
A sensação foi quase a de um funeral de Estado. O último ano ficou marcado por algumas partidas inesperadas, como Maria Teresa Horta, Nuno Guerreiro, Pinto da Costa, Jorge Costa ou Diogo Jota e se excluirmos o jogador do Liverpool, pela dimensão universal da tragédia, há muito que não víamos umas cerimónias fúnebres tão ecléticas e com tanta gente. Decorreu esta quinta-feira, dia 21, a missa de homenagem a Teresa Caeiro, que morreu aos 56 anos - encontrada sem vida em casa, em circunstâncias ainda por explicar - e desta vez não foi só nas redes sociais que as lágrimas foram derramadas. Ao longo do dia, a Igreja de São Roque, no coração do Chiado, e uma das mais belas de Lisboa, recebeu muitos amigos que, de rosto consternado, disseram adeus à antiga deputada do CDS.
Partiu em dissidência com o seu partido de sempre, sendo que nem um mês antes da sua morte tinha-se desvinculado do CDS, desencantada com o rumo que este trilhava. “O projeto partidário do CDS não evoluiu, não inovou, não tem identidade própria e, francamente, não me mobiliza", afirmaria para justificar o corte radical. Ainda assim, as palavras de 'Tegui', assim era tratada, por mais mossa que tenham feito, foram esquecidas em prol da sua entrega, durante décadas, ao CDS. Todos os grandes nomes do partido estiveram presentes, de Paulo Portas a Nuno Melo, de Assunção Cristas a Telmo Correia, a mensagem foi clara: mostrar a Teresa que, no fundo, ela maior do que guerras ou dissidências, confluindo para um enorme perdão coletivo.
Um sentimento que se generalizou nas cerimónias fúnebres de 'Tegui', descrita por muitos amigos como frágil, vulnerável, mas também como uma mulher empática, que reunia consenso e inspirava amor. Foi por isso que da família - pais, irmãs e o filho eram os verdadeiros enlutados - à política, passando por rostos do 'Independente', onde trabalhou antes do CDS, ou caras da televisão, com quem privaria enquanto estava diretamente com a pasta da Cultura, como Ana Bola ou Maria Rueff, todos se uniram no abraço por Teresa Caeiro que, à hora da morte levanta questões como solidão, saúde mental e a forma como carregamos as dores e fantasmas do passado.
Numa publicação dirigida a Teresa Caeiro, a mãe de Paulo Portas, Helena Sacadura Cabral, que a conhecia tão bem, lembrou esse lado delicado, lamentando que, mesmo rodeada de amor, 'Tegui' não tivesse conseguido vencer os obstáculos da vida. "Era, talvez, das pessoas mais carentes de afeto que encontrei ao longo da vida. E, também, das pessoas mais protegidas por esse afeto, de que ela tanto carecia. (...) Choro por isso, por saber que, com tantos amigos a protegê-la, ela não tivesse tido a capacidade e a vontade, de sublimar as pedras que a vida, por vezes, põe no nosso caminho para nos testar!"
'TEGUI', MULHER DE AFETOS
Foi o único filho de Teresa Caeiro, Pedro, atualmente com 19 anos, que terá encontrado a mãe sem vida em casa. É sobre o jovem que recaem agora as maiores preocupações, ainda que este conte com uma sólida base de suporte, a começar pelo pai, Vasco Rato, que esteve a seu lado nas cerimónias fúnebres, assim como os dois irmãos, filhos de outro relacionamento do pai.
Além de Vasco Rato, também Piet Hein, um dos seus ex-namorados conhecidos, se apresentaria na igreja para a derradeira homenagem, assim como o comentador Miguel Sousa Tavares, com quem foi casada durante seis anos. A mensagem também entre os ex-companheiros de Tegui seria a de que, no final, o mais importante era celebrá-la.
Mas a torrente mais forte de afeto para com Teresa Caeiro veio da política. A direita uniu-se de forma como há muito não se via. Dos rostos mais antigos como Leonor Beleza, Marques Mendes passando por Pedro Passos Coelho ninguém faltou mostrando como Teresa Caeiro era admirada. Mas também o PS se faria representar por personalidades como António Costa ou Maria de Belém, que honraram 'Tegui' na dor partilhada de que a política partiu cedo demais.