
Na verdade, a decisão do arquivamento do processo já era previsível desde o ano passado, altura em que o magistrado Daniel Albregts enviou um parecer à juíza defendendo que o advogado de Mayorga "agiu de má-fé em detrimento de seu cliente e da sua profissão". Porquê? O magistrado responde: por "receber e usar os documentos do ‘Football Leaks’ para avançar com o caso".
É neste ponto que vale a pena recuar no tempo. Em 2017, o jornal alemão Der Spigel publicou uma longa matéria intitulada 'O segredo de Ronaldo' a partir de documentos da investigação 'Football Leaks' - sim, essa mesma que foi tornada pública graças ao hacker português, Rui Pinto. Nessa matéria, entre outros assuntos do foro económico, eram reveladas conversas entre os advogados do jogador, a propósito do caso Mayorga e da época em que a norte-americana aceitou retirar as acusações contra Cristiano Ronaldo e assinar um acordo de confidencialidade em troca da (então irrisória) quantia de 354.644 euros. Estamos a falar em agosto de 2010, um ano depois do "episódio do quarto de hotel em Las Vegas".
Foram agora as conversas sobre o caso, tornadas públicas nos documentos do 'football leaks' que vieram agora à discussão, tendo a juíza, como o magistrado, considerado que os mesmos eram "documentos confidenciais roubados" e justificando assim como inadequada a conduta do advogado de Mayorga, ao usar os mesmos para a defesa da cliente. Ou seja, feitas as contas, o advogado da norte-americana levou uma reprimenda, a juíza considerou que não ficou provado que tivesse havido qualquer coação por parte dos advogados do craque para Mayorga aceitar os tais 300 mil euros em 2010 e sobre a alegada violação no quarto de hotel em Las Vegas - ou melhor, sobre o sexo consentido ou não, o tribunal não se pronunciou. Fim de história, papéis arquivados, seguimos em frente.
Mas acaba mesmo aqui o caso Mayorga? Na teoria, a norte-americana pode recorrer da sentença. Mas com um relatório de um magistrado, uma decisão de uma juíza e uma humilhação pública dos seus advogados, é pouco provável que o faça. Ronaldo sempre negou as acusações que lhe foram feitas, defendendo que o aconteceu entre quatro paredes foi consentido. Chegou a fazer um comunicado no qual considerou a violação um "crime abominável" e reiterando a sua inocência. Agora provada pelos tribunais.
Então o que se segue? E o que implica esta "absolvição" com base nos argumentos expostos?
Começando a resposta pelo fim, o arquivamento do caso, para Mayorga, é sinónimo de mais um duro golpe na "causa" #metoo. Note-se que a norte-americana entra com o novo processo sobre o craque numa altura em que o movimento #metoo vivia uma época de ouro nos Estados Unidos, com vários casos de assédio sexual e abuso sexual a serem revelados. O mais mediático foram as acusações contra um dos mais famosos produtores de Hollywood, Harvey Weinstein, relatadas na imprensa de Nova Iorque em 2017 - mesma época em que o caso Mayorga é revelado.
Denúncias sobre denúncias, no escudo deste movimento, foram feitas, nomes poderosos caíram em desgraça. Vozes (inclusivamente femininas, como Catherine Deneuve) manifestaram-se contra a "caça às bruxas" que se viveu nesse período mas só mais tarde, sobretudo com a pandemia, o movimento foi perdendo força. O "fim" do caso Mayorga e a desacreditação do processo é mais golpe contra o #metoo e a denúncia por parte de homens e mulheres de flirts ou sexo não consentido.
Por outro lado, quando a juíza Jennifer Dorsey considera que os documentos que fazem parte da investigação 'football leaks' não são válidos e, mais, os considera "roubados", abre, inevitavelmente, a discussão em cima de outros processos nos quais os mesmos documentos poderão estar a ser utilizados, sobretudo no âmbito do crime de "colarinho branco". Estaremos, então, perante uma decisão que pode fazer jurisprudência e enfraquecer outras investigações? Essa é uma questão em aberto.
ABRAM ALAS AO INVESTIDOR RONALDO
Já houve um tempo, em que Ronaldo namorou muito em Nova Iorque... com Irina Shayk, antes do romance entre ambos ter início, na cidade que nunca dorme. Já houve um tempo em que flirtou com Paris Hilton nas discotecas de Las Vegas - imediatamente antes do "incidente" Mayorga. Houve ainda um tempo em que possuía um apartamento na sumptuosa Trump Tower, em Nova Iorque e sonhava investir naquele país que transformou o já milionário David Beckham num super empresário investidor no futebol, no turismo, imobiliário e sabe-se lá que mais negócios. CR7 chegou a programar o seu futuro com investimentos na Florida, mas com as restrições que lhe limitaram durante anos o acesso aos Estados Unidos, o sonho foi adiado. Sonho que pode agora tornar-se realidade.
O caminho para a América está aberto de novo. Ronaldo pode, incluisivamente, visitar o hotel com o seu nome - Pestana CR7 - que abriu no ano passado em Times Square, Nova Iorque, e onde ainda não conseguiu estar.
Aliás, cuidar dos negócios e investimentos é algo que não pode deixar para trás este ano que mais parece de recomeçou ou, se calhar, de definição do futuro que é cada vez mais presente. Em novembro joga com a camisola de Portugal o Mundial do Qatar - que, possivelmente, poderá ser o seu último. E é para trazer o troféu para Portugal e para o seu currículo que não tem comparação - mas no qual ainda falta este feito: ganhar um Mundial de futebol. Sobre os próximos tempos no Manchester United (onde afinal não foi feliz) está aparentemente tudo calmo - embora isso possa mudar a qualquer momento dado o desapontamento do craque.
Há quem fale de um possível regresso a Portugal - o maior desejo da mãe Dolores - e para isso tem contribuído a construção a todo o gás de uma mansão "gigante" na Quinta da Marinha, que segundo adiantou esta semana o jornal britânico Daily Mail, já "dobrou" o valor para que ali possam estar garantidas todas as medidas de segurança necessárias para o craque e sua família.
Ou seja, tudo em aberto para começar a ser fechado, a gosto e de acordo com a vontade de Cristiano: negócios pelo mundo fora (América agora incluída), mudança para Cascais e até quando, onde e até quando continuará a jogar futebol. Que está em forma ninguém duvida, que a seleção precisa dele muito menos. Mas até os super-heróis têm de pensar no futuro e CR7 está a fazê-lo... discretamente.