'
THE MAG - THE DAILY MAGAZINE BY FLASH!

Os segredos de Marques Mendes, o falso certinho que goza com a sua própria estatura e assume não ter visto os filhos crescer: "A minha mulher foi mãe, pai e mais sei lá o quê"

Esteve dez anos no Governo de Cavaco Silva onde era visto como um 'Yes, minister', numa imagem que assume não corresponder à verdade. Na altura, tinha fama de chegar atrasado aos compromissos e abandonava reuniões para matar o vício do tabaco que o levava a fumar três maços por dia. Hoje, o novo candidato à Presidência da República, um noctívago assumido como Marcelo, admite ter-se corrigido e, aos 67 anos, diz-se pronto para chegar a Belém.
Rute Lourenço
Rute Lourenço
05 de fevereiro de 2025 às 20:14
Luís Marques Mendes com a mulher, Sofia
Luís Marques Mendes com a mulher, Sofia

No último domingo, Clara de Sousa despediu-se dele com emoção. Assinalava o fim do comentário político de Luís Marques Mendes na SIC para iniciar um novo ciclo com a candidatura a Belém, que é formalizada esta quinta-feira, dia 6 de de fevereiro, na sua terra natal, Fafe.

Um regresso aos palcos políticos, onde Marques Mendes começou cedo e sempre se sentiu numa espécie de habitat natural. Fez a universidade em regime de trabalhador-estudante e conciliava os calhamaços de Direito, em Coimbra, com cargos no Governo Civil de Braga e na Câmara de Fafe e, com apenas 28 anos, foi convidado por Cavaco Silva para integrar o seu Governo. Disse não três vezes até o convencerem na totalidade. 

"Convidou-me para vir para o Governo, para secretário de Estado. Pedi umas horas para pensar, mas respondi dizendo que não podia. Para minha surpresa, ele insistiu e pedi mais um dia para pensar. Julgo que o surpreendi, porque pensava que eu ia dizer que sim e voltei a dizer-lhe que não. Ele colocou aquele ar hirto, de autoridade, e perguntou-me se tinha alguma coisa contra ele. Disse-lhe que não", fez saber, em entrevista ao 'Observador', para recordar o início do seu percurso político, onde receberia a pasta da Comunicação Social.

Marques Mendes
Marques Mendes

Baixinho, sempre de cigarro na mão – fumava três maços por dia – acabaria por se tornar uma figura dos Governos de Cavaco Silva, deixando a pele no trabalho, o que coincidiu também com o arranque de uma vida familiar que, hoje, não se orgulha de não ter acompanhado.

Conheceu a mulher, Sofia, quando ainda estudava no liceu e nunca mais se largaram. "Começámos a namorar logo ali no 25 de abril, pouco tempo depois. Estudávamos ambos no liceu em Guimarães, conhecemo-nos aí, e, dois três meses depois da Revolução, começámos a namorar. Um produto da era da liberdade", afirmou na mesma entrevista, onde não poupa elogios à companheira por ter sido, durante os anos mais importantes da vida dos três filhos – Pedro, Ana Sofia e Miguel – mãe e pai.

"Extraordinária foi a minha mulher. Ela é que merece uma estátua não sou eu. Foi mãe, pai e mais sei lá o quê durante anos a fio. Digo isto sem orgulho e mesmo com alguma mágoa: não vi sobretudo os meus dois filhos mais velhos crescer. De repente, quando saio do Governo e tenho um bocadinho mais de tempo já tinham 8, 9 ou 10 anos. Isto já não se recupera. Dois meses depois de entrar para o Governo, aos 28 anos, estava a nascer o meu filho mais velho. Pensava que estaria um ano e meio e três anos no Governo — que eram de curtíssima duração — e apanhei um ciclo de 10 anos. Fui das cinco pessoas que estiveram do primeiro ao último dia com Cavaco Silva no Governo."

Luís Marques Mendes e Sofia
Luís Marques Mendes e Sofia

O caso podia ter deixado marcas na vida dos filhos, mas Marques Mendes afirma que a mulher soube sempre contornar a sua ausência, desdobrando-se para que nada faltasse às crianças. "Não foi nenhum drama, mas por causa da minha mulher. Ela supriu em grande medida a lacuna da minha ausência. Não poder ter tempo para ir à escola quando há a festa de fim de ano ou quando há a festa do Natal e noutros momentos, ela supriu tudo isto. Não mereço estátua nenhuma. Reconheço que a minha era baratinha face à minha estatura, portanto, não era um grande investimento, mas não mereço. De outra forma, os meus filhos teriam sido muito marcados negativamente. Claro que sentiram a ausência do pai, que viam muito a correr, e queixavam-se."

Como consequência, todos fugiram à política, a vida que juram não querer ter: um é advogado (de resto, a formação de Marques Mendes), a do meio Educadora de Infância e o mais novo Economista. "Nenhum dos meus três filhos foi para a política, nem sequer lhes passa pela cabeça. Nesse plano ficaram vacinados. A vida política é muito exigente do ponto de vista do tempo, sobretudo a governativa. Costumo dizer que, mesmo um governante que não seja um grande exemplo de competência, só a dedicação que tem de ter ao cargo já merece um enorme respeito. Quem passa por essas funções sabe que é uma vida muito exigente. Não se tem fins de semana, trabalha-se 12 ou 14 horas e a família paga essa fatura", explicou na mesma entrevista ao Observador.

Em 1992, e já numa altura em que os filhos estavam mais crescidos, a família acabaria por mergulhar de cabeça na vida política com a mulher de Marques Mendes a assumir o cargo de adjunta do então secretário de Estado da Agricultura, Álvaro Amaro, do Governo do qual ele fazia parte. Hoje, admite que essa acabou por não ser a melhor decisão.

Marques Mendes com a mulher e os netos
Marques Mendes com a mulher e os netos

"Olhando para trás, acho que foi um erro. Claro que se pode dizer que era então uma prática habitual. É verdade. Era assim nos Gabinetes do Governo como também no Parlamento Europeu. Mas não deixou de ser um erro", afirmaria, mais tarde no seu comentário na SIC.

O FALSO CERTINHO E O APURADO SENTIDO DE HUMOR

Aos 67 anos, Luís Marques Mendes e a sua imagem particular fazem com que o tenham como um tipo certinho, numa ideia alavancada pelos anos em que trabalhou com Cavaco Silva.

"A imagem que tinha era péssima. Pensa que não sei fazer a minha autocrítica? Sei, era péssima. Era um pouco a imagem, do "Yes, Minister?". Era a imagem de quem não tinha voz própria, pensamento próprio, que pensava, agia, falava, comunicava tudo em função do líder, que era quase uma marioneta", recordou, fazendo uma autocrítica dos seus primeiros tempos na política.

Luís Marques Mendes
Luís Marques Mendes Foto: Cofina Media

No entanto, na vida como na profissão, Marques Mendes assume ser muito menos certinho do que aquilo que as pessoas julgam. Notívago assumido, vive e pensa quando os outros dormem e no Governo de Cavaco Silva, era conhecido por nunca chegar a horas a lado nenhum e por a abandonar reuniões para colocar o vício do tabaco em dia. "Sempre fui bastante menos certinho do que aquilo que se convencionou", diz quem na juventude usava cabelo comprido e calças à boca de sino. "Havia duas coisas que se usavam muito em 1975: o cabelo compridíssimo e as chamadas calças à boca de sino. Também usava. No resto estou igual: já era pequenino à época e continuo hoje. Não há aí diferenças substantivas", brincou, naquilo que admite ser uma espécie de marca sua: não ter medo do ridículo, fazer piada das suas particularidades, algo que herdou da mãe.

"Eu sou a pessoa que mais brinco com a minha estatura e acho isso divertidíssimo e não me incomoda nada quando alguém brinca com isso."

Dos três maços por dia que em tempos fumou, hoje apenas vai buscar um charuto em ocasiões especiais, como aquele que certamente virá esta quinta-feira quando for oficial que está de volta ao seu maior vício: a política, que respira desde cedo por influência do pai.

você vai gostar de...


Subscrever Subscreva a newsletter e receba diariamente todas as noticias de forma confortável