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A impressionante história de superação de Luísa Castel-Branco: da falta de afeto na infância, aos abusos, até à relação indestrutível com os filhos

É a própria que o conta. Da falta de carinho dos pais e das situações de abusos que marcariam para sempre a sua relação com os homens, nasceria uma força e resiliência que levaram sempre a escritora a dar o próximo passo em frente. Numa conversa intimista, Luísa abre o coração a Duarte Siopa sobre os seus anos mais duros que, no entanto, fariam de si a pessoa que é hoje. Com uma carreira televisiva que iniciou aos 46 anos, o primeiro livro publicado aos 50 e o grande amor conhecido na segunda metade da vida, deixa a mensagem de que nunca é tarde para se começar... e ser-se feliz.
Por Rute Lourenço | 04 de dezembro de 2025 às 19:39
Luísa Castel-Branco partilha história de superação e relação com os filhos Flash
Luísa Castel-Branco e Duarte Siopa Flash

Quem vê o sorriso largo de Luísa Castel-Branco ou as gargalhadas que solta em direto como comentadora, dificilmente imagina que, além da sua identidade, esta é uma arma que sempre usou para combater os problemas com que desde cedo se confrontou na sua vida. Não é de se lamuriar, não pratica a auto-comiseração e, em vez disso, aprendeu às próprias custas que o sorriso é, de facto, o melhor remédio para muitos dos males da vida. "Cresci uma menina triste, mas a melhor forma de lidar com a tristeza é rires-te, porque afundas a tristeza dentro de ti, porque nasce no ser humano aquela necessidade de ultrapassar as adversidades, e volto a dizer que as minhas são pequenas. Eu tenho um espírito de rebeldia e conquista, por isso fui pouco a pouco ganhando a força e o terreno que não teria. Era como se eu dissesse: 'ok, eu sou diferente e vocês vão ter de levar comigo'. A vida inteira eu senti isto: eu sou sempre uma carta fora do baralho. O único sítio onde sou eu própria é quando estou com os meus filhos e com o Francisco (Colaço, companheiro), começa por contar numa longa conversa com Duarte Siopa, para a rubrica da CM Rádio 'Siopa Convida', a ser emitida este sábado, dia 6 de dezembro.

Luísa Castel-Branco e Duarte Siopa Foto: Flash
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Num regresso a uma infância em que teve tudo, mas pouco amor, Luísa Castel-Branco fala da sensação de ter crescido desamparada de afeto, o que teria um impacto profundo na sua vida. Do pai, um homem distante e frio, admite não ter recebido grandes gestos de carinho, e em relação à mãe houve sempre uma sensação de que não a amaria como era suposto. "Tive a minha vida toda a impressão de que a minha mãe não gostava de mim, se calhar não és obrigado a gostar dos filhos todos... Eu devia ser muito igual a ela, mas era acima de tudo quem ela gostaria de ter sido e portanto era extremamente crítica em relação a mim. Se ela estivesse viva e eu lhe perguntasse se ela não gostava de mim, eu tenho a certeza que ela diria que aquilo era mentira, para ela era mentira, mas a minha vida toda eu senti uma estranha competição da parte dela, não orgulho..."

Hoje, à distância de décadas, Luísa tem a noção de que não foi uma criança fácil para a época e esforça-se para entender os pais à luz de outra realidade. Numa altura em que pouco se questionava, a escritora tinha o porquê permanentemente na ponta da língua, desafiava convenções e, além do mais, sofria de uma condição que na altura não era diagnosticada como tal: dislexia. "Eu era difícil por várias razões. O termo dislexia é recente, no meu tempo eu era só burra, estamos a falar de há 60 anos", conta a Duarte Siopa, recordando a um outro episódio que a marcaria para sempre: ser vítima de abusos sexuais na infância algo que, por vergonha, só conseguiria dar nome vários anos mais tarde, depois de terapia e psicanálise que a fariam ver com clareza um episódio que até então estava muito turvo e envolto em sentimentos de culpa. "É uma coisa que me marcou completamente e que é uma pena eu ter descoberto tão tarde, se eu tivesse tido a hipótese de eu fazer terapia mais cedo, a minha vida tinha sido diferente, eu tinha sido diferente. Isso influenciou sempre a minha relação com os homens (...) Demorou, mas fiz as pazes com o passado. Demorou muitos anos a fazer este luto, daquela menina que eu fui, daquela rapariga que foi abusada, é um luto de muita coisa que perdi pelo caminho e vejo que podia ter tido. Ao mesmo tempo, eu sou sempre aquela que se levanta. Eu levantei-me sempre sozinha, estabeleci as minhas regras, nunca admiti que um homem me sustentasse e desse ordens e sempre fui intrinsecamente livre." 

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Luísa Castel-Branco e Duarte Siopa Flash
Luísa Castel-Branco e Duarte Siopa Flash

O DIVÓRCIO E O GRANDE AMOR

Durante a conversa com Duarte Siopa, Luísa Castel-Branco abre o coração para falar de uma vida de memórias por vezes difíceis, mas para as quais encontrou sempre um final feliz. Uma das fases que recorda como mais dolorosa foi a do divórcio do primeiro marido, pai dos seus três filhos - António, Gonçalo e Inês - que a atiraria para uma situação em que teve de batalhar muito para sustentar a família e ainda lidar com o estigma de ser mulher divorciada numa época em que o tema era como que tabu. "Foi muito difícil, financeiramente muito difícil. Eu na altura tinha três empregos, empregos e empregos para poder sustentar três crianças, três adolescentes", diz, adiantando que, apesar da dureza, guarda desses anos as melhores memórias.

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"Esses sete anos que passei sozinha foram muito difíceis em termos de gestão, mas os melhores anos da minha vida. vivíamos num mundo maravilhoso, numa terra em que éramos só os quatro e visitávamos o mundo dos outros nas horas de expediente. Não foi fácil, mas foi muito bom."

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Foi depois desses sete anos que reencontraria António Colaço, um amigo que viria a transformar-se no grande amor e parceiro, com quem partilha a vida há 30 anos. "Estamos há 30 anos juntos, eu trato-o por amor e ele a mim também, somos muito possidónios", brincou, sem esconder o orgulho na sua história de superação e na família que construiu, com três filhos e 11 netos. "Educar estes três filhos foi maravilhoso, eles ultrapassaram em muito aquilo que eu lhes dei, são três seres humanos fantásticos, sinto muito orgulho. Acredito em Deus e acredito que vim a este mundo para ter estes filhos."

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N0 15º LIVRO, LUÍSA REGRESSA AO PASSADO

Luísa Castel-Branco lembra-se de escrever tinha ainda 10 anos, mas o primeiro livro só seria publicado décadas mais tarde. "Eu comecei a fazer televisão aos 46 anos e comecei a fazer televisão aos 50. E muito me orgulho de estar aqui a dizer isto mais uma vez. Quem está lá em casa: nunca é tarde para começar", diz, lembrando os 15 livros que desde então já lançou. 

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O último, 'Se Este foi o Meu País', chegou recentemente às bancas e, curiosamente, é aquele de que a autora mais se orgulha, uma obra que acompanha o período do Estado Novo, mas sem o romantizar, através da vida de diferentes mulheres que viveram naquele tempo. Um relato que se torna ainda mais importante aos dias de hoje. "Começas a ouvir falar que dantes é que era bom, mas é importante recordar como era efetivamente. Há uma necessidade de preservarmos a liberdade e democracia como nunca houve. Espero que as pessoas leiam por uma razão: quando a minha geração terminar, não vai haver testemunhas disto."

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