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THE MAG - THE WEEKLY MAGAZINE BY FLASH! - entrevista

Joana Vasconcelos confessa tudo. Mas mesmo tudo sobre a sua forma de trabalhar e o que lhe dá forças: "Faço meditações nos museus"

A mais badalada artista plástica portuguesa à escala mundial fala de tudo o que lhe apetece e abre o coração como nunca antes. Da sua função no planeta, ao papel de mulher, das aulas de ioga no atelier à necessidade de espalhar a felicidade. Acredite: depois de ler esta entrevista - que é uma conversa - irá perceber (e amar) mais Joana Vasconcelos.
João Bénard Garcia
João Bénard Garcia
04 de novembro de 2021 às 23:22
Joana Vasconcelos
Joana Vasconcelos
Joana Vasconcelos
Joana Vasconcelos
Joana Vasconcelos
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Joana Vasconcelos
Joana Vasconcelos

Houve um pretexto para esta entrevista, é verdade: o vinho. Joana Vasconcelos, que celebra 50 anos esta semana (a 8 de novembro) e que nem bebe, foi convidada para desenhar rótulos "de qualidade" para uma marca.

Mas depois... veio o resto. A mais conhecida e conceituada artista plástica portuguesa em todo o mundo - a par da "mestre" Paula Rêgo -, conhecida pelas suas obras monumentais com matérias inusitadas, como tampões, panelas ou croché, ficou imortalizada na história das artes depois de ter sido a primeira mulher portuguesa convidada para expor no palácio de Versailles em 2012, numa das mostras mais badaladas de sempre em Paris. Sim, também falámos disso. Mas de muito, muito mais... acredite.

Depois de sobreviver ao tsumani da pandemia mundial, de ter colocado a equipa em "lay off', e de ter colocado em causa o seu próprio trabalho e sobrevivência do mesmo e do atelier, Joana renasce como uma 'fénix' e revela à The Mag by FLASH! planos, sonhos, crenças, hábitos e pequenas coisas em que acredita, transmite aos outros e lhe trazem felicidade. 

É verdade, começamos por falar de vinhos - que essa era a razão da conversa. Mas não se fique por eles. Avance na conversa sem medos e conheça a verdadeira Joana. Vale a pena! 

Esta sua experiência com vinhos começou numa conversa, durante uma viagem de avião Madrid- Lisboa, depois da ARCO, quando André de Quiroga lhe propôs uma parceria com a marca Quanta Terra, de Alijó?

Começou, sim. Foi isso. Estas parcerias começam sempre com estes 'inputs' do André, no sentido de que ele tem aquele gosto especial pelos vinhos e o prazer de fazer a ponte entre vinhos e arte. Eu também tenho feito essa ponte através do meu trabalho porque, na verdade, a área vinícola é um dos ícones, um dos símbolos da nossa cultura, da nossa qualidade, da nossa expressão…

Esta sua experiência com vinhos começou numa conversa, durante uma viagem de avião Madrid- Lisboa, depois da ARCO, quando André de Quiroga lhe propôs uma parceria com a marca Quanta Terra, de Alijó?

Símbolos da nacionalidade, a sua imagem de marca.

Sim, como trabalho os símbolos dentro da minha obra, obviamente que me cruzei com o vinho muito antes de conhecer o André de Quiroga e já tinha feito várias peças sobre essa temática. Quando o conheci, através da minha via artística, começámos a falar do tema e foi engraçado. Ele acompanha as minhas exposições há muitos anos e sempre fui fazendo várias peças à volta da vinha e do vinho.

Da portugalidade, no fundo.

Da portugalidade, correto. Isso existe na minha obra há imenso tempo. Já fiz rótulos variadas vezes para outras marcas. Já fiz peças sobre vinhos. Já fiz peças com garrafões. Já fiz castiçais com garrafas de vinho da Bacalhoa. O vinho é um tema recorrente na nossa cultura. Quando o André veio com esta preposição achei que era uma ótima ideia.

Não teve problemas com o tipo de vinhos?

Não, achei interessante ser um espumante. Achei que, além de natural, estava tudo ótimo, sendo que a proposta tinha graça porque vinha do Douro, de uma dupla de enólogos (Celso Pereira e Jorge Alves) que é muito simpática e são bons enólogos. Conheço a quinta de lá estar, nunca tinha trabalhado com a origem do fazer.

Conte-nos como foi o processo. Não foi assistir à vindima?

Não. Fui conhecer a quinta, a adega. Fui provar o espumante. Não sou especialista, mas achei que estava tudo bem.

"Já fiz peças com garrafões, já fiz castiçais com garrafas de vinho. É um tema recorrente na nossa cultura"

Onde foi buscar a inspiração? Foi à vinha?

Faço muitos desenhos [começa a folhear o seu caderno pessoal e a mostrar os seus últimos desenhos] e na verdade podia ter sido qualquer um destes. Vou fazendo muitos desenhos nos meus cadernos, mas, normalmente, faço-os a partir de uma ideia ou de alguma coisa que se esteja a passar. Depois daqui faz-se um 'crop' [diz, selecionando com as mãos uma secção do desenho]. Tudo influencia: os xistos, a terra, o sol, a luz, a casta. Tudo faz parte daquilo que se torna em vinho. Para mim é igual. Tudo o que está à volta vai influenciar o desenho que estou a fazer.

A ideia final era conseguir um produto de muita qualidade.

Pois, mas como eu não sou especialista no assunto, pedi a algumas pessoas, que são mais especialistas do que eu, para me dizerem se o produto é de qualidade. Para mim era importante era ter algo em que me reveja e como não sou bebedora... A única coisa que bebo de vez em quando é efetivamente champanhe ou espumantes nas inaugurações, mas só mesmo ocasionalmente. Mas isso não invalida que as coisas sejam feitas com qualidade e sinceridade. Fiz um rótulo para uma coisa em que, por exemplo, o meu marido tem gosto e acreditei no paladar e no gosto dele.

"Se não fosse a ajuda do Estado, não teríamos tido forma de sobreviver. Estou muito contente por viver num país onde houve esse apoio às empresas"

SALVA PELOS FUNDOS DO ESTADO

E em termos de trabalho, como foi o processo de gestão da pandemia? Sei que houve uma quebra de encomendas, mas agora estão a voltar, certo?

Estão, felizmente. Aconteceu termos o dinheiro finito. Tínhamos dinheiro que dava para nos aguentarmos três a quatro meses. Ao fim desse tempo, se não fosse a ajuda do Estado, não teríamos tido forma de sobreviver. Estou muito contente por viver num país onde houve esse apoio às empresas, que puderam manter os postos de trabalho e onde se pôde manter a máquina a funcionar.

Qual foi o seu maior problema?

Um dos meus problemas maiores foi pensar se o meu trabalho ou o meu esforço teria sido suficientemente relevante, enquanto artista; se a minha conexão com o país, e com a identidade do país, teria sido suficientemente relevante e bem feita para continuar a fazer sentido após a pandemia.

Questionou essa situação?

Questionei. Não se sabia se durante a pandemia podia haver uma guerra. Não se sabia bem o que isto iria dar e isto podia ter fechado muito mais. Podia-se ter entrado em guerras e coisas mais agrestes e difíceis. E a verdade é que os artistas, nestes momentos, têm de fazer contas à vida e manter a sua práxis, mas se calhar redimensionada noutras dimensões.

"Um dos meus problemas maiores foi pensar se o meu trabalho ou o meu esforço teria sido suficientemente relevante, enquanto artista"

Temeu essas más situações?

É pá, houve um momento em que pensei: se calhar nunca mais abro o ateliê como ele é. Se calhar só abria metade.

'LAYOFF' PARA EVITAR DESPEDIR

Teve pessoas em 'layoff'?

Estivemos em 'layoff' vários meses. Toda a gente em 'layoff'. Decidi não despedir ninguém. Coisa que muita gente fez. Eu pensei: Vou manter o ateliê ou não? E manter ou não era ter capacidade de resposta se isto voltasse ao normal. Mas se não voltasse, tinha muitos encargos para uma coisa que estava a assumir e que depois podia já não fazer sentido.

Teve pessoas em 'layoff'?

Teve um momento de reflexão e decisão complexo.

Tive que refletir no que acreditava.

Se o projeto teria ou não viabilidade?

Se acreditava que fazia sentido manter tanta gente e se mantinha depois o nível de trabalho ou se era melhor aliviar a pressão, poupar dinheiro e depois logo se via.

Está contente c

om a decisão?

Estou. Acreditei no que queria, que era manter o ateliê e a minha equipa. Foi isso que eu fiz. Só pude fazê-lo porque tive ajudas do Estado, sem isso não teria sido possível. Houve ali um momento em que não se percebia bem se ia fazer sentido.

om a decisão?

"Quero é ser da geração que conseguiu regenerar o planeta e dar aos nossos filhos um planeta são."

'BOOM' DE ENCOMENDAS, FALTA DE MATÉRIA-PRIMA

E como está agora, em termos de encomendas das suas obras?

Temos montes de pessoas a quererem coisas incríveis. Todos os dias chegam pedidos. Sente-se uma forte dinamização. Há uma forte vontade de fazer coisas. Fazem-se é de forma diferente, porque as pessoas estão com uma capacidade diferente: de repor as pessoas 'back on track', do que queremos para o futuro. Houve uma grande aprendizagem e definição do que é que queres para o teu futuro.

E a Joana já sabe o que quer?

Eu? Claro! [sorrisos]

E pode revelar?

Posso! Quero continuar a levar o meu trabalho a todos os sítios que me queiram receber. Fundamentalmente museus em novos países, em novas exposições.

Não está preocupada com os custos de levar as peças para lá?

Estou superpreocupada.

"Quero continuar a levar o meu trabalho a todos os sítios que me queiram receber. Fundamentalmente museus em novos países, em novas exposições"

É que neste momento estamos com um problema gravíssimo de matérias-primas e de transporte. Contentores caríssimos, combustíveis caríssimos.

Sim, as coisas com as matérias-primas estão tão loucas que não sei se consigo tê-las prontas a tempo. Trabalho a uma escala monumental e neste momento os projetos que tenho não consigo garantir que irei entregá-los como gostaria à conta das matérias-primas.

Não tem forma de em Portugal encontrar soluções para essas matérias-primas em carência?

Não, quando trabalhas em grande escala com ferro tens contas com matérias-primas complexas. O planeta está muito desorganizado. O mundo dos humanos está muito desorganizado porque as coisas fecham de um lado, depois abrem no outro.

Com o início de uma crise energética à porta.

Brutal. E sinais de uma crise económica brutal. Quando começas a fazer coisas de grande escala, como é o nosso caso, afeta-nos no produto e nas entregas. E depois não há camiões e não há contentores para o frete marítimo.

"Trabalho a uma escala monumental e neste momento os projetos que tenho não consigo garantir que irei entregá-los como gostaria à conta das matérias-primas"

Ou seja, a Joana resolveu o problema durante a pandemia, mas tem à vista outra crise.

Eu diria que vai ter que haver a nível mundial uma reorganização que vai ser necessária e que passa por pensarmos melhor que somos todos um só planeta. Ou trabalhamos todos juntos ou os outros vão-nos estar sempre a afetar.

HÁ UM LADO SOMBRIO À ESPREITA

Acha que há oportunismo?

Diria que para depois deste processo haver alguma tranquilidade e alguma luz, no sentido de vale a pena lutarmos pelo país e pela nossa identidade, pelo planeta, pelo bem estar de todos, por um sistema mais igualitário em termos energéticos, económicos, sociais e pelos direitos humanos para que esse todo entre em coerência, há obviamente uma sombra. E a sombra são os que se aproveitam, que vão fazer dinheiro à conta dos outros, dos que não querem saber se em África há pessoas que estão a morrer ou não.

Se há vacinas…

Há a sombra de um outro paradigma onde o indivíduo conta. E não há uns que contam mais e outros que contam menos.

"Temos que perceber que não respiramos sozinhos e que o ar é sempre o mesmo do dos nossos antepassados e por todos os animais. Só há um ar, uma água, uma terra. O pessoal pensa que faz as vacinas aqui e não partilha, mas só há um ar, o vírus vai vir, mais cedo ou mais tarde. Eu adoro esta cena e esta teoria"

Isso é a eterna guerra entre o bem e o mal. 

Agora está às claras essa dinâmica. Antes era tapada, agora não. Hoje em dia vais ter aqui a terceira dose da vacina e em montes de países há quem não tenha ainda sequer a primeira. Pronto, as variantes vão-se alterar. Vão vir mais variantes e não vais conseguir sair de um circuito pequenino que é a Europa. E ficamos nós metidos outra vez uns com os outros porque não partilhámos o que tínhamos com os outros. Vamos ter que partilhar até podermos sair disto. E depois a seguir deixa de haver barcos, contentores, ferro, até perceber que tens de partilhar. Depois partilhas e volta a haver tudo outra vez. São os processos de inspirar… e expirar… E temos que perceber que não respiramos sozinhos e que o ar é sempre o mesmo do dos nossos antepassados e por todos os animais. Só há um ar, uma água, uma terra. O pessoal pensa que faz as vacinas aqui e não partilha, mas só há um ar, o vírus vai vir, mais cedo ou mais tarde. Eu adoro esta cena e esta teoria.

"Temos aulas de ioga. Comemos todos juntos. Eu faço a minha parte de que somos todos parte de um todo. Este atelier é parte de um outro todo que é um país."

"NÃO TENHO PLANO B!"

Do ponto de vista do que projeta, perante todos estes riscos, está a pensar num plano B?

Ai, eu não trabalho com planos B. Eu sou da versão de que só há um planeta. Trabalho no sentido do que posso fazer de melhor para este planeta. Maior igualdade no trabalho, maior justiça entre os meus trabalhadores. Nós temos um departamento de bem estar. Temos dois 'skillers' a trabalhar connosco. Temos aulas de ioga. Comemos todos juntos. Eu faço a minha parte de que somos todos parte de um todo. Este atelier é parte de um outro todo que é um país.

"Sou muitas vezes pioneira no meu papel. Sou a primeira mulher aqui."

Fazem ioga todos juntos?

Sim, fazemos meditação três vezes por semana. Temos um grupo que gosta mais, mas depois de 15 em 15 dias faz o ateliê todo. Eu tenho uma prática interna que pretende atingir um bem estar individual. Sobre esse bem estar individual podes atingir o bem estar coletivo. Se não começas dentro da tua casa não vais conseguir nunca que os outros sejam contaminados pela positiva. Faço isto aqui a partir dos meus 50 aqui. Faço meditações nos museus, depois quando tenho as peças faço a meditação com as peças. Depois há pessoas nos museus que se juntam. Faço o que está dentro do meu alcance, acreditando que quanto mais paz houver entre as pessoas e união melhor coisas atingiremos.

Como descobriu isso. Foi com a idade, foi com pessoas com quem se foi cruzando. A Joana sentiu necessidade de encontrar paz?

Descobri isso porque eu sou muitas vezes pioneira no meu papel. Sou a primeira mulher aqui. Nesse lugar de ser o primeiro tem uma vantagem e uma desvantagem. Tem uma sombra e tem uma luz. A luz é que tu olhas para a frente e percebes que podes criar o teu futuro à imagem da tua experiência do passado, nunca deixando o passado para trás, mas aprendendo com os erros do passado e pensando qual é a bagagem que queres levar para o futuro. A bagagem pode-se escolher. No infinito projetaste com a bagagem que tu quiseres.

Isso dá-lhe muita paz e tranquilidade?

O estar à frente é um lugar incrível. Porque tanto podes ir para traz como podes ir mais para a frente.

"Podes criar o teu futuro à imagem da tua experiência do passado, nunca deixando o passado para trás, mas aprendendo com os erros"

SÓ BAGAGEM COM "CENAS FIXES"

E tem a perceção.

Podes escolher o que levas. Eu tento levar comigo, nem sempre sou bem sucedida, coisas como a paz, o amor, a saúde, a prosperidade, o bem estar, a felicidade. Tento levar na minha bagagem cenas fixes. E não levar as más. Mas tento sempre libertar-me das más. Quanto mais liberto tu estás da más mais avanças no infinito.

E tem a perceção.

Quando estamos amarrados nas más estamos emaranhados num novelo.

Não avanças. Nesse conceito comecei a fazer um trabalho pessoal. Eu e aqui no atelier. Quanto mais livre a minha equipa estiver, quanto mais bem estar houver melhor as obras fluem, menos stresse há, mais contentes as pessoas estão, mais as peças transbordam essa boa energia.

Os colaboradores aderiram bem a isso?

Sim. Vão aderindo.

"Tento levar comigo coisas como a paz, o amor, a saúde, a prosperidade, o bem estar, a felicidade"

Percebem o conceito? Desde a costureira…

... À rapariga da limpeza. Fazemos com ela, com os arquitetos e com as costureiras. Temos pessoas com pelo menos quatro religiões aqui dentro. Temos sírios, temos hindus, temos moldavos, temos judeus, brasileiros, caboverdianos. Eu tenho aqui dentro um pequeno mundo. A escultura tem uma parte física, que é corpo. Tem uma parte conceptual que é a mente e tem uma parte espiritual. Isso tanto existe no ser humano como na obra de arte.

Acha então que as obras têm que transmitir essa paz?

Não, têm que transmitir essa simbiótica entre o corpo, o espírito e a mente. Se não estiverem em equilíbrio a obra não funciona.

Esse é o segredo do seu sucesso?

Acho que é o segredo do sucesso de muita gente. Eu só fico contente quando as pessoas vão às minhas exposições saem de lá com um sorriso. Saem de lá contentes e a pensar que viram uma coisa fixe. Porque fisicamente foi fixe. Intelectualmente foi estimulante e espiritualmente traz-lhes felicidade. E deixa memórias. Quando essa trilogia é atingida conseguiste, através da obra, uma harmonia.

"Temos pessoas com pelo menos quatro religiões aqui dentro. Temos sírios, temos hindus, temos moldavos, temos judeus, brasileiros, caboverdianos. Eu tenho aqui dentro um pequeno mundo."

Como é que se inspira?

Eu não me inspiro. Canalizo.

Explique-nos lá esse processo.

Vejo as peças e faço as peças que vejo.

Sonha com elas?

Não sonho. Canalizo.

Mas explique-nos como canaliza.

Não é com tubos da canalização lá de casa [risos]. É um trabalho intelectual de conexão com o todo. Isto não é fora de mim. Ninguém me deu. Não me inspirei. O que eu, ser humano, fiz foi trabalhar uma série de ferramentas que me foram dadas pela escola, pela família, por uma herança histórica do meu país e depois faço o meu trabalho pessoal para me permitir ter uma informação que traduzo através da obra. Quando digo canalizar não é receber informação. As minhas ferramentas possibilitam-me, estando conectada com o todo, criar o futuro.

Então é uma visionária.

… Não…

Vá lá, não tenha medo de se assumir.

Por acaso é uma discussão interessante, porque não me vejo como uma visionária. Vejo-me como se o universo permitisse que através de mim eu traduzisse uma dimensão que ainda não existe fisicamente.

Isso é um dom?

Não, é uma predisposição. É um trabalho. E é um exercício que fazia de forma não consciente que agora faço de forma consciente. E não há 'click', é no momento.

"Não me vejo como uma visionária. Vejo-me como se o universo permitisse que através de mim eu traduzisse uma dimensão que ainda não existe fisicamente"

VERSAILLES? NUNCA MAIS!

Gostava voltar a Versailles e àquela mega-exposição que a projetou em 2012 a nível internacional?

Não! O que fiz em Versailles ficou feito. E bem feito. Foi aquele momento.

E foi um sucesso. Adorava ter mais sucessos como o de Versailles?

Não! Versailles foi aquela coisa que era preciso fazer naquele momento e fiz. Com o melhor que tinha e sabia. Gostei foi do desafio. Se gostava de ter outro desafio? Sim, mas não como Versailles. Versailles foi única, fantástica e está feita.

"Tenho sempre o [Fernando] Pessoa e o seu 'Quinto Império', que me ajuda bué a explicar isso. Fui a primeira portuguesa em muitas situações"

Como é expor nos melhores sítios do mundo sendo portuguesa e mulher?

Para essa tenho sempre o [Fernando] Pessoa e o seu 'Quinto Império', que me ajuda bué a explicar isso. Fui a primeira portuguesa em muitas situações. Todas as pessoas que fazem bem o seu trabalho nas suas áreas vão ser sempre boas. Eu só quero fazer parte daquela geração que conseguiu salvar o planeta. Quero lá saber se sou portuguesa ou alemã. Quero é ser da geração que conseguiu regenerar o planeta e dar aos nossos filhos um planeta são. Tenho muito orgulho na minha base. Tenho amor e carinho e contribuo com a minha capacidade para o sítio onde estou. Nesta geografia, com o meu background cultural, devo fazer o melhor pelo meu mundo. Sou mulher, sou portuguesa. E com isso que tenho faço o melhor que sei, valorizando e agradecendo e pensando que tem que fazer algum sentido eu estar aqui agora.

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