
Há muito que Elon Musk desperta atenções. Um dos homens mais ricos do mundo, fundador de empresas de sucesso como a Tesla ou a SpaceX, é considerada uma cabeça tão genial quanto perturbada. Mas nunca os olhos do mundo estiveram tão postos no magnata como nos últimos meses. Braço direito de Donald Trump no novo mandato presidencial, tornou-se numa das figuras mais poderosas do mundo e na cerimónia de tomada de posse foi um dos rostos em destaque. Da alegada saudação nazi aos movimentos estranhos que, volta e meia, era surpreendido a fazer, e que mostravam que, rodeado de centenas de pessoas, navegava no seu mundo próprio, Musk foi, sem dúvida, um dos reis da 'festa'.
A curiosidade em torno desta figura é imensa e a sua história de vida é, na verdade, digna desse interesse, ajudando, de acordo com psicólogos e especialistas, a explicar parte da personalidade de um homem que, aos 53 anos, não se encaixa socialmente e continua a viver na sua bolha, que é como um refúgio necessário para o diagnóstico de Asperger, dado bastante cedo aos pais do jovem Elon, nascido na África do Sul, numa família com três irmãos e mais violência do que afetos.
Na sua última biografia, lançada há dois anos, conta-se que Musk cresceu sob o jugo de um pai violento, o que marcaria para sempre a sua existência. Era muitas vezes, também, incompreendido. Aos três anos, a mãe conta que sentiu necessidade de o colocar na creche porque não era raro apanhar o filho a tentar manusear foguetes ou a brincar com coisas inapropriadas para a idade. Mas o seu percurso escolar era, então, longe de ser considerado promissor.
Musk tinha dificuldade em interagir com outras crianças, não criava relações e, com o avançar da escolaridade, começou a ser gozado, considerado estranho, o mais baixinho, tornando-se num alvo fácil para o bullying. Só que quando chegava a casa não encontrava a tão desejada estabilidade e acolhimento: era uma tortura a dobrar. Levava constantemente tareias do pai, que não tinha pejo em chamá-lo de "atrasado mental" ou "idiota".
As dificuldades em integrar-se no meio escolar geraram preocupação entre os professores, que chamaram os pais de Elon à escola para lhes dizer aquilo que consideravam óbvio, numa altura em que ainda não se olhava para a saúde mental como nos dias de hoje: "o seu filho tem um atraso mental", declararam. Era o início de um diagnóstico que mais tarde se fixaria no Aspeger (uma doença do espetro do autismo que afeta as capacidades de comunicação e relacionamento) e que, por mais ou menos acompanhamento, moldaria para sempre a sua personalidade.
Aos 12 anos, Musk revela que já vivia com "muitos demónios na cabeça" e foi por essa altura que revelou as primeiras tendências suicidas. "Fui moldado na adversidade", admite o magnata, que herdou do pai os ataques de fúria, que em diversas situações da sua vida não consegue conter. "Os demónios na minha cabeça são aproveitados, na maioria das vezes, para fins produtivos, mas às vezes as coisas correm mal", admite.
Apesar da sentença que parecia ser esta infância dramática, contra as expectativas da família e professores, foi quando começou a estudar Física que Musk se tornou num aluno brilhante, na universidade, e já liberto do domínio do pai, tendo encontrado também prazer nas festas e na vida boémia. Depois, começaria um percurso brilhante numa empresa de videojogos, que era apenas o início desta escalada até à fama, glória e miilhões - a fortuna está hoje estimada em 400 milhões de dólares.
RELAÇÕES TÓXICAS E PELO MENOS 12 FILHOS
Elon Musk chegaria ao topo de uma carreira de sucesso, liderando empresas milionárias e tornando-se no braço direito do novo presidente dos Estados Unidos, mas socialmente a escalada está longe de seguir o mesmo caminho. Como patrão, é considerado "execrável", "pouco humano", desligado dos problemas daqueles com quem trabalha. "Quando alguém não corresponde às suas expectativas ou comete um erro, não tem problemas em humilhar essa pessoa", pode ler-se na sua biografia, onde são descritas as suas "oscilações emocionais imprevisíveis". "É constantemente atraído pela tempestade e pelo drama."
As relações amorosas não fogem a esse padrão. Aos 53 anos, Musk tem 12 filhos, de muitas mães diferentes. Em 2002, Musk teve o seu primeiro filho, mas a chegada ao mundo esteve envolta em tragédia, com o bebé a morrer com apenas 10 meses, vítima de síndrome de morte súbita infantil. Após a perda, Elon e a então companheira, a escritora Justine Musk, recorreriam a uma técnica de fertilização in vitro para voltarem a ser pais, tendo gémeos em 2004, Griffin e Xavier. Este último acabaria por fazer a transição de género recentemente, adotando o nome de Vivian.
Dois anos depois, seriam pais de trigémeos, mas o divórcio aconteceria pouco depois, em 2008.
Entre as relações mais mediáticas e também mais explosivas está o romance com Amber Heard - que mais tarde estaria nas bocas do mundo devido às acusações de violência doméstica contra Johnny Depp. "A maioria das suas relações foram de pura turbulência psicológica, sendo que a mais angustiante foi a que manteve com Amber Heard, que o arrastou para um vórtice de obscuridade. Eram como Batman e Joker", é descrito na sua biografia.
O relacionamento considerado mais estável foi com a artista canadiana Grimes, com quem teve dois filhos. Em entrevista, ela contou que no primeiro encontro amoroso, Musk a levou à fábrica da Tesla e lhe fez um questionário sobre o 'Senhor dos Anéis', mas que os dois se entendiam naquilo que descreviam como e estranho mundo que partilhavam. Tiveram dois filhos e tudo parecia correr bem, até que a cantora foi surpreendida com a notícia de quem em simultâneo, o companheiro era pai de gémeos com Shivon Zilis, diretora de operações e projetos especiais da Neuralink, uma das empresas de Musk.
"Ele quer que as pessoas tenham filhos", sublinhou Shivon Zilis, mãe dos bebés nascidos em 2021, ao autor da última biografia de Musk.
Como pai, diz-se que transmite uma "doçura" acima da média, e uma preocupação acrescida com as crianças que herdaram alguns dos seus traços: tem um filho com autismo e mostra-se especialmente atento a Damian, o mais introvertido, que aos oito anos anunciou que era vegan e é considerado um prodígio da música clássica e da matemática.
Apesar do amor pelos filhos, estes não conseguiram restabelecer totalmente a paz de quem vive num turbilhão de emoções e entre 2017 e 2018 Musk enfrentou talvez a pior tempestade na sua saúde mental, entre a separação de Amber Heard e a notícia de que o pai tinha tinha tido um filho com a enteada. Para enfrentar a depressão, entregou-se de forma obsessiva ao trabalho na Tesla.
Com uma personalidade descrita como fanática, Musk admite ter aprendido a viver com os demónios na sua cabeça e, garante, não espera ser compreendido. "Sei que às vezes digo ou publico coisas estranhas na internet, mas essa é a forma como a minha cabeça funciona. A quem se sente ofendido, apenas quero dizer que reinventei os carros elétricos e estou a enviar pessoas a Marte. Pensavam que ia ser um tipo normal?", questionou.