
Em 21 anos de profissão, devo ter falado umas 10 vezes com Pedro Lima. Não éramos por isso amigos, longe disso. Mas há umas coisas que sei sobre o Pedro e que tenho de as dizer, agora que ele nos quis deixar, sabe-se lá porquê: além de ser um excelente ator, era um homem honesto, simples, acessível, afável e divertido. Mantivemos sempre uma relação de respeito. "Leio a ‘TV Guia’ porque é uma das minhas referências na área da televisão", disse-nos em 2019 e a posar com a revista na mão.
Ao contrário de muitos tristes que andam por aí, armados em atores e apresentadores, mais interessados em sacar dinheiro com as festas, mentiras ou publicidade do que em trabalhar, o Pedro honrava a sua arte. Aceitou sempre dar-nos entrevistas. Aceitou sempre fazer connosco uns "bonecos" na praia, a surfar ou no seu seio familiar. Aceitou sempre qualquer reportagem proposta por nós, e se metesse o Sporting, clube do seu coração, ainda melhor. Nunca inventou desculpas por estar cansado, e suava mais do que muitos tristes que conheço. Nunca nos desligou o telefone, como muitos tristes que conheço. Nunca nos disse para falarmos mais tarde e depois nunca mais nos atender, como muitos tristes que conheço. Nunca nos traiu.
Em Andorra, há dois anos, abriu o livro e - lá está -, ao contrário de muitos tristes que andam por aí sempre felizes nas redes sociais, onde a vida é cor-de-rosa de segunda a domingo, assumiu que "andava muito preocupado em agradar, a corresponder a expectativas". "Não estava a ser eu." Mais à frente, admitiu uma depressão. "Se calhar… Não tomei antidepressivos, mas tive alguns momentos de angústia enormes… Mas agora estou mais equilibrado. Claro que sei que vou ter mais momentos destes na vida."
Quem não os tem? Os tristes, os mentirosos? Podia recordar aqui a mensagem emocionada de Manuel Luís Goucha sobre o Pedro, mas termino com José Carlos Malato, o nosso convidado desta semana na ‘Varanda da Esperança’ - eis uma das palavras mais bonitas do mundo. "Calhou-me escrever numa altura muito triste. Nos dias em que o Pedro decidiu partir. Coragem ou sofrimento atroz? Neste contexto, sei pouco da primeira e muito do segundo. Talvez por isso ainda ande por aqui."