A estreia do século: 'Top Gun - Maverick', o filme que Tom Cruise não queria fazer, mas com o qual acabou a meter 12,5 milhões de euros ao bolso
Com um novo elenco, especialmente feminino, sequências em aviões de combate reais, atores rigorosamente treinados até para se ejetarem, cenas rodadas com sacos de vómito à mão, seis câmaras dentro dos cockpits, 150 milhões de euros de orçamento e mais de 800 horas de gravações depois, está aí finalmente a sequela de 'Top Gun'. As exigência de Tom Cruise, a polémica com Kelly Mccgillis e a homenagem a Val Kilmer. O filme estreia na próxima semana, no dia 26 de Maio.
Foram precisos mais de trinta anos para convencer Tom Cruise a voltar a vestir a pele de Pete 'Maverick' Mitchell, provavelmente uma das mais marcantes personagens do cinema dos anos 80 (e sem a qual seguramente o ator não teria conseguido catapultar a sua carreira). Vários tentaram convencer Cruise a voltar, mas todos falharam. "Eu não estava pronto para fazer uma sequela até que aparecesse, por um lado, uma história que a dignificasse e, por outro, também a tecnologia certa que permitisse mergulhar fundo na experiência de um piloto de combate", justifica agora Tom Cruise.
Ora, a história certa surgiu pela mão do realizador Joseph Kosinski (que assinou por exemplo, ‘Tron: Legacy’ em 2010 ou ‘Oblivion’ em 2012) e que sem querer ser saudosista conseguiu puxar pelo lado emocional de Cruise e fazê-lo mudar de opinião: "Para mim, a chave para esta história estava em Rooster [filho de Goose, o companheiro de voo de Maverick que morre no primeiro filme]. Essa personagem foi importante para criarmos a história, e foi o que convenceu Tom que valeria a pena voltar". E assim se criou o enredo. O novo filme acompanha agora Maverick, o piloto incorrigível que não gosta de cumprir ordens, que depois de mais de trinta anos de serviço como um dos principais pilotos da marinha, é chamado para treinar um grupo de graduados 'Top Gun' para uma missão especial nunca antes realizada. Nesse grupo está precisamente o tenente Bradley Bradshaw, (desempenhado pelo ator Miles Teller), filho de Goose. O filme conta ainda com os atores Jon Hamm, Jennifer Connelly, Glen Powell, Monica Barbaro, Lewis Pullman, Val Kilmer e Ed Harris, entre outros.
A primeira grande novidade do filme está, precisamente, ao nivel do elenco feminino. Para o regresso da sequela de 'Top Gun', o realizador decidiu deixar de fora as duas atrizes que tinham brilhado no filme original, Meg Ryan (a mulher de Goose) e também Kelly McGillis, a 'durona' instrutora Charlie Blackwood que fez par romântico com Tom Cruise. "Essas não eram as histórias em que estávamos a pensar. Não queria que todos os enredos estivessem sempre a olhar para trás. Era importante apresentar algumas personagens novas", explicou o realizador à 'Insider'. A justificação, contudo, não convenceu Kelly McGillis que, sem complexos, e numa declaração que se tornou viral, teve a coragem de pôr o dedo na ferida. "Eu estou velha e gorda e aparento a idade que tenho, e não é disso que o filme precisa", disse a atriz, agora com 64 anos, à 'Entertainment Tonight'. No novo enredo, Maverick vai então aparecer a reconquistar uma antiga namorada (interpretada por Jennifer Connelly), que é referenciada como a filha do Almirante do ‘Top Gun’ de 1986. Quanto à personagem de Meg Ryan aparece apenas em flashbacks retirados do primeiro filme.
Sendo Tom Cruise a estrela intocável do novo 'Top Gun', há apenas um outro ator repescado do primeiro filme: Val Kilmer, ele que interpretou o personagem 'Iceman', o grande rival de Maverick em 1986. Sabe-se que Kilmer fez um pedido expresso ao realizador para entrar no elenco, mas sabe-se também que Tom Cruise o colocou como condição e exigência. Foi o produtor Jerry Bruckheimer o primeiro a revelá-lo à ‘People’. Cruise confirmaria mais tarde: "Eu realmente lutei muito para que ele fizesse o filme. O talento que ele tem e que se vê em cena, é muito especial", disse.
A participação de Val Kilmer é, no entanto, fugaz, mas o suficiente para ter ajudado a recuperar o espírito do filme até nos bastidores. "Foi especial tê-lo de volta. Significou muito para mim", disse Tom Cruise. Foi como "reencontrar um amigo perdido há muito tempo", reconheceria Val Kilmer. Este regresso foi, no entanto, apontado como um gesto de homenagem, de reconhecimento e de justiça para com um ator que, nos últimos anos, recorde-se, perdeu a capacidade de falar com clareza e de se fazer ouvir por causa de um cancro com o qual se debateu durante seis anos e que o obrigou a fazer quimioterapia, radioterapia e uma traqueostomia. Em Julho do ano passado, quando Val Kilmer falou pela primeira vez em publico, ao final de quatro anos, foi com a ajuda de técnicas de Inteligência Artificial.
Se o primeiro 'Top Gun' foi feito com um orçamento de 14 milhões de euros, para a sequela, o realizador contou agora com um valor dez vezes superior, a rondar os 150 milhões de euros. Apesar de muito se ter especulado sobre o cachet milionário que Tom Cruise teria recebido, a verdade é que os números nunca foram revelados. Ainda assim, o 'Variety' apressou-se a noticiar que o ator teria fechado o contrato por 12,5 milhões de euros, valor que, embora não sendo um dos mais altos da carreira de Cruise (ganhou mais, por exemplo, pela participação no último 'Missão Impossível'), seria engrossado com parte das receitas de bilheteira. Os especialistas fizeram as contas e preveem, por isso, que o filme possa render perto de 24 milhões de euros para o bolso de Cruise. E se o primeiro 'Top Gun' resultou numa receita de quase 350 milhões de euros, a sequela poderá alcançar um número estratosférico perto dos 3 mil milhões.
'Top Gun - Maverick' foi considerado pelo Telegraph "inquestionavelmente como o melhor filme de ação de estúdio em muitos anos". As mais de três décadas de intervalo em relação ao original permitiram o recurso a técnicas nunca antes utilizadas e as exigências foram muitíssimo superiores, com Tom Cruise ao comando de todas as operações. Os atores que participam nas cenas de voo, tiveram três meses de treinos para gravar as sequências reais, incluindo treinos de adaptação às forças G e treinos debaixo de água para o caso de terem de se ejetar. Começaram com um mono-motor para se habituarem ao interior de uma cabine, passaram depois para os L-39 onde experimentaram as manobras acrobáticas e finalmente para os F-16 (onde voaram com pilotos de combate), sendo que todos os treinos foram definidos pelo próprio Cruise. Mas a coisa não foi pera doce para os atores.
Segundo o site 'Den of Geek', todos tiveram de se sujeitar, durante o treino, a incríveis forças dinâmicas do avião, capazes de fazer os pilotos desmaiarem por falta de fluxo sanguíneo. Glen Powell, um dos atores, revelou que, em metade das suas cenas, "estava literalmente a segurar um saco de vómito enquanto representava". Jennifer Connelly foi apanhada de surpresa e teve que vencer o seu medo de voar. "Quando assinei o meu contrato para o filme, não havia cenas de voo" desabafa. No final das contas, apenas Cruise foi o único capaz de resistir às forças G de pilotar um caça, e de suportar até oito ou nove Gs, o que significa oito a nove vezes a força da gravidade. Conhecido por não utilizar duplos nos seus filmes, o ator realizou manobras aéreas que desafiam a morte, revelou o próprio à revista Empire. Mas há mais: nos cockpits dos aviões chegaram a ser instaladas seis micro-camaras para que fossem apanhados todos os ângulos e todas as expressões dos atores. Mas como o habitáculo era reduzido, foram eles que tiveram que aprender a dirigir-se a si próprios e a fazer movimentar algumas câmaras.
Ao contrário do que aconteceu com o filme original, o novo 'Top Gun' evita o uso de efeitos especiais e os atores foram filmados no interior das cabines mesmo quando faziam decidas perigosas. "Há uma sequência neste filme em que descemos tanto que garanto que nunca mais se verá nada parecido", garantiu Joseph Kosinski. Para Tom Cruise foi desenhado um avião especial, o Darkstar, um protótipo criado de propósito para o filme, mas tão bem feito que, segundo a produção, conseguiu até enganar satélites chineses. A informação veio da própria Marinha dos EUA: "Eles disseram-nos que um satélite chinês tinha fotografado o nosso avião, porque realmente acharam que era real", disse o produtor Bruckheimer. "Para que o público acreditasse no nosso avião como real ele aparece no filme ao lado de aviões reais como F-18 e P-51. Para o construir trabalhámos juntos com as mesmas empresas que criam os verdadeiros", explicou Kosinski. Para tornar possível 'Top Gun - Maverick' foram realizadas mais de 800 horas de gravação, só para se ter uma ideia, o equivalente aos três filmes de 'O Senhor dos Anéis'. O preciosismo e a exigência foi tanta que "de um dia de trabalho de 12 ou 14 horas, chegavam a ser aproveitados apenas 30 segundos de boas imagens", avançou o realizador. "Mas foi tudo duramente conquistado. Chegámos a ter meses e meses de tiroteio aéreo". Hoje, Jay Ellis, um dos jovens atores do filme, não tem dúvidas: "Isto foi a coisa mais incrível que fiz em toda a minha vida".
Dos adereços que fizeram parte do primeiro ‘Top Gun’ e que também eles se tornaram icónicos, o novo filme recupera três, a motorizada de Tom Cruise, os óculos escuros de aviador e um, em particular, que trouxe dúvidas e alguma discussão: o famoso blusão de piloto. Christopher McQuarrite, um dos argumentistas do filme, revelou mesmo em entrevista ao ‘Empire’ que esse acabou por ser um dos obstáculos criativos mais frustrantes ao escrever para o filme. "O blusão foi um grande negócio para muitas pessoas. Todos diziam que era uma grande parte de quem é o Maverick!", diz o argumentista. "Mas como é que eu poderia vir a descrever agora aquele blusão. Não é propriamente o chapéu de Indiana Jones, nem a capa do Super-Homem. É um simples blusão de aviador". Um dos que se opôs ao regresso do adereço foi mesmo o próprio Tom Cruise. "Isso é ridículo. Eu não vou usar'", referiu o ator admitindo não saber como lidar com o velho adereço no novo filme. O blusão acabou, no entanto, por ser introduzido, mas a sua utilização acaba por passar até quase despercebida.
Se o primeiro ‘Top Gun’ ficou profundamente marcado pela música dos Berlin ‘Take My Breath Away’ (viria a ganhar o Óscar de Melhor Canção Original), a novo filme conta agora com a voz de Lady Gaga no tema ‘Hold My Hand’. A cantora teria sido uma escolha do próprio Tom Cruise que teria despedido, de forma polémica, a dupla Tyler Joseph e Josh Dun que forma os Twenty One Pilots, e que estava encarregue da música. Ao site Fox News, Tyler Joseph revelou que "já estava a trabalhar no filme quando Cruise apareceu e despediu toda a gente".
O tema ‘Hold My Hand’ foi revelada pela própria Lady Gaga no passado dia 3 de Maio. "Quando escrevi essa música nem percebi as múltiplas camadas que ela mostra sobre o coração do filme, a minha própria cabeça e a natureza do mundo em que vivemos. Queria transformá-la numa música em que partilhássemos a nossa profunda necessidade de sermos compreendidos e tentarmos entender um ao outro, um desejo de estar perto quando nos sentimos tão distantes e uma capacidade de celebrar os heróis da vida", explicou.
Quem não poupou elogios à música e a Lady Gaga foi Tom Cruise: "Ela abriu as portas para o núcleo emocional do filme que tínhamos. As coisas acabaram por se encaixar de uma maneira muito bonita. A música que ela escreveu caiu muito bem e tornou-se realmente na banda sonora e no coração do nosso filme", disse o ator em entrevista ao programa ‘The Late Show’ de James Corden.