'
THE MAG - THE WEEKLY MAGAZINE BY FLASH!

De casal pop a heróis da resistência ucraniana: Volodymyr Zelensky e Olena, o ex-comediante e a 'capa da Vogue' que viraram o jogo e fazem História

Presidente da Ucrânia desde 2019, tinha a sua popularidade em queda até à madrugada da passada quinta-feira. Desde então, as ações do presidente ucraniano são hoje encaradas como um exemplo incontornável da perseverança que representa a postura do povo da Ucrânia perante a invasão promovida por Vladimir Putin. Conheça o seu percurso e o da mulher-maravilha a seu lado, que já conquistaram o mundo.
Afonso Coelho
Afonso Coelho
03 de março de 2022 às 23:59
volodymyr Zelensk, Olena Zelensk
volodymyr Zelensk, Olena Zelensk
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
pub
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
pub
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
pub
volodymyr Zelensk, Olena Zelensk
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky

"A luta é aqui. Preciso de munições, não de uma boleia." A resposta do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky ao convite norte-americano para ser retirado do país em plena invasão russa ficará para a história como um mote de resistência que representa a inabalável reação de todo o povo ucraniano desde a madrugada do dia 24 de fevereiro, quando viram a sua nação a ser alvo de uma investida por parte da Rússia de Vladimir Putin.

O passado de Zelensky, hoje com 44 anos, como comediante foi o principal ponto de atenção do Ocidente quando este chegou ao poder em 2019, levando até a comparações entre o seu percurso e o de Donald Trump, à altura ainda presidente norte-americano. No entanto, esta terça-feira, numa entrevista à 'CNN' a partir do bunker em Kiev onde tenta resistir ao poderio militar russo, Zelensky frisou que a situação atual "não é um filme" e que, portanto, é para ser levada muito a sério, enquanto líder do país.

DA TELEVISÃO À POLÍTICA 

Filho de pais judeus, licenciou-se em Direito na universidade de Kryvyi Rih, cidade onde nasceu quando esta ainda era soviética, não antes de começar a sua carreira na comédia através do grupo "Zaporizhia-Kryvyi Rih-Transit", que venceu a competição de humor russa KVN em 1997, criando depois a equipa Kvartal 95, que se tornou numa produtora de programas para canais ucranianos. Em 2006, participou e venceu a primeira edição do programa ‘Dança com as Estrelas’, na Ucrânia, ao lado da dançarina Olena Shoptenko.

A partir daí, teve uma carreira de sucesso também enquanto ator. Protagonizou várias comédias românticas, quer produções russas, nomeadamente ‘Lyubov v bolshom gorode’ (algo como ‘Amor na grande cidade’) e a sequela – a última nem sequer foi exibida na Ucrânia, devido à proibição de filmes russos que estava a ser promovida na altura pelo governo local e relativamente à qual Zelensky se mostrou frontalmente contra – quer, posteriormente, em co-produções russo-ucranianas, como ‘8 pervykh svidaniy’ (‘8 Primeiros Encontros’), de 2012.

Também na animação deu cartas, tendo dado voz ao urso Paddington na versão ucraniana dos dois filmes, em 2014 e 2017, até que teve o seu maior e último sucesso, a série ‘Sluha Narodu’ (‘Servidor do Povo’ em português), no qual interpretou um professor de História de uma escola secundária que acaba eleito presidente do país, antecipando o percurso que iria trilhar na vida real, e que haveria de dar nome ao partido com o qual chegou à presidência.

Efetivamente, foi em 2019 que Zelensky derrotou o à altura presidente Petro Poroshenko, nas eleições presidenciais ucranianas, com uma percentagem de 73,22%. Não demorou muito até enfrentar o primeiro grande obstáculo: a pandemia de covid-19 trouxe severas consequências económicas e mais de 100 mil mortes oficiais, que podem ter sido até cerca de 170 mil, de acordo com um relatório da OCDE.

Parece algo impensável nesta altura, mas a popularidade de Zelensky entre os ucranianos estava de facto em queda livre nos tempos que antecederam a invasão russa. Numa sondagem do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev datada do início de fevereiro, apenas 23% dos inquiridos afirmaram que votariam em Zelensky nas próximas eleições. Entre as críticas apontadas, encontrava-se o falhanço em cumprir a promessa eleitoral de acabar com o nepotismo nas instituições públicas ucranianas, após ter indicado Ivan Bakanov, um amigo seu de infância que trabalhou consigo em televisão, como presidente dos serviços secretos da Ucrânia, assim como o facto de não ter conseguido um compromisso com Vladimir Putin para assegurar a paz na região disputada do Donbas, outra das suas promessas eleitorais.

Importa ainda referir que, nos famosos Panama Papers, os nomes de Zelensky e Bakanov surgiram ligados a uma rede de empresas em offshores.

Contudo, a reação à invasão por parte dos homens de Putin mudou tudo e, devido às suas ações de resistência durante o conflito que se desenrola na Ucrânia, a taxa de aprovação dos ucranianos em relação a Zelensky está já nos 90%, segundo uma sondagem conduzida pelo Ratings Sociological Group entre 26 e 27 de fevereiro. É seguro dizer que, neste momento, não haverá ninguém em quem os ucranianos mais confiam para liderar os destinos do país pelo qual batalham, com as suas ações de heroísmo a ofuscarem todos os problemas previamente referidos.

A PRIMEIRA-DAMA QUE QUERIA MUDAR A UCRÂNIA

Na faculdade em Kryvyi Rih, Zelensky apaixonou-se por Olena Kiyashko, hoje Zelenska, com quem namorou durante oito anos antes do casamento em 2003, do qual são frutos dois filhos: Aleksandra, hoje com 17 anos e que chegou a contracenar com o pai no cinema, e Kyrylo, com 9. Apesar de ter começado numa carreira em arquitetura, Olena rapidamente se virou para a escrita, tendo ajudado Zelensky durante o seu percurso na comédia, enquanto guionista.

Inicialmente contra a incursão de Zelensky na política, Olena tornou-se numa primeira-dama marcante, reconhecida pelas suas escolhas estilísticas. Foi inclusive capa da ‘Vogue’ ucraniana, em 2019: "A forma como te vestes e te apresentas não fala apenas por ti, mas também pelo teu país e por aquilo que te propões a alcançar. O presidente e eu queremos sempre representar a Ucrânia de uma forma positiva e forte. É um reflexo das nossas ações e valores e é uma forma de promover os designers ucranianos e a nossa indústria da moda, assim como de dizer mais ao mundo sobre a Ucrânia, o que fazemos e o que oferecemos", referiu numa entrevista à ‘Diplomatic Courier’, em setembro.

No papel de primeira-dama, Olena tem-se mostrado focada na vertente da justiça social, tomando uma posição que visa a promoção da igualdade de género no país: "Escolher uma profissão ou um hobby é um direito inalienável para todos. Eu gostava que todas as raparigas e todas as mulheres acreditassem em si mesmas e não deixassem que os estereótipos as impeçam de cumprir os seus sonhos. Somos livres para escolher o que queremos ser", disse num vídeo apresentado pelo Fundo de População das Nações Unidas em março de 2021, tendo também sido responsável pela adesão do país à Parceria de Biarritz, uma iniciativa da cimeira do G7 enquadrada neste âmbito.

Igualmente a favor do multiculturalismo na Ucrânia, Olena Zelenska convidou, no mesmo mês, 12 mulheres ucranianas de etnias distintas para uma reunião relativa à campanha ‘Svoya’, onde todas elas explicaram os desafios que encontram num país com muito caminho a trilhar no que se refere à eliminação dos vários tipos de discriminação, problema apontado em várias análises relativas à Ucrânia.

Desde o início do atual conflito, Zelenska tem estado ativa nas redes sociais, através das quais tem partilhado vários conselhos  para a população ucraniana, embora, por motivoss de segurança, não tenha sido difundida a sua localização, nem a dos seus filhos. Sabe-se que se encontra ainda na Ucrânia, onde, como todos os seus conterrâneos, tenta evitar ao máximo que a sua pátria seja engolida por uma das maiores superpotências mundiais.

Este foi, aliás, o desejo que demonstrou na sua primeira declaração após a madrugada da passada quinta-feira: "Hoje não vou chorar nem ficar em pânico. Vou estar calma e confiante. Os meus filhos estão a olhar para mim. Eu vou estar junto a eles. E junto ao meu marido. E com vocês. Eu amo-vos! Eu amo a Ucrânia"

você vai gostar de...


Subscrever Subscreva a newsletter e receba diariamente todas as noticias de forma confortável