
As famílias Ribeiro Telles e Caldeira atravessam os seus dias mais dolorosos, depois do trágico acidente que vitimou o filho de dois meses de Graça Ribeiro Telles e João Vicente Caldeira. Num luto que se prevê longo e difícil, o casal não tem sequer tempo para se entregar à dor, com as quatro filhas ainda a recuperarem no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e a requererem a sua total atenção.
Em relação ao prognóstico, há duas meninas cujo estado inspira menos cuidados. Depois, uma das irmãs foi operada na última quarta-feira, aos intestinos, depois de na semana passada ter sido sujeita a uma cirurgia à coluna, sendo que tudo terá corrido conforme o previsto pela equipa médica. Hospitalizada está ainda uma quarta irmã que sofreu um traumatismo craniano e foi recentemente retirada do coma, com a sua evolução a mostrar-se favorável e a conseguir alimentar-se através de sonda.
Todos os pensamentos das famílias estão no Santa Maria, com o clã a unir-se na dor para superar aquele que foi um ano absolutamente difícil para os Ribeiro Telles.
Segundo a nossa publicação conseguiu apurar, uma sucessão de acontecimentos duros de digerir culminaram com o acidente fatal, que faz com que este ano seja certamente o mais negro da história família.
"Aconteceram várias coisas este ano, foi muito difícil para eles. No Verão, a bisavó das meninas já tinha sofrido um acidente no Algarve, quando estava de férias, foi vítima de um atropelamento", diz uma fonte, adiantando que depois disso também uma das filhas de João Ribeiro Telles sofreu uma queda a andar a cavalo, que a deixou a braços com uma difícil recuperação pela frente.
"Toda a gente comenta que eles não merecem tudo o que lhes aconteceu. São pessoas muito queridas em Coruche. O João (Vicente Caldeira, pai das meninas e do bebé que viria a falecer) é um doce de pessoa, toda a gente os tem em grande consideração. Ninguém merece uma coisa destas, é horrível, mas eles não merecem mesmo. São boas pessoas com um grande coração, humildes, sem manias das grandezas", diz uma fonte, acrescentando, no entanto, que o sentimento de união tem sido comovente.
Nas cerimónias fúnebres do bebé Vicente, esse sentimento ficou bem visível, especialmente no momento tocante em que João Caldeira, o pai do recém-nascido, tomou a palavra para se dirigir aos presentes e agradecer o apoio de toda a comunidade, garantindo que na sua curta passagem pela terra, o filho trouxe muitos ensinamentos, entre os quais que não vale a pena cultivar ódios e inimizades porque a vida é demasiado curta. O antigo forcado adiantou mesmo que divergências na família tinham sido colocadas para trás das costas depois da tragédia que atingiu a família.
"Aquele foi um momento extremamente tocante, e a mensagem que o João transmitiu poderosa. Foi um baque para toda a gente que estava naquela família porque, na verdade, são erros que todos cometemos muitas vezes. E face a uma tragédia destas, vale a pena? Claro que não. A mensagem foi, no fundo, que o amor é o mais importante."
A VIDA PERFEITA QUE SE DESMORONOU
Até há pouco mais de uma semana, Graça e João tinham a vida com que sempre sonharam. Acolhiam na família o bebé Vicente, o tão desejado menino, depois de quatro raparigas, e todos estavam radiantes com a chegada de mais uma bênção para o clã.
Terapeuta da fala, Graça, de 32 anos, sempre foi a mãe de armas muito presente na educação das filhas, assim como o pai, que, ainda que com mais compromissos profissionais, dedicava todo o tempo livro à família. De um dia para o outro, tudo se desmoronou, e é na união da família e nos amigos que o casal tenta encontrar forças para se reerguer.
Graça, recorde-se, regressava do Aeroporto de Lisboa, onde tinha ido deixar o marido, para Coruche, quando se deu o despiste fatal, já na Estrada Nacional 119, junto ao Biscaínho, Coruche. A filha do antigo cavaleiro João Palha Ribeiro Telles seguia no carro com as quatro filhas e o recém-nascido quando perdeu o controle da viatura, entrando na faixa de rodagem oposta. A carrinha viria a embater em primeiro lugar num outro carro e depois houve ainda um choque frontal com outro automóvel.
O falecimento do bebé, de dois meses, foi ainda declarado no local e devido à gravidade da situação, uma das meninas foi helitransportada para o Hospital de Santa Maria. Neste momento, é neste hospital que as meninas, com idades correspondidas entre os 6 e os 9 anos se encontram a recuperar.