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As revelações arrepiantes de David Miller, dos Il Divo, 7 meses depois da perda de Carlos Marín: “Pensámos em desistir… morreu o melhor de nós os quatro”

Grupo está de regresso a Portugal numa altura em que ainda chora e sofre pela morte do cantor e amigo Carlos Marín, em Dezembro do ano passado vítima de Covid-19. Atuam este sábado no Multiusos de Gondomar e no Domingo na Altice Arena, em Lisboa, nas mesmas salas onde deveriam ter atuado no final de 2021, (os concertos foram cancelados ainda com Marín em coma).Urs Bühler, Sébastien Izambard e David Miller apresentam-se agora com um cantor convidado Steven LaBrie, mas sem esquecer Marín. Ainda com o coração em sangue, Miller fala à The Mag do drama da perda, da dor, da difícil tarefa de voltar aos palcos e das memórias que ficam.
Miguel Azevedo
Miguel Azevedo
21 de julho de 2022 às 22:53
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Andavam os Il Divo a preparar uma nova digressão mundial de apresentação do último disco ‘For Once in My Life’ (nessa digressão estava incluído Portugal), quando a pandemia apareceu e obrigou o mundo a parar. O grupo recolheu a casa para cumprir com as restrições e os confinamentos impostos, mas ainda mal podendo adivinhar a avalanche que estava por vir. David Miller, um dos elementos do grupo, reconhece que as coisas até "começaram de forma muito calma" e que do ponto de vista artístico se revelaram mesmo "estranhamente" proveitosas. "Tirando o facto de termos parado de dar concertos e de termos sido obrigados a nos afastar dos palcos, comecei a trabalhar num disco a solo de ópera", conta o cantor à The Mag. "Claro que foi estranho porque fazia tudo por skype, mas foi um processo ao qual me adaptei. As coisas até parecia que corriam com alguma tranquilidade".   

Mas o impacto do "novo normal" não levou muito tempo a fazer-se notar. Miller sentiu-o na saúde dos que lhe estavam mais próximos mas também na saúde financeira. Ele e a mulher, viram partir "um tio vitima da Covid-19" e tiveram de "esticar o dinheiro para o fazer render", desabafa.

No final de 2021, quando o mundo começou a abrir-se e os espetáculos começaram a realizar-se novamente, os Il Divo voltaram à estrada e até conseguiram fazer dois espetáculo de Natal, um em Espanha e outro no Reino Unido, mas depois veio a avalanche. Carlos Marín, o cantor mais velho do grupo, contraía o vírus, aos 53 anos. "Quando achámos que podíamos voltar à vida real ele adoeceu. Foi um choque". No dia 7 de Dezembro, Carlos dava entrada num Hospital de Manchester em estado crítico. Os médicos tiveram de entubá-lo e colocá-lo em coma induzido. Viria a morrer 12 dias depois, a 19 de Dezembro. A noticia caiu como uma bomba no mundo do espetáculo.  

O advogado do cantor, Alberto Martín explicaria que Carlos, apesar de estar vacinado, "esperou muito tempo antes de ir ao hospital" com a esperança de conseguir recuperar sozinho, sem apoio médico. "E isso não foi bom", disse. Já a irmã, Rosa Marín, revelaria que Carlos tinha sido vítima da variante Delta e sofrido complicações resultantes ainda de uma pneumonia que tinha tido em 2019. Quando chegou ao hospital, o cantor já tinha "os pulmões muito comprometidos e apesar de ter recebido o melhor tratamento, eles não conseguiram melhorar", disse.

Nas ultimas horas de vida, Carlos Marín esteve sempre acompanhado por um familiar que lhe segurou na mão "até que a sua luz se apagasse", garantiu Rosa. Carlos foi a enterrar em Espanha "vestido com o seu fato Armani preferido, que usou em várias atuações, para ir para o céu apresentável para cantar com os anjos", revelou a irmã. 

 

Como está a ser este regresso aos palcos, olhar para o lado e perceber que o Carlos já não estava mais a cantar convosco?

É muito difícil. Curiosamente, os ensaios, no inicio, até nos ajudaram bastante, porque foram tão trabalhosos que nem nos deram tempo para processarmos tudo o que nos tinha acontecido, a nossa dor e o nosso luto. Estávamos tão focados nos ensaios, até pela pressão e expectativa que existia dos fãs, que acabámos por reter as nossas emoções. Só que no primeiro concerto, acabámos por cair em nós. Estávamos nos bastidores por detrás das cortinas, já com a música a tocar, quando percebemos, pela primeira vez, da forma mais realista possível, que o Carlos não ia estar connosco. Aí perdemos o controlo e chorámos. É muito difícil cantar sem ele, embora a cada noite que atuamos é sempre um bocadinho menos doloroso. 

Mas há momentos em palco mais difíceis do que outros?

Sim. Há uns meses tivemos um concerto no Japão, que acho que foi o primeiro, depois do regresso, que conseguimos fazer sem nos desmancharmos emocionalmente. Senti que as nossas vozes estavam de volta, encaixadas umas nas outras e senti também que, de alguma forma, estávamos a ajudar o público a ultrapassar o drama. Estávamos a respirar de novo. Só que depois veio Espanha [terra natal de Carlos Marín]. Tocámos em Valência e Madrid e parece que o Carlos estava por todo o lado. Especialmente em Madrid tudo nos fazia lembrar dele. E de repente tudo voltou a ficar mais difícil.

"Estávamos nos bastidores por detrás das cortinas, já com a música a tocar, quando percebemos, pela primeira vez, da forma mais realista possível, que o Carlos não ia estar connosco. Aí perdemos o controlo e chorámos. É muito difícil cantar sem ele"

Nas circunstâncias em que Carlos morreu, as despedidas ficaram por fazer?

Sim. O início foi horrível para nós e foi devastador, não só pelo facto de o termos perdido mas também por não termos podido ir ao seu funeral e estar com ele num último momento.  O Sébastian e o Urs também apanharam Covid e tivemos de ficar todos afastados uns dos outros. Não podemos estar nem sequer com a família dele. Lidámos com aquilo tudo sozinhos. 

De que é que sente mais saudades do Carlos?

Há muitas coisas das quais eu já sinto saudades. Para começar, o Carlos era um cantor fenomenal. Antes dos Il Divo, eu cantava em grandes casas de óperas pelo mundo e cantei com alguns dos melhores, mas o Carlos estava no top três dos melhores barítonos que conheci em toda minha carreira. E trabalhar com um artista daquele calibre foi um privilégio para mim. 

E consta que era um homem com um enorme sentido de humor!

Sim. Ele tinha um sentido de humor muito peculiar. Claro que, como qualquer família, ou banda, nós também tivemos os nossos altos e baixos, mas sempre resolvemos os nossos problemas com humor e, nesse aspeto, ele era um mestre a fazê-lo. Recordo-me que quando andávamos em viagem e chegávamos cansados aos destinos, ele tinha sempre uma piada para dizer. E fazia-o sempre no momento perfeito. 

"O início foi horrível para nós e foi devastador, não só pelo facto de o termos perdido mas também por não termos podido ir ao seu funeral e estar com ele num último momento."

É verdade que ele era uma espécie de mentor do grupo, um "pai" para todos?

Sim, ele era muito inteligente como homem de negócios e fez muito pela nossa empresa. Ele era, sem sombra de dúvidas, de nós os quatro, aquele que tinha mais experiência, também por ser o mais velho. Era o melhor. Sabia tudo sobre o negócio, como fazer um contrato e de tudo aquilo que nós precisávamos. Estava sempre a dar-nos bons conselhos. Mas é preciso dizer que ainda era uma estrela em ascensão.

Alguma vez pensaram em desistir e terminar com o projeto?

Houve sim uma altura em que pensámos que era o fim, porque nem sequer equacionávamos a possibilidade do projeto se transformar num trio. Questionámo-nos muito sobre o que fazer, se seguíamos em frente ou se era melhor terminar com os Il Divo. Mas depois fomos recebendo, nas redes sociais, comentários de fãs de todo o mundo a implorar-nos para seguir em frente e isso deu-nos o alento e a força que precisávamos. 

Vocês surgem agora com um cantor convidado. Foi difícil ocupar o lugar do Carlos?

Sim, mas tinha de ser feito. Todas as canções têm uma componente muito forte da voz do Carlos que nós não temos, aquele tom barítono poderoso. E portanto tudo teria que ser reconfigurado. Foi então que surgiu a ideia de ter um cantor convidado para cantar as suas partes. A determinada altura percebemos que era uma peça do puzzle que tínhamos que encontrar.  

Il Divo
Il Divo Foto: getty images

E como surgiu este novo cantor, o Steven LaBrie?

Nós falámos com diferentes cantores até ao dia em que chegámos ao Steven. Ele é meu amigo e há dez anos que trabalhamos juntos em espetáculos de ópera. Eu sabia que ele tinha na voz o poder que precisávamos. Só faltava saber se ele queria cantar as músicas dos Il Divo. Há muitos cantores de ópera que não querem cantar mais nada se não ópera. Só que na primeira conversa que tivemos ele disse-nos: "Vamos lá tentar". E acabou por ser revelar uma pessoa extraordinária, porque ele não faz isto para projetar o seu nome ou a sua carreira mas apenas para ajudar o nosso grupo. 

E que espetáculo é este que trazem agora a Portugal?

A ideia original, ainda antes de tudo acontecer, era fazer uma digressão de apresentação do nosso novo disco, 'For Once In My Love', gravado há dois anos. Era um disco que dava uma volta muito grande naquilo que era o projeto Il Divo. Havia, aliás, uma enorme positividade à volta desse disco. Depois de tudo o que aconteceu, claro que não podíamos iniciar uma digressão normal. Tudo teve que ser repensado e rapidamente percebemos que todo o espetáculo tinha que ser montado à volta do Carlos.  

E em que é que isso se sente?

Para começar, cada canção que escolhemos tem uma ligação sentimental ao Carlos, ou porque era a sua preferida ou porque é a canção que nos levou a descobrir a magia de cantarmos juntos, etc. E depois durante o espetáculo passamos muito tempo a contar histórias sobre o Carlos e sobre aquilo que ele significava para nós. Queremos que o público saia da sala a lembrar-se dele, da excelente pessoa que era e da vida fantástica que teve.      

Vocês já passaram outras vezes por Portugal. Que memórias guardam?

Já estivemos em Portugal várias vezes, e não me recordo de uma única vez que não tenha sido inesquecível, até porque o público é sempre muito afável. Em Portugal acontece-nos sempre uma coisa muito engraçada. Como nenhum de nós fala português, quando temos que nos dirigir ao público perguntamos sempre se querem que falemos em inglês ou espanhol e as pessoas acabam sempre por se dividir. Mas é sempre muito interessante interagir com o público português. E já houve alguns dias em que conseguimos passear pela cidade e é sempre uma grande experiência. 

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