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Os segredos do "Super Zé": como José Rodrigues dos Santos produz livros com histórias suculentas à velocidade da luz, vende milhões e se mantém como principal pivô da RTP

Perdeu a conta a quantos livros já vendeu depois de ter virado a fasquia dos três milhões. É o autor mais vendido em Portugal e acaba de lançar mais um romance, o 25.º. Mas o pivô do 'Telejornal', que se despede com sorrisos e piscadelas de olhos aos telespetadores, é mesmo uma máquina a escrever. Focado, disciplinado, sem inseguranças ou medo de falhar. Ele revela tudo: O que pensa e faz.
João Bénard Garcia
João Bénard Garcia
28 de setembro de 2023 às 23:02
José Rodrigues dos Santos, Mulher Florbela Cardoso,Filha Inês Cardoso Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos, Mulher Florbela Cardoso,Filha Inês Cardoso Rodrigues dos Santos
Judite de Sousa, José Rodrigues dos Santos
josé rodrigues dos santos com a mulher no Estoril Open
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José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
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José Rodrigues dos Santos, Florbela Cardoso, Catarina, jornalista, RTP, escritor, pivô
José Rodrigues dos Santos
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José Rodrigues dos Santos
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José Rodrigues dos Santos
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José Rodrigues dos Santos
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José Rodrigues dos Santos, Mulher Florbela Cardoso,Filha Inês Cardoso Rodrigues dos Santos
Judite de Sousa, José Rodrigues dos Santos
josé rodrigues dos santos com a mulher no Estoril Open
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos, Florbela Cardoso, Catarina, jornalista, RTP, escritor, pivô
José Rodrigues dos Santos
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José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos
José Rodrigues dos Santos

Prático, pragmático. Rápido no gatilho. Assim é José Rodrigues dos Santos, 59 anos, jornalista, pivô do 'Telejornal' na RTP1, repórter de guerra, professor, pai e marido, e escritor de 'bestsellers'.

'O Segredo de Espinosa' (chega às livrarias a 19 de outubro) é um romance sobre o influente filósofo europeu, filho de judeus convertidos expulsos de Portugal pela Santa Inquisição que se radicaram em Amesterdão no século XVII, o século dos absolutismos, da explosão das ciências e do dealbar do iluminismo na Europa e no mundo.

Este é o 25.º romance de um dos mais profícuos escritores portugueses da atualidade, que por outras palavras assume ser "aquela máquina", como publicitava o antigo anúncio da marca Xerox. Seja a pesquisar, compilar ou redigir narrativas.

O próprio assume a sua proficiência: "Sou uma pessoa que tem uma grande capacidade de trabalho. Consigo organizar-me. E isto é uma coisa que gosto de fazer, arranjo o tempo. Sai-me muito texto, dez páginas por dia", e com uma vantagem, apesar de fazer sempre o exercício do rigor, uma das ferramentas essenciais do jornalismo, que pode bem virar defeito na pena de um romancista: não tem medo dos falhanços. "Gostaria de não falhar, mas se falhar, faz parte da vida, e ninguém tem de se envergonhar por isso", assume.

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Novo vídeo viral de José Rodrigues dos Santos

No momento em que chega às livrarias a mais uma obra do escritor, que diz já ter perdido a conta aos livros que vendeu depois de ter virado a fasquia dos três milhões de cópias, The Mag desvenda o que sente o autor mais vendido de sempre em Portugal:

Como encara os ataques de que é alvo, as polémicas que suscita e as que lhe inventam; como é olhado de soslaio pela restante fauna literária nacional; como cria histórias suculentas que o público quer ler, sem se tornar demasiado num 'Pop writer'; ou ainda como a mulher, Florbela Cardoso, a sua maior crítica, o ajuda na leitura final.

 

CAPACIDADE NATA DE ESCREVER

Numa entrevista à jornalista Anabela Mota Ribeiro, publicada no jornal Público em 2010 - ainda a procissão da sua veia de romancista ia no adro - José Rodrigues dos Santos confessa então que, ao contrário de outros escritores, a quem a escrita afeta bastante a vida pessoal, inclusive as rotinas do dia a dia, seja com clausuras forçadas, pânico das páginas em branco ou perturbações do sono, para ele, o ato de pesquisar e escrever é tão natural como beber água. "Comigo é o contrário! Estar a escrever um livro não afeta a minha vida".

A sua curiosidade natural de jornalista, a busca constante por factos, histórias e temáticas para um próximo romance, de preferência com amplitude universal, fazem dele um escritor único.

Na mesma conversa para o Público, o então já autor de bestsellers revelava a razão do seu prazer na escrita. "Os meus romances têm uma pesquisa que vai muito além da minha vida. Aprendo muito quando estou a pesquisar para eles. Não faço é da minha vida a minha pesquisa", dando um exemplo prático o nome de um autor que o fazia: "A situação de Luis Sepúlveda (escritor chileno, falecido em Espanha em 2020 vítima de Covid-19) era diferente. Foi feito prisioneiro, combateu em conflitos armados. Eu, embora tenha estado em conflitos armados, não combati. O trauma que ele tinha é diferente do que eu possa ter – que aliás, é nenhum. Nunca tive necessidade de fazer literatura psicanalítica", resume.

A BORRIFAR-SE PARA OS CIÚMES

Assumindo que o seu trabalho fora do jornalismo é escrever romances, e que "se as pessoas gostam, maravilha, ficamos encantados", Rodrigues dos Santos jura que não anda a medir quem vende mais ou menos do que ele em Portugal - Se é ele, se é o malogrado Nobel da literatura José Saramago, o psiquiatra e escritor António Lobo Antunes ou o colega jornalista Miguel Sousa Tavares.

Sendo ele o escritor que estatisticamente mais vende em Portugal (e também em países como a Turquia) acredita que pode haver ciúme de alguns escritores em relação a jornalistas, como ele, que se lançaram em força no campo literário e atira: "Se existe ciúme, é um ciúme absurdo. Não sei o que é que os escritores pensam disto. E para dizer a verdade, estou-me borrifando".

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José Rodrigues dos Santos fala de 'vício': “Quase escrevi o primeiro romance por acidente”

Além de correr sempre o risco de não ser considerado entre os seus pares na escrita, ou também entre a categoria dos editores livreiros, como Francisco Vale, editor da Relógio D'Água, que o detesta – e que cita Umberto Eco para defender que o que Rodrigues dos Santos, tal como Margarida Rebelo Pinto escrevem não é literatura, "é paraliteratura" que "busca o divertimento por si e efeitos emocionais fáceis" - o pivô dos telejornais da RTP1 tem consciência de que se tornou um alvo fácil de atacar, uma boa placa para setas de tiro ao alvo.

"Estamos a expor-nos, o risco é maior (…) Quem tem uma carreira feita na área da escrita – o jornalismo é escrita –, quando escreve um romance está a dar o flanco, não é? A obra pode ser má, primeiro ponto, e a pessoa faz uma figura ridícula. Segundo, quem não gosta dele pode atacar à vontade, tem ali caminho aberto. Mas isto não é válido só para jornalistas. Qualquer pessoa que tenha notoriedade torna-se um alvo", afiança.

UM ESCRITOR MUITO ROCÓCÓ

Ciúmes, invejas e alvos fáceis à parte, como é que o autor, que acaba de lançar "O Segredo de Espinosa", constrói os seus romances? "Para começar, o mais importante é ter uma boa história e depois encontrar uma boa maneira de a contar". José Rodrigues dos Santos advoga ainda que um dos seus lemas na escrita é "cortar palavras" - e depois lança livros de 600 ou 700 páginas, a que um leitor mais preguiçoso chamaria "tijolo" ou "calhamaço", ao ver nos escaparates das livrarias ou nas bancas dos supermercados.

"Super Zé" assume também que não desbasta muito o que escreve. "Escrevo, e depois vou apurando o texto", conta, confessando que se escrevesse em papel, e não no computador, as páginas manuscritas ficariam deveras rasuradas.

"O texto é sempre depurado. O estilo é trabalhado. Vemos (com o editor) se determinado diálogo soa bem. Se certa citação é redundante ou não. Em vez de uma palavra, escolhemos outra. É um trabalho às vezes barroco. Embora o leitor não note, tem influência na qualidade. Procuro fazer com que as palavras sejam – como disse o Ian McEwan – como água. Transparentes. Quando lemos o livro, não lemos as palavras, lemos a cena que as palavras nos dão. É esse o meu exercício". E acrescenta: "Escrever complicado é a coisa mais simples. O difícil é escrever simples. Não é simplista, é simples. O grande desafio do escritor é tornar as ideias cristalinas."

ENTRETANTO VEM AÍ O 'CODEX'

Hoje é um fenómeno de vendas, com milhões de cópias vendidas em todo o mundo, mas o arranque foi coxo e só salvo pelo "Codex 632", que deu origem a uma série que estreia a 2 de outubro na RTP1. "O primeiro livro que começou a vender bem foi 'A Filha do Capitão'. Chegou ao sétimo lugar do Top da FNAC. Vendeu nesse ano 30 mil exemplares. Foi um livro em que já tínhamos encontrado um caminho. O resto foi seguir as nossas convicções e o instinto. O 'Codex' duplicou as vendas do anterior. O público estava criado", reconhece.

Tal como reconhece saber o que esse público quer: "Tenho uma vantagem que nasce do facto de ser jornalista (e por essa razão, tantos jornalistas escrevem livros). Enquanto jornalista sou obrigado a escrever de uma forma interessante sobre coisas interessantes. Se o assunto é desinteressante e está escrito de uma forma desinteressante, nem sequer é publicado. Estamos sempre a pôr-nos na posição: será que a pessoa está interessada nisto?".

Rodrigues dos Santos assume que "essa ponderação já é automática. O meu agente na América disse-me num almoço: ‘Podemos gostar deste autor, e daquele, e daquele. Mas há uma coisa que é eternamente verdade: todos os autores que tiveram êxito trouxeram alguma coisa de novo, fizeram sempre o trabalho de casa. Os intelectuais podem falar mal, mas aquele autor tem qualquer coisa que não existia antes, e conta-a de forma detectivesca".

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Filomena Cautela goza com José Rodrigues dos Santos

QUANDO A MULHER O OLHA DE LADO

Garantindo na mesma entrevista ao Público que não é inseguro e justificando a resposta com o facto de assim ser porque faz "sempre o trabalho de casa" e a insegurança "normalmente nasce da má preparação", o jornalista revela ainda o momento em que Florbela Cardoso, sua mulher há 35 anos, companheira de escritório nas manhãs de escrita e parceira de leitura e revisão final de prosa, o olha de soslaio, muitas vezes estarrecida com o que acabou de ler.

"Talvez algumas coisas transpareçam inconscientemente… Uma personagem minha faz uma coisa moralmente questionável, e a minha mulher começa a olhar para mim… Hum. A ver se aquilo é o que penso, se é um desejo reprimido. Nos romances somos quem somos, quem não somos, quem gostaríamos de ser… As nossas opiniões estão lá, mas estão escondidas até de nós próprios", justifica.

Sobre o papel da mulher, professora de história, no seu trabalho, José Rodrigues dos Santos não esconde a sua importância. "Ela ajuda-me. Ajuda-me a perceber como é que um leitor lê o livro. Certos livros, leu-os à medida que escrevi ('Codex', 'A Fórmula de Deus', 'O Sétimo Selo'). Todos os outros, só no fim. Ela dá-me a impressão que o leitor tem. E isso é importante, porque eu não trabalho só para mim, trabalho para o leitor", remata.

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