
Os vídeos em que surge de argolas douradas e chapéu de abas largas, com voz afetada a imitar as 'tias' há muito que são um caso de sucesso nas redes sociais, mas recentemente tornaram-se num fenómeno mais ou menos global no nosso País depois de Vasco Pereira Coutinho ter sido convidado para fazer a sua paródia no decorrer da cerimónia dos Globos de Ouro. De repente, aqueles que não o conheciam estavam a rir às gargalhadas com as suas piadas sobre os convidados da gala e o interesse disparou. Quem era, afinal, o tipo 'mascarado', que imitava os 'bem nascidos' na perfeição, com a desenvoltura e à-vontade de quem já anda nisto há muito tempo?
Bem, no caso dele não é assim há tanto. Se as inspirações de uma avó, que trabalhava no Chapitô, o levaram desde cedo a desenvolver o interesse pelo meio artístico, a 'chapada' de ter sido rejeitado no Conservatório acabaria por refrear os ânimos. De lá para cá, andou a tentar encontrar-se: estudou Marketing e, mais tarde, sentiria uma espécie de o chamamento que o levaria a viver num seminário, em Roma. “Estava fragilizado e foi uma prova bonita e dolorosa ao mesmo tempo, no sentido em que larguei tudo. Achei que era a cena da minha vida, só que afinal não era e voltei a pôr tudo em questão”, assumiu, em conversa com a 'Sábado', Vasco Pereira Coutinho, que continua a ser um homem de fé, mas com um desprendimento diferente dos tempos em que esteve em Itália.
Depois dessa experiência, e ainda em Capri, acabaria por trabalhar com deficientes profundos, e já de regresso a Portugal passaria os cinco anos seguintes como terapeuta de toxicodependentes, na comunidade Vale de Acór. Trabalhos emocionalmente duros, que foram essenciais para a sua formação pessoal, mas que não o realizavam completamente, havia sempre a incerteza sobre qual seria, afinal, a sua vocação, um sentimento que se acentuaria durante a pandemia, que o deixou mais consciente desta sensação de indefinição. "Achávamos que íamos morrer todos e eu perguntava-me: ‘Então o mundo vai acabar e foi só isto?’", questionava.
Foi quando decidiu perseguir, finalmente, o sonho de ser ator, embalado pelo sucesso que os vídeos que fez durante o confinamento começaram a ter. Inscreveu-se na Act, escola de atores, tendo começado a desenvolver o seu percurso na área do humor. Apesar de serem estas rábulas sobre um universo de elite que mais reúnem consenso, Vasco Pereira Coutinho mostrava-se, no ano passado, em conversa com a 'Sábado', aberto a novas experiências. "Sou um ator que faz palhaçadas, mas quero poder fazer outras coisas. Só que o meu público tem-me pedido isto [vídeos cómicos] e não posso ignorar. Adorava fazer um bom filme cómico porque o cinema permite trabalhar mais o detalhe e isso é interessante. Também gostava imenso de entrar numa novela, num registo mais sério. Enfim, o que eu quero é representar!”
UM NOBRE A GOZAR COM A SUA 'PROLE'
Vasco Pereira Coutinho cresceu no seio de uma família privilegiada, ainda que, garanta, educado para manter os pés assentes na terra. No portal de genealogia Geneall, por exemplo, aparece citado como D. Vasco de Mello e Abreu Pereira Coutinho, descendente do marquês de Soydos, título atribuído pelo rei Carlos III de Espanha, no século XVIII, mas longe de o berço de ouro o envaidecer, para o humorista é uma mera formalidade, sem relevância prática na sua vida. "Coisas do tempo em que havia nobreza… Isso não significa nada para mim", admite quem se tem inspirado nos seus pares para fazer humor. A convivência de perto e a observação de gestos e trejeitos levam a sketches de humor muito elogiados, até pelos 'visados', que não se ofendem com as piadas. "(As tias) Dizem-me: ‘É que ‘tá igual! O menino apanha tudo na perfeição, é que parece mesmo!’ Depois há quem tenha necessidade de me vir dizer que são muito betos e que também falam assim. E eu digo: ‘Não tenho a certeza se isso é ótimo, sabes?…’”
Agora, o humor de Vasco extrapola das redes sociais, com o início da sua nova rubrica na Renascença 'As Pessoas Têm que se Acalmar Imediatamente', a partir do dia 9 de outubro, às quintas-feiras, pelas 09h15, que promete catapultá-lo ainda mais para a fama.