Durante 42 anos, Pinto da Costa foi o líder máximo dos dragões e as mordomias estendiam-se à família e aos amigos mais chegados que, mais direta ou indiretamente, beneficiavam do estatuto presidencial. O filho, Alexandre, era responsável por mediar as principais transferências de jogadores, num provento económico que está agora debaixo da mira do Ministério Público, e a filha, Joana, assim que terminou a sua formação académica, recebeu um passaporte dourado para o departamento de marketing do clube, de onde foi dispensada assim que André Villas-Boas chegou ao poder, tal como aconteceu com a maioria daqueles que estavam próximos da anterior direção.
A Flash! sabe que, desde então, Joana ainda não encontrou qualquer solução para o seu futuro profissional, e nos últimos meses essa não foi uma preocupação, uma vez que aproveitou o maior tempo livre para dar apoio ao pai no momento mais desafiante da sua vida. No entanto, agora que Pinto da Costa faleceu, é tempo de começar a reorganizar a sua vida, o que, no entanto, não se prevê fácil. "A Joana tem três filhos, e o marido é treinador (atualmente está no Feirense), portanto, tem aqui uma logística familiar complexa. Além de que, já se sabe, o Porto, apesar de ser uma grande cidade, acaba por ser um meio pequeno, e o apelido dela é muito forte. E se tantas vezes a beneficiou, agora é o contrário", diz uma fonte.
Em relação a Alexandre Pinto da Costa, o filho mais velho, o cenário é ainda mais complicado. Ao longo dos últimos dois anos, esteve distante do pai, o que quer dizer que há muito que se acabaram os negócios no FC Porto. Além disso, no mundo do futebol, o seu nome ficou também muito queimado por causa da ligação ao pai e das polémicas em relação à gestão de Pinto da Costa, havendo ainda uma investigação do Ministério Público a decorrer e que quer que haja uma explicação sobre um esquema que terá sido usado no mercado de futebolistas, com milhões em comissões não declarados. Tudo isso levou a que Alexandre ficasse com a reputação manchada no futebol, onde os contactos valem ouro.
Depois da morte do pai, ambos preparam-se agora para uma nova etapa, não isenta de desafios. Em primeiro lugar, têm de resolver a questão das partilhas, após a leitura do testamento. E apesar de o pai ter sido claro, pedindo aos dois que se entendessem, a realidade é um pouco mais complexa. Joana – filha de Filomena Morais – e Alexandre – fruto do primeiro casamento, com Manuela Carmona – sempre tiveram feitios muito diferentes, tantas vezes incompatíveis e as personalidades fortes prometem continuar a chocar naquilo que ambos consideram a defesa dos seus interesses.
Além disso, ainda temos de colocar nesta equação Cláudia Campo que, apesar de não ser legítima herdeira, deverá ser contemplada em testamento, com Pinto da Costa a não esquecer a entrega e generosidade que a bancária lhe ofereceu ao longo dos últimos anos, e principalmente nos últimos meses de vida.
UMA FORTUNA DE QUANTOS MILHÕES
Uma das grandes questões que se impõe agora é a de se perceber, ao certo, qual é a dimensão da fortuna do antigo presidente dos dragões e aqui há várias questões a ter em conta. Em primeiro lugar, aquilo que as contas mostram sobre o que recebeu oficialmente pela administração do clube – e que nos últimos anos se centra entre os 700 mil e o 1 milhão de euros – mas depois há investigações a decorrer que sugerem que Pinto da Costa poderá ter engrossado a sua fortuna ilegalmente, com dinheiro que pertencia ao clube.
Há ainda várias casas valiosas, muitas delas situadas no Porto, e sobre as suas contas, o portista fez questão de esclarecer em vida que tudo o que tinha está nos bancos portugueses, tendo garantido não ter sociedades ou quaisquer contas escondidas em paraísos fiscais.
"Neste momento, duas preocupações enchem a minha cabeça e o meu coração. Na minha falta, como será o relacionamento dos meus filhos? Como se vão entender na divisão dos meus bens? Já lhes lembrei o que a minha querida mãe nos dizia, a mim e aos meus irmãos: 'Entendam-se, senão metade do que vos deixo será para os tribunais e advogados.' Sábias palavras, que todos seguimos, e tudo dividimos sem o mínimo atrito", deixou claro no livro 'Azul até ao Fim'.
Uma preocupação que era real e que poderá agora ter repercussões da pior forma, uma vez que sem o pai para mediar os conflitos, os dois irmãos terão agora de chegar a um acordo pela via da conversa, o que poderá revelar-se mais difícil.
