
A noite de sábado, 6, era para ser de triunfo, "bonita e cheia de emoções", mas acabou transformada em "filme de terror". A praça de Coruche encheu-se de público para a corrida de homenagem ao bandarilheiro Manuel Badajoz.
Na arena, o espetáculo estava a cargo dos cavaleiros, Luís Rouxinol, Manuel Telles Bastos, Ana Batista e João Moura Júnior, dos matadores Nuno Casquinha e Diogo Peseiro e ainda dos grupos Forcados Amadores de Coruche e Aposento da Moita. Os toiros vieram da ganadaria São Torcato.
E foi a bravura do curro de toiros que transformou a noite em pesadelo. Ana Batista e João Moura Júnior sofreram aparatosas colhidas quando lidavam o 2.º e 6.º da noite, respetivamente. Ambos foram assistidos na enfermaria da praça e transportados ao hospital de Santarém para observação.
A cavaleira de Salvaterra de Magos sofreu um golpe na cabeça e o filho mais velho de João Moura sofreu um corte interno e externo no lábio inferior e uma forte pancada na cabeça.O forcado do aposento da Moita, Luís Fera sofreu fraturas craneana e facial, foi transportado de helicóptero para o Hospital de São José em coma induzido.
Para além de ter que recuperar fisicamente, João Moura Júnior está devastado psicologicamente. O cavalo Xeque-Mate, uma das estrelas da quadra do cavaleiro de Monforte, sofreu uma fratura exposta e acabou por ser abatido no domingo e sepultado na quinta do cavaleiro.
De luto, João Moura Júnior escreveu um longo texto a homenagear o cavalo que o acompanhou em muitas tardes e noites de glória durante 10 anos. "Neste momento as piores feridas estão por dentro", lamenta-se.
"A noite de Coruche foi a pior, vivida em toda a minha carreira enquanto cavaleiro, enquanto Homem, enquanto amante dos animais e, sobretudo, enquanto fiel amigo dos meus cavalos. Perdi um companheiro com que trabalho há quase 10 anos, todos os dias, e com o qual criei fortes laços e sentimentos que sei que eram mútuos", garante o cavaleiro.
"Quando começou a tourear comigo, ainda jovem e no "tércio" de saída, era aquele cavalo que ao entrar em praça dava um suspiro forte e sentido, como se estivesse a dizer: 'Estou pronto! Vamos a todas!'"
"Juntos corremos quase todas as praças de Portugal, de Espanha e de França, as praças mais importantes do mundo. Os dois, mano a mano..."
"Tal como todos os bons guerreiros, o Xeque-Mate quase sempre estava guardado para o toiro mais complicado, tinha um poder de superação enorme. Fazia do difícil parecer fácil, tivemos tantas e tantas tardes complicadas..."
"Com ele sentia-me seguro, mesmo que não toureasse com ele, apenas saber que estava ali para mim transmitia-me tranquilidade. Era o meu seguro de vida. Aquele que nunca me falhava e que dava a cara até ao fim, sem nunca me desiludir."
Esta ligação quase perfeita terminou da forma mais dramática, numa corrida de toiros com demasiadas emoções. "O Xeque-Mate fez uma fratura exposta na pata direita. As hipóteses caíam sobre o mais difícil e seguiram-se as recomendações do médico veterinário, de maneira a eliminar o seu sofrimento e assim garantir o seu bem estar."