
Se Cristina Ferreira é considerada a Oprah Winfrey portuguesa, se o percurso das duas pode ter diversos paralelismos ao longo da carreira, então não é descabido afirmar que, no futuro, a apresentadora da TVI poderá, de alguma forma, inspirar-se naquilo que a estrela internacional tem feito para garantir que os seus milhões continuam a multiplicar-se, ao mesmo tempo que dá vida àquilo que gosta: comunicar, mas em pista própria.
A bilionária, que já tinha o seu próprio canal de comunicação, lançou agora mais uma extensão desse projeto: o seu podcast, onde dará largas às conversas que considere mais pertinentes, numa série de entrevistas semanais. Em 'Oprah Super Soul', a norte-americana usa a sua influência para ter conversas com rostos mediáticos dos mais quadrantes da sociedade e falar de temas que estão na ordem do dia. Além disso, tem o seu próprio clube do livro, que agora também ganha vida própria através de uma parceria com a Starbucks que chega ao Youtube.
Aos 70 anos, Oprah soube criar o seu próprio castelo sem depender de terceiros, algo em que, na verdade, Cristina Ferreira se revê. Apesar de estar vinculada a uma estação forte, há vários anos que a estrela começou a trilhar o seu caminho por conta própria, e sem medo de errar. Quando ainda pouco se falava de blogs e ainda mais com espaços de autor, ela criou o seu 'Daily Cristina', onde partilhava um pouco o seu mundo dentro e fora dos ecrãs.
De lá para cá, já teve vários projetos em nome próprio, entre os quais a revista, uma marca de sapatos e há mais de um ano deu vida a talvez o seu desafio mais arrojado: as palestras pessoais. O arranque voltou a dar-lhe aquele friozinho na barriga. Se parecia ambicioso encher uma sala como a MEO Arena, Cristina conseguiu fazê-lo e, melhor, repetir a dose e fazer tudo outra vez.
Um sonho tornado realidade para quem tem sempre a cabeça a fervilhar de ideias e desafios e já assumiu que, no futuro, pode ser muito bem feliz a trabalhar longe dos holofotes mediáticos. "Gosto genuinamente de criar, de fazer acontecer, muito para lá de ser apresentadora. As pessoas perguntam-me: no dia em que eu deixar a televisão, como é que vai ser? Eu adoro o que faço, acho que teria muitas saudades de entrevistar pessoas. Mas estou preparadíssima para trabalhar só em bastidores. É tão bonito ver nascer projetos e entregá-los a outros", afirmou recentemente, mostrando não estar dependente de massagens ao ego ou das purpurinas da fama.
O desencantamento deu-se quando regressou à TVI depois da curta passagem pela SIC. Cristina superava então todas as suas marcas: voltava a 'casa' com um salário que batia todos os recordes, mexia com o mercado de transferências, e abanava uma sociedade muito patriarcal ao destronar, na lista dos mais bem pagos, aquele que tinha sido o seu 'mestre', Manuel Luís Goucha. Mas ao invés dos aplausos e do fogo de artifíco, a estrela levou o primeiro grande soco no estômago, em cheio.
"Fui amada por um país durante muitos anos, e quando decido voltar para a TVI, eu não estava a fazer mal a ninguém… Só queria voltar a um sítio onde estava bem. Porque já não estava feliz onde estava e tinha tido uma proposta irrecusável. Mas as pessoas não perceberam, e magoaram-me. Eu não estava todos os dias no ar, as pessoas não me viam. Lá está: não me sentiam. Só quando voltei a estar diariamente com elas é que perceberam que a Cristina continuava ali, igual, como sempre", afirmou.
De alguma forma, tudo o que de lá para cá aconteceu faria com que Cristina olhasse mais para trás, se reconectasse com o essencial, fosse mais Malveira e menos dos luxos e da vida palpitante que fervilha nas redes sociais. A derradeira metamorfose deu-se quando se voltou a apaixonar, pelo tenista João Monteiro. Algo muito desejado que a apresentadora receberia com uma renovada humildade.
Se quando regressou à TVI, Cristina era acusada de ter tirado os pés no chão deixando-se deslumbrar pelo seu estatuto de estrela, em boa hora fez marcha-atrás-
O FUTURO INCERTO NA TELEVISÃO
As trocas de estação colocaram também Cristina Ferreira diante de uma realidade que ela só conhecia por ver acontecer aos outros: a televisão é efémera, a fama que ontem era hoje pode já não ser e tanto estamos lá em cima, a acenar ao 'comum dos mortais', como de repente estamos ao lado deles, entre críticas e o clássico 'de bestial a besta'. A apresentadora recebeu então o ensinamento de não dar por garantido e a certeza de que, enquanto estamos inseridos num projeto, haverá sempre mais manobras e jogos de bastidores do que aquelas que possamosqa controlar.
Apesar de no regresso à TVI ter sonhado fazer uma televisão à sua maneira, Cristina deparou-se com obstáculos, esbarrou em José Eduardo Moniz, teve de se adaptar às constantes mudanças de realidade, aos braços de ferro, à consciência de que, afinal, o poder que lhe tinham dado, não era assim tanto, mas no futuro estará em condições de fazer, finalmente, a televisão com que sempre sonhou, tudo no seu devido tempo.
Se Oprah chegou lá aos 70 anos, Cristina, de 47, pode ainda ter um longo caminho pela frente.