
Pinto da Costa foi sempre um pinga amor. Filho de pais divorciados, o que era incomum à época, diz-se que cresceu a amar um certo desprendimento de convenções e a reger-se pelo seu próprio código de conduta: se estava apaixonado, dava tudo, mas quando deixava de amar, não tinha problemas em cortar o assunto pela raiz, divorciar-se e seguir em frente, recomeçar as vezes que fossem precisas. Foi sempre assim, e os amigos mais próximos não têm dúvidas de que as mulheres eram a sua grande perdição, uma fraqueza.
Os romances raramente terminavam bem, mas não se pode dizer que, passado o calor do momento, o antigo presidente não voltasse a ceder à paixão. Com Fernanda Miranda, por exemplo, terminou e reatou várias vezes e diz-se que já estava com a atual companheira, Cláudia Campo, quando estiveram juntos pela última vez. No entanto, seria também na reta final da vida que Pinto da Costa aprenderia a dar valor à pessoa que tem ao lado. Diz-se que, no final, foi homem de uma mulher só, Cláudia, a quem dedicou palavras de amor e afeto no seu livro 'Azul Até ao Fim'. "Mesmo com feitios diferentes, já não passamos um sem o outro", escreveu, acrescentando que a bancária trouxe alegria à sua vida numa altura em que esta se tornou mais triste, descrevendo-a como uma dádiva de Deus.
E se em outras alturas da vida, Pinto da Costa chegou a manter contacto regular com algumas das ex-companheiras, pagando-lhes até pensões mesmo quando a isso não era obrigado, essa foi uma realidade que mudou, sobretudo nos dois últimos anos, em que Pinto da Costa se tornaria mais devoto a Cláudia, reconhecendo o bem que esta lhe fazia, numa monogamia rara para um homem cujas polémicas sentimentais foram acompanhando o seu sucesso profissional porque o portista era não só um livro aberto como também um livro cheio de 'twists' e viragens bruscas no argumento. Surpreendia até aqueles que o conheciam bem. Nunca ninguém sabia ao certo como uma história de amor ia acabar.
Porém, se nos seus tempos auspiciosos no Dragão, Pinto da Costa estava sempre acompanhado por várias mulheres, somava pretendentes, desdobrava-se entre conquistas, no último ano já não manteria contacto com praticamente nenhuma dessas mulheres, com a queda do trono, em conjunto com a idade e a sua condição de saúde a retirarem-lhe também esta aura de Dom Juan.
Se dúvidas houvesse, a ausência de ex-namoradas ou ex-mulheres das cerimónias fúnebres comprovou-o. Já se sabia que Carolina Salgado, a sua grande rival, não iria aparecer. Quando Pinto da Costa deixou de ser presidente do FC Porto, esta quebraria o silêncio de anos para festejar os tempos de mudança, para ela era como se alguma justiça tivesse sido feita. Mas em relação a Fernanda Miranda ou a mãe da filha, Filomena Morais, havia a dúvida. Será que iriam prestar-lhe homenagem? Que o tempo tinha apaziguado as divergências, que algo os tinha unido nesta fase final de vida? Não aconteceu. Se é certo que o antigo presidente quis resolver, ao longo dos últimos anos, guerras e divergências - como foi o caso, por exemplo, com o filho ou Luís Filipe Vieira - as questões de coração pareciam ser um assunto completamente encerrado para o octogenário.
Ele próprio admitiu essa mudança, julgava que Fernanda Miranda lhe tinha roubado a capacidade de amar, que não voltaria a apaixonar-se depois desse casamento falhado, que definiu como uma "má escolha", mas foi então que, numa ida casual ao banco, conheceu Cláudia. E deu por si a duvidar das próprias convicções quando, nos dias seguintes, continuou a ir à dependência bancária sem que tivesse nada de importante para tratar. Numa dessas ocasiões, convidaria Cláudia Campo para jantar, numa história que seria o início do namoro entre os dois. Casou-se dois anos mais tarde pelo civil e os amigos acreditam que, por fim, nos últimos anos de vida, acertou com a mulher que escolheu para ter ao lado. Ela podia ter sido só uma companhia de fim de vida, mas foi mais do que isso: amparou-o na queda, esteve a seu lado quando muitos viraram costas, cuidou na doença, com os mais próximos a reconhecerem nela um apoio fundamental. "A Cláudia tem sido um exemplo, de uma companheira", disse Fernando Póvoas já depois de Pinto da Costa ter deixado o poder. No final, este foi o núcleo duro que o antigo presidente teve a seu lado, longe da corte inteminável de seguidores, cabiam todos numa sala, mas os amigos verdadeiros não têm dúvidas de que, apesar de tudo, o portista souber ser feliz nos seus últimos tempos de vida.