Ana Bustorff : a dor de viver um cancro de uma forma muito solitária

Foi um verdadeiro pesadelo quando numa simples consulta de rotina descobriu cancro da bexiga: "Detetei por acaso a doença, numa consulta de rotina a que fui de controlo da mama, do útero, dos ovários... A médica disse que a bexiga tinha uns contornos... Não tinha sintoma nenhum, não urinava sangue", revelou Ana Bustorff, em 2019, numa conversa intimista com Daniel Oliveira no programa 'Alta Definição', da SIC.

Cinco anos depois desta revelação, a atriz volta a falar do assunto com Ana Rita Clara na TVI Ficção. Assume que quando se tem um diagnóstico como aquele que lhe dado passasse a ter a noção de que "é tudo muito efémero". "Mas eu já nasci com a ideia de que é tudo muito veloz. Que amanhã, podemos já não estar cá. Sempre vivi muito intensamente. Para mim, sempre foi muito clara a ideia de que hoje é este dia... amanhã não sei", começou por dizer.

Esta faceta da sua personalidade acabou por ajudar muito na forma como encarou o cancro. "É uma doença muito solitária. Há um silêncio e uma quietude que é nossa. Mas vezes as pessoas não percebem muito bem esse lugar onde somos colocados. Eu, por acaso, sou faladora e sempre partilhei... a quimioterapia para mim, por íncrivel que pareça, foi muito importante. Era uma sala cheia de gente que eu sabia que estavam nas mesmas circunstâncias que eu", assume Ana Bustorff.

Continua: "Fiz quase tudo sozinha... porque tinha de ser. Todos os meus irmãos estavam a trabalhar, muitos  nem sequer vivem no Porto. [...] Precisamos sempre uns dos outros, mas naquele momento aquelas pessoas eram mais importantes para mim do que uma pessoa que não estivesse a passar por esta doença tão horrível, entre aspas."

"Há um silêncio enorme. Uma solidão muito grande. Mas é mesmo assim. Não se entra porque é uma coisa muito connosco. Um confronto com a vida, morte, doença... uma coisa muito estranha", assume ainda Ana Bustorff recordando uma fase menos positiva da sua vida.