação muito clara. Pouco antes de engravidar pela terceira vez, a monarca britânica enfrentou fortes rumores de que o seu casamento estava em crise. O falatório era tão grande e tão insistentes que palácio de Buckingham – contra a tradição – teve de emitir um comunicado a desmentir esses rumores. Pouco depois, nasce André que passa a ser o símbolo de força de um casamento que renasceu. "Com André, a rainha sempre teve uma afinidade particular", afiançou Fitzwilliam à cadeia CNN. Já Lady Colin Campbel, biógrafa da família real, corrobora essa teoria de proximidade: "Acredito que essa relação especial que existe entre mãe e filho nasceu nesse mesmo momento, ou seja, a partir do momento em que a rainha associou André ao reinício do seu casamento".
REFORÇO DA CUMPLICIDADE ENTRE MÃE E FILHO
Até na escolha do nome este bebé se revelou muito especial. Recebeu o nome do avô paterno, o príncipe André da Grécia, conforme realça ainda Lady Colin Campbell. Além do mais, foi o primeiro dos quatro filhos do duque de Edimburgo a ser batizado com o apelido Mountbatten-Windsor. Algo muito importante para o príncipe Philip, pois até ali os filhos de uma rainha nunca tinham recebido o nome do pai. Com o nascimento de André, a monarca acedeu finalmente ao pedido do marido. Hoje, até os netos do casal ostentam o mesmo apelido: Mountbatten-Windsor.
Depois há um outro momento que reforça ainda mais a proximidade entre mãe e filho. Foi em 1982 quando André assumiu as suas responsabilidades e alinhou ao lado das forças militares inglesas na guerra das Maldivas. Apesar de todo o orgulho que sentiu pela coragem e dedicação do filho, este foi um tempo terrível para a rainha Isabel II. Ela não conseguia esquecer que três anos antes, o IRA [Organização nacionalista irlandesa, clandestina e de carácter militar] havia assassinado o lorde Mountbatten e, conforme veio a saber-se, a ditadura militar argentina chegou a planear matar André na ilha de Mustique. A par destes planos, é evidente que enquanto o filho esteve longe de casa a rainha andou sempre com o coração nas mãos: "Foi uma época horrível para a rainha, que só conseguiu respirar de alívio quando o príncipe André regressou são e salvo", recordou o conhecido biógrafo Andrew Morton. "Onde quer que vá, a rainha continua a fazer-se acompanhar de uma fotografia do filho tirada no dia em que este regressou da guerra".
Além de um herói de guerra, André passou a ser um dos solteiros mais cobiçados da Grã-Bretanha até se ter cruzado com Sarah Ferguson. Os dois apaixonaram-se e o casamento realiza-se no dia 23 de julho de 1986, na imponente Abadia de Westminster. Apesar de "torcer o nariz" à noiva, Isabel II acabou por fazer a vontade a André e dá a sua bênção a esta união. O amor entre os dois foi suficientemente forte para fazer frente a tanta oposição, mas rapidamente se percebeu que ‘Fergie’ (como a noiva era carinhosamente conhecida) tinha o mínimo respeito pelo protocolo real. Ela era o oposto da cunhada, a tão amada princesa Diana. E sim, Isabel II tinha razão: Sarah Ferguson mostrou que não era a mulher ideal para estar ao lado de André.
UM PROBLEMA CHAMADO 'FERGIE'
O escândalo da traição foi a gota de água para a rainha que obrigou o filho a divorciar-se. O duque de York ainda ponderou desculpar a mulher, mas Isabel II, desta vez, opôs-se. Explicou-lhe que as suas prolongadas ausências devido ao seu trabalho como piloto da Força Aérea ou em missões ao serviço da Marinha não era razão para Fergie ter feito o que fez e ser apanhada por um tabloide numa situação muito indigna com o multimilionário texano Steve Wyatt.
Conheceram-se quando estava grávida da sua segunda filha, em 1989, no festival britânico de ópera de Houston. Em março de 1992 os duques de York anunciaram a sua separação. Mas daí em diante, André não fez nada do que a mãe o aconselhava a fazer, como por exemplo deixar de ter uma relação muito próxima com a ex-mulher e mãe das suas filhas. Contra tudo e contra todos, em 2008 os dois decidiram inclusivamente a viver juntos, o que tanto desiludiu a rainha, que percebeu nessa altura que André nunca mais voltaria a refazer a sua vida sentimental. Logo ele, que no passado tinha sido um verdadeiro galã, saltando de namorada em namorada. Atualmente, o ex-casal continua a viver sob o mesmo teto em Royal Lodge en Windsor. Mas ainda assim, a rainha não quer ter nada a ver com Sarah que, regra geral, é persona non grata nas reuniões de família.
Mas o pior ainda estava guardado. A monarca de Inglaterra tem um imenso choque quando vê o nome do seu filho envolvido num dos maiores escândalos sexuais a envolver a realeza, o "Caso Epstein". O duque de York que, esteve quase a sentar-se no banco dos réus (algo nunca visto entre os membros mais importantes da realeza inglesa) não fosse o acordo feito esta semana, foi acusado de abuso sexual de uma menor. As acusações são feitas por Virginia Giuffre, que afirma ter sido forçada em 2001 a posar ao lado do membro real e que este a obrigou a ter relações sexuais. Na sequência desta imensa vergonha para a rainha, André vive os dias mais complicados da sua vida devido à acusação de violação, assédio sexual e de participar numa rede de tráfico de mulheres. Isabel II foi pressionada por todos os lados a retirar todos os títulos reais e militares ao filho que deixou de ser tratado por 'Alteza Real'. Obrigou-o a retirar-se da vida pública e fez-lhe notar que deixaria de ter acesso a dinheiro público.
E já que falamos de dinheiro, a monarca foi ainda confrontada com falcatruas financeiras de André. O nome do príncipe está também envolvido num outro caso que não é muito favorável à sua imagem. Em dezembro passado o ‘Mail on Sunday', expôs uma troca de e-mails potencialmente embaraçosa entre o Duque de York e o Palácio do príncipe de Mónaco. Percebe-se que o filho de Isabel II usou as suas relações de amizade para ajudar David Rowland a abrir um banco em Monte Carlo. Este tráfico de influências terá a ver com uma dívida de 1,5 milhões de euros contraída por André no banco Havilland do Luxemburgo.
E já que o assunto é milhões, os jornais ingleses andiantam que, afinal, Isabel II irá ajudar o príncipe André a pagar o acordo extrajudicial com Virginia Giuffre. A rainha quer ver este assunto encerrado e decidiu ajudar, embora já tinha dito que não o faria. Mas quando se trata de André, ela tende sempre a recuar. Por alguma coisa ele é, efetivamente, o seu filho preferido.