
Tem tudo (ou quase tudo) para se transformar num grande reality show – se preferirmos, num grande programa de entretenimento televisivo. É "fresco", tem mistério, a história é contada como se numa série policial estivéssemos, mexe com raciocínio, tem "ganchos" – pontas soltas que ligam um episódio ao seguinte – e conseguiu concorrentes interessantes, que não se limitam a "estar ali". ' E, com tudo isto, eis a verdade: 'Os Traidores' estrearam com valores interessantes e na semana seguinte deram um tombo monumental ficando, inclusivamente, atrás de 'The Voice Kids', da RTP1 – outro formato fantástico, que não ganha os favores do público.
O que se lê de todo este enredo? Em primeiro lugar que os espectadores não estão interessados em pensar, nem em produtos mais esforçados, seja num domingo à noite ou em qualquer outro dia da semana. Canal de televisão que quer ver o seu público feliz tem de dar 'Domingão', 'Somos Portugal', 'Festa É Festa'... qualquer produto fácil, que desperte o riso e não obrigue a grandes raciocínios – porque para complicada já basta a vida. Em alternativa que garanta uma boa discussão e "diz-que-diz", como acontece como 'Big Brother' e seus "afiliados". E é o que temos. Provavelmente daqui a pouco tempo, qualquer repetição de 'Terra Nossa' irá garantir à SIC mais audiências do que 'Os Traidores'. O que nos leva a colocar questões de fundo sobre o futuro da TV em sinal aberto e dos seus produtos: até que ponto vale a pena investir na diferença ou na qualidade, se esta rende zero? Para onde estamos a caminhar? Para a estupidificação da audiência? Pois é... complicado...