
Qual é o passatempo preferido da imprensa tabloide britânica? Encontrar os podres de Meghan Markle. Não, não estamos a exagerar. Os ingleses adoram esta novela, com personagens principais que podem amar ou odiar e ainda não "engoliram" aquela fuga de Harry para os Estados Unidos, para viver um romance de conto de fadas ao lado da atriz americana por quem se apaixonou e que não faz o menor esforço para parecer simpática com "the firm" – a forma amorosa com que se refere à família real.
O diário 'The Sun', por exemplo, criou uma área própria no jornal chamada 'Meghan Latest' onde passa revista a tudo – mas mesmo TUDO – o que vai acontecendo do outro lado do Atlântico com a "megera" – como a tratam os mais conservadores, que tomam para eles as dores da rainha Isabel II, a quem não tinha chegado já uma Diana que quis o divórcio do seu rico filho, Carlos, como ainda se perdeu de amores pelo árabe Dodi Al Fayed, 'for Christ sake'! O seu mais novo só podia seguir-lhe as pisadas e já nem pudor tem de levar a Netflix – com quem trabalha nos Estados Unidos, tal como a sua amada esposa – para o palácio real para gravar uma série.
A quantidade de (alegados) impropérios que Meghan tem dito, de forma mais ou menos óbvia, sobre "the firm" – o último, levado mais a sério, foi o vídeo do seu 40.º aniversário onde surgia a beber chá numa "china" mais 'british' era impossível – tem feito da duquesa de Sussex uma personagem de extremos. Mundo fora, é olhada por uns como heroína cheia de coragem para enfrentar as normas e o 'stablishment' da coroa, por outras como uma grande mal-educada que veio semear a discórdia entre dois irmãos que se adoravam e destes com a avó. Como se não bastasse, ainda "raptou" o marido, sob desculpa de não se sentir bem em Buckingham e não querer os filhos (à época ainda só havia Archibald – em americano, Archie) criados "naquele ambiente" que nem Lady Di aguentou. E não parece estar minimamente preocupada com as acusações de que vive à conta dos impostos britânicos e do que a coroa de Isabel II ainda consegue oferecer ao casal rebelde. O contrato milionário com a Netflix e as conferências de que Harry é estrela estão, dizem, a ajudar a manter a independência financeira e garantir um lifestyle de príncipes de Hollywood numa mansão num dos bairros mais amados pelas super-estrelas locais. Há vidas piores...
Acha que a "intrusa" Meghan e o "enfeitiçado" neto Harry são a única preocupação de Isabel II, a grande matriarca que nunca encontrou o momento certo para delegar as funções de "royal heighness" – vai-se lá saber porquê...? Nada disso. Os "americanos" são o 'faits divers' da coroa britânica, o que entretém os tabloides. Problema – ou se preferirmos, vergonha – é o envolvimento do filho, André, num escândalo sexual.
A história de André e o seu envolvimento em ambientes pouco recomendáveis é longa e antiga. Quer saber o que aconteceu desta vez? Dê uma espreitadela no artigo acima e verá no sarilho em que se envolveu desta vez. E não, não é algo simples da qual poderá sair impune com facilidade. Não desde que existe movimento #metoo e quem abusa – poderoso ou não – sai castigado.
Veja-se, noutra dimensão, a sina de Don Juan Carlos.
Depois das acusações de fuga aos impostos, de ligações perigosas com o poder político e económico e de tráfico de influências – isto já para não falar na língua solta das amantes que, ao longo dos anos, foram tornando pública a intimidade do então ainda rei e mudando a sua imagem de Dom Juan para crápula – o rei emérito encontrou ombro amigo lá longe, no Médio Oriente. Está há mais de um ano exilado em Abu Dhabi, emirado vizinho do Dubai, mais tradicional, riquíssimo, onde pode usufruir da mordomia que sempre apreciou. Acredita a imprensa espanhola da especialidade (leia a entrevista de Pilar Eyre, em cima) que 'Juanito' já se terá convencido que não mais voltará à sua Espanha querida. E que isso lhe destroça o coração. No exílio dourado já terá recebido a visita das filhas, mas continua a ser ignorado (pelo menos em público e que se saiba) pelo varão, Felipe II, atual rei. E que isso, sim, o magoa mais do que qualquer coisa.
A tudo isto, Sofia, de quem Juan Carlos se separou sem se separar, mostra-se indiferente. Neste verão já desfilou em Maiorca, o seu destino de eleição, ao lado das netas, Sofia e Leonor – se tudo correr segundo a "ordem natural" e a monarquia durar até lá, a futura rainha. Olhada como "gelada" por uns, como uma "santa" por outros, a grega rainha Sofia já passou por duras provas. Não, não só as amantes do marido, em especial "aquela" Corinna, fundamental para fazer desmoronar o castelo de cartas em que construíra o império da casa real.
Pior do que "as outras" foi "o outro" – Iñaki Urdangarín, marido da filha Cristina, preso por prevaricação, corrupção, tráfico de influências, fraude e ainda delitos fiscais – e a "outra", a divorciada Letizia, atual rainha, mulher do seu filho rei e que nunca primou pela simpatia para com a rainha mas que, tal como Meghan Markle em versão 'salerosa', também divide opiniões em Espanha. O nariz arrebitado e falta de sangue azul criaram anticorpos nos mais conservadores. Hoje, tudo está mais calmo. As funções de rainha transformaram Letizia numa moderada, acabaram os rumores de possível (segundo) divórcio, desta vez com Felipe, seu marido e seu rei. Tudo em nome da coroa e do futuro das filhas.
Divórcio, nos tempos que correm, ouve-se falar no principado (quase) vizinho. Eis que no Mónaco a rutura entre Charlene e Alberto deixa de ser tema tabu. Depois do desaparecimento da "princesa triste", reaparição na África do Sul (sua terra natal), notícias de que tinha sido alvo de (pelo menos uma) cirurgia e inevitáveis rumores de divórcio que se acentuaram, eis que agora surge uma prima de Alberto - uma americana, por parte da mãe, Grace Kelly - que vem abrir a boca sobre o divórcio "a qualquer momento".
E como se não bastasse a americana tagarela a destabilizar a vida glamourosa do principado, uma notícia ainda mais bizarra vem à tona: a da bruxa que não larga Charlene? Calma, nós explicamos. A senhora trabalha com numerologia e a verdade é que acompanha a princesa há decadas. E não deve ser para falar dos números das contas-poupança da antiga nadadora sul africana.
Por isso, vá por mim: antes de chamar "bruxa" a Meghan Markle, pense. Pense que isto não anda fácil para cabeças coroadas e seus adjuntos. A americana (esta) é apenas uma bela atriz com uma grande noção de entretenimento. Já para outros, são personagens reais metidos em sarilhos e nem o sangue azulado os salva.