
Ljobomir tornou-se um fenómeno seríssimo de popularidade em Portugal. Em apenas três semanas. Andou anos a dar conta (e muito bem) de um restaurante que assustava os politicamente corretos que ali se dirigiam, graças a uma foto tão divertida e como assustadora que dá as boas-vindas a quem ali chega. Falo do seu restaurante "100 Maneiras", que ocupou o lugar do mítico mas falido Bachus, e que captou uma clientela de elite, com dinheiro para pagar contas de engolir em seco, mas que não tornou popular o sérvio bruto como as casas. Essa massificação da fama chegou agora, na aplicação deste conceito "sem maneiras" na televisão, ao bom estilo - malcriadão, asneirento e ao mesmo tempo com um sentido de humor cortante - no programa ‘Pesadelo na Cozinha’.
Mas não é sobre este chef que vamos falar. É sobre esta apetência nacional para a comezaina. E não é só a evidência dos programas de gastronomia serem um êxito na televisão. É que Portugal, verdade seja dita, só pensa em comer. Vamos às provas? De "barriga feita, companhia desfeita" ou de "um homem conquista-se é pelo estômago", esses ditados tão repetidos? Vamos às provas, então. Às que me inquietam, pelo menos…
Quantos locais existem em Lisboa onde se possa fazer "o pleno"? O que é o pleno? Chegar, tomar um copo, dar dois dedos de conversa com os amigos, sentar para jantar, ficar à mesa na conversa na conversa sem ser importunado para sair pois há alguém à espera para o "turno seguinte", ir beber um copo a seguir e dançar. Tudo no mesmo espaço em vários ambientes? Aceito respostas para este mail. Sim, recordo-me de vários que já existiram em Lisboa: do Alcântara Café/Mar ao Indochina ou Zocco. Claro que hoje é possível falar da Bica do Sapato e do Lux, ali ao lado, separados por meia dúzia de passos a pé excelentes para estragar saltos altos. Ou, dos mesmos "criadores", o novo Pap’Açorda, no Mercado da Ribeira, com o Rouge mesmo ao lado – onde ninguém dança e se limita a "estar" (ainda por cima de pé). Ok, temos o Guilty, que nasceu com esse conceito mas se tornou demasiado "prático", e, falando no chef Olivier (com 'mundo' suficiente para perceber este conceito instituído nas principais capitais do planeta) tenho de confessar que sinto falta das festas do Olivier Avenida e tenho pena que o Petit Palais esteja transformado num espaço de eventos. E não de "noite após noite", com reserva para jantar e festa a seguir. Pior, uma destas noites fui jantar ao novíssimo Beco, do chef Avilez, cujo conceito é até revolucionário na capital mas, terminado, o jantar degustação e o show, perguntei: "Então e agora? Vamos onde?" Resposta: para casa, pois o espaço tem de fechar e não está programada para que os clientes continuem a divertir-se e, já agora, gastar dinheiro a consumir.
A questão que se coloca, então, é: será que não há publico para espaços de "entretanimento", só de gastronomia? Ou será que estes dão muito trabalho? Ou se servem almoços e jantares ou se servem copos? O que se passa com os portugueses? Estão velhos demais para sair à noite? Ficam tão cheios com a jantarada que preferem fazer a digestão na cama em vez de pular um pouco? Porque, convenhamos, nesta nova Lisboa turística, virada para fora, eu só vejo abrir tascas (chiques e pelintras), restaurantes de quem percebe tanto daquilo como de fotocopiadoras, espaços que se copiam uns aos outros de acordo com "a moda". Mas não vejo novidade, arrojo e, sobretudo, "entretenimento" com nível internacional: boa mesa, boa festa – tudo num espaço só.
E se Portugal quer crescer e não ter só turista de troley para low cost, ou terceira idade que precisa é de paz e sossego, é bom que comece a pensar mais além. Porque quem paga exige. Senão escolhe outro destino, mais divertido. Ou espera pelo Verão e vai até ao Algarve porque, durante 15 dias, os primeiros de Agosto, Portugal entra o mapa e parece que chegámos a outro planeta, onde não se come apenas, mas vive-se!