
Reza a lenda que gosta de mostrar proezas daquelas só possíveis a um super-homem das histórias de banda desenhada ou dos filmes de Hollywood. E não, não se trata apenas daquelas demonstrações de conhecimento de voos em caças russos, fruto do treino de muitos anos. Vladimir Putin, na sua vida privada - note-se, na que é dada a conhecer ao mundo através de imagens veiculadas, de tempos a tempos, nas agências de imagens internacionais - vai muito mais além. Desde surgir a acariciar um urso polar, a montar a cavalo em tronco nu ou, melhor ainda, com uma arma de longo porte às costas. É a sua forma de mostrar como está à vontade em qualquer ambiente, sobretudo os mais hóstis.
É por esse gosto pelo bárbaro, onde pode reinar como um verdadeiro czar, que Putin tem um destino de eleição onde se esconder e vive uma vida paralela sempre que "pode". No caso, não é um bunker - pelo menos a olho nu . Antes um território onde adora passar férias... e festejar. A Sibéria.
Desde - sensivelmente - 2009, já Putin ocupava a cadeira do poder e definia os destinos da Rússia, que há relatos de dias passados neste território gelado e inóspito, onde este novo estilo de czar podia dar mostras da sua força e destreza com as forças da natureza. Nesse ano, em pleno agosto, as agências de notícias internacionais foram surpreendidas por imagens de férias de Putin em Kyzyl, no Sul da Sibéria, onde alegadamente possui uma mega mansão à prova de qualquer "ataque", em versão bunker de luxo. As fotografias, divulgadas oficialmente, mostravam um chefe de Estado "à vontade", que é como quem diz, à caça, sentado em árvores, de chapéu (estilo cowboy, mas em versão militar) na cabeça, em tronco nú, enfim, um mimo para todos os que queriam conhecer um Putin en versão privada e só tinham direito a vê-lo nos pesados gabinetes do Kremlin ou, pior, em ações de Estado.
As imagens percorreram os jornais mundo fora e deram que falar. Afinal, o homem de gelo era humano - aparentava. Putin gostou da repercursão e propaganda positiva que as mesmas lhe deram e começou a repetir a dose. Não todos os anos, mas de quando em quando, o mundo passou a ser brindado pelas aventuras de Putin em férias: Putin vai à pesca, Putin apanha banhos sol, Putin vai aos cogumelos (como aconteceu em 2017 e com direito a relato extenso e imagens de parar e pasmar no New York Times), Putin aprendeu a nadar mariposa, etc, etc, etc.
Ou seja, com aquela pequena amostra do humano em férias - chegou a veicular imagens na Sibéria por altura do seu aniversário - o líder russo conseguia passar duas mensagens em simultâneo: que era capaz de despir o uniforme de estadista e mostrar-se na intimidade (permitida aos olhares exteriores) e ao momento tempo que ninguém deveria ter coragem de se "meter" com ele: pois quem lida com a natureza assim, lida com qualuqer ser humano de forma ainda mais bárbara. E se dúvidas houvesse...
A verdade é que este mundo siberiano, esta intimidade de peito de fora, mais não é do que o que Putin, um dos mais intransponíveis chefes de Estado do planeta, aceita mostrar de si próprio, em bebefício da sua imagem pública - que atualmente já não tem salvação possível. Quase nada se sabe, na verdade, sobre a sua vida, como já aqui relatámos.
Conhecem-se (mal) as suas filhas (cada uma de sua mãe), a sua mulher oficial e ouviu-se falar de outras, as alegadas amantes. Não que cultive a fama de Don Juan. Mas a tal virilidade que faz questão de mostrar nas imagens de férias na Sibéria, essa também está presente nas imagens de "caça e pesca" na Sibéria.
Resta saber apenas se o "mito urbano" de que existe uma cidade substerrânea construída também na Sibéria, mandada construir por Putin, onde a família do presidente estará alegadamente escondida, protegida de qualquer ataque ou tentativa do que quer que seja... é mesmo verdade. Por enquanto, e apesar das notícias veiculadas (sobretudo) na imprensa britância pouco se sabe sobre o assunto. Uma coisa, neste momento em que a invasão da Ucrânia continua, é certa: ninguém sabe onde está Putin. Se num bunker, num caça, num submarino ou na barriga de um urso amigo na Sibéria - embora esta última imagem faça parte de um imaginário tão pouco provável como as imagens das férias bucólico-bárbaras que divulga.