
Fernando Póvoas é um dos rostos mais mediáticos da medicina do nosso País. Apelidado de médico dos famosos, conhecido devido à sua ligação ao FC Porto e à amizade dedicada a Pinto da Costa, raramente temos oportunidade, no entanto, de saber o que está por detrás da 'bata branca' e da entrega à profissão. A pretexto de uma conversa franca, o rosto da CMTV Duarte Siopa convidou-o para a sua rubrica na CMTV Rádio 'Duarte Convida' (que pode ser ouvida este domingo, dia 13, a partir das 15h00), que resultou num conjunto de revelações surpreendentes sobre um homem nascido e criado no Norte, que passou ao lado de uma grande carreira de Ginecologista para se tornar no nutricionista que todos conhecem.
Começou por, e numa altura em que este ainda não era assunto, se ter interessado com aquilo que comiam os atletas do clube para o qual trabalhava, o FC Porto, antes dos jogos, e continuou com o gozo de ter ajudado uma primeira paciente, com a auto-estima reduzida pelo peso a mais, a recuperá-la com os seus conselhos e prescrição de dieta. Acabaria por desenvolver a sua especialização nessa área, onde é conhecido por reduzir medidas, mas também se tornar grande amigo da maioria dos pacientes, numa relação de atenção para com o próximo que lhe foi passada desde muito cedo pelo pai.
Foi uma das pessoas mais importantes da sua vida, com pai e filho a serem sempre muito próximos até um enfarte lhe ter roubado o progenitor, num momento que, por mais anos que passem, nunca conseguiria ultrapassar. "O meu pai teve um enfarte, não quis ir para o hospital, quis esperar por mim. Eu estava na Corunha com o FC Porto. Vim da Corunha para o Porto e quando eu cheguei ele já tinha falecido, é uma dor de alma que não se esquece. Foi o grande desgosto da minha vida", fez saber a Duarte Siopa, que o questionaria depois sobre outra grande dor, que também abalaria a sua vida pouco depois: a perda do filho Diogo, que nasceu prematuro e não resistiu a uma infeção que acabaria por contrair na incubadora do hospital.
"A minha mulher nunca conseguiu levar uma gravidez até aos 9 meses, teve um com oito, outro com sete, e depois o Diogo com seis meses, tinha 750 gramas quando nasceu, muito bonito, muito perfeitinho, mas só durou na incubadora 17 dias, não resistiu, apanhou uma infeção na incubadora e foi-se. Era o rapaz que eu gostava de ter tido. Agora, tenho um neto chamado Diogo e todos os meus netos são Diogo", lamentou o médico, atestando que esses foram tempos muito difíceis para a família, em especial para a mulher, Ana. "Os amigos ajudaram, os pais ajudaram, foi um sofrimento para todos, a minha mulher ficou muito ansiosa, foi-se muito abaixo. Tivemos ali um período em que foi uma desilusão, até que tentámos outra vez ter um rapaz, saiu outra rapariga, a minha Rita que é uma menina encantadora."
O ENFARTE QUE PODIA TER SIDO FATAL
Médico de profissão, Fernando Póvoas sabe melhor do que ninguém de sintomas, doenças e da importância de estar atento aos sinais. Foi por isso que, quando há dois anos, sentiu a primeira forte pontada no peito, enquanto percorria os Caminhos de Santiago, ficou vigilante. Regressou ao Porto, marcou um exame com urgência, mas já não chegou a realizá-lo porque, um dia depois, acordaria, pelas 06h30, com uma dor inequívoca no peito, que irradiava para o braço.
"Levantei-me para ir tomar uma aspirina, não tinha. Vesti-me, peguei numa folha de papel A4 e escrevi: 'fui para o hospital', não acordei ninguém, meti-me no carro, e atenção, isto não se deve fazer. Mas eu lembro-me de que o meu pai quis esperar por mim e eu não quis esperar por ninguém. Parei a 50 metros da porta da urgência, entrei e disse à minha colega: 'estou a fazer um enfarte'. E ela disse: 'não, doutor, está muito nervoso'", partilhou com Duarte Siopa, acrescentando que o eletrocardiograma não deixaria margem para dúvidas e o atiraria prontamente para o bloco operatório. Aconteceu num dia 13 de maio, o que levou o médico a dirigir-se a Nossa Senhora de Fátima a pedir pelo seu milagre.
De lá para cá, a sua saúde tem estado bem, ainda que o coração não lhe dê tréguas com a partida de alguns amigos especiais, como foi o caso de Pinto da Costa, parceiro de quase todo uma vida, de quem ainda hoje sente uma falta tremenda.