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"Amigos para siempre". Como António Costa resgatou o discreto e leal “soldado” Medina e o tornou poderoso

Muito educadinho. Sempre diligente. Não dizia disparates nem banalidades quando se sentava à mesa da Concertação Social. Assim é visto o rapaz que aos 22 anos se deslumbrou com as palavras de António Guterres nos Estados Gerais do PS para uma Nova Maioria. Formiguinha trabalhadora, devorador de dossiers, foi resgatado em 2013 pelo amigo António Costa quando caiu na selvajaria parlamentar. E até pode suceder-lhe.
Por João Bénard Garcia | 27 de abril de 2023 às 23:09
António Costa e Fernando Medina Foto: Cofina Media
António Costa e Fernando Medina Foto: Cofina Media
António Costa e Fernando Medina Foto: Cofina Media
António Costa e Fernando Medina Foto: Cofina Media
António Costa e Fernando Medina Foto: Cofina Media
António Costa e Fernando Medina Foto: Cofina Media
António Costa e Fernando Medina Foto: Cofina Media

Quando, há 28 anos, um estudante de Economia chamado Fernando Medina Maciel Almeida Correia, então com 22 anos, apareceu timidamente nos Estados Gerais para a Nova Maioria promovidos pelo Partido Socialista, então liderado por António Guterres, e usados como rampa mediática de lançamento para a viragem à esquerda na governação do país, até o próprio jovem nascido no Porto estava longe de imaginar a visibilidade que um dia teria e a carreira de serviço público que estava prestes a vivenciar.

Um outro "jovem turco" socialista, embora um pouco mais velho do que Medina, quase 11 anos, para sermos mais precisos, era António Costa, que, ao contrário do futuro economista tímido e certinho, tinha sido uma estrela em ascensão entre as hostes da Juventude Socialista desde os 14 anos, e, acabado de entrar nos trintas, já tratava os crescidos do partido por tu cá e tu lá.

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A história da família socialista, e muitos acasos da história política destes dois intervenientes, acabaram por levar, em 2013, ao resgate por António Costa do militante Fernando Medina, que só para fugir ao martírio que estava a ser a guerrilha parlamentar em que se viu envolvido, entalado entre figuras como o então líder parlamentar Carlos Zorrinho e o novo líder do PS António José Seguro, disse de imediato ao seu "salvador", qual soldado: "Pronto!".

O RECRUTAMENTO DO "SOLDADO" MEDINA

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Quando António Costa vai buscar Fernando Medina para ser o seu número dois na corrida à Câmara Municipal de Lisboa, os dois já tinham uma amizade construída há vários anos nos corredores do poder socialista. O filho de Edgar Maciel Almeida Correia e de Maria Helena Guimarães de Medina começou por gravitar no Conselho Nacional de Educação, mas é quando começa a trabalhar em 1998 como economista num instituto do Ministério do Trabalho é que o PS o recruta da lista de "boys" de cartão rosa com elevado potencial.

Estávamos a pouco mais de um ano da presidência portuguesa da União Europeia e o partido precisava de técnicos capazes para fazer bonito em Bruxelas. O padrinho de Medina nas lides políticas acaba por ser, curiosamente, não António Costa, mas o ex-ministro da Educação Eduardo Marçal Grilo que o chama para consultor do Grupo de Trabalho do Ministério da Educação na Presidência Portuguesa da União Europeia.

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Medina terá dado nas vistas e, um ano depois, transita para o gabinete de António Guterres. Primeiro como assessor para as áreas da Educação e da Ciência, depois com as "pastas" da Economia. Por lá se mantém, sempre discreto e na sombra. Até que Guterres dá conta que o partido, o Governo e o país estavam num "pântano" e acabava-se o sonho. Da família socialista. E do jovem Medina, que vai parar à Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.

Margarida Martins Flash
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A FORMIGUINHA DAS "NOVAS OPORTUNIDADES"

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Se com Guterres o país era um pântano, com o seu sucessor, o social democrata José Manuel Durão Barroso o país estava "de tanga". O sucessor deste, depois de Durão zarpar para a Presidência da Comissão Europeia, Pedro Santana Lopes, não estava a dar conta do recado, e o Presidente Jorge Sampaio foi implacável e acionou a bomba atómica, leia-se: a dissolução do parlamento.

Em 2005, com o regresso do PS ao governo, José Sócrates nomeou-o Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, tornando-se o braço direito do famoso Ministro do Trabalho José Vieira da Silva. Medina dedicou-se à reforma da Formação Profissional, do Código do Trabalho e é um dos pais do programa Novas Oportunidades, que tanta polémica gerou por atribuir graus académicos a quem fizesse estudos em modo rápido e tivesse credenciais rapidinhas.

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Dado como o sucessor de Vieira da Silva no Ministério do Trabalho, em 2009 Fernando Medina segue na equipa do histórico socialista para o Ministério da Economia e assume a pasta da Indústria e Desenvolvimento, acrescida da missão de gerir fundos comunitários. Ou seja, mais um cargo tecnocrático e pouco político.

QUANDO OS SANTINHOS ESTAVAM DESALINHADOS

Quando José Sócrates cai em 2011, empurrado pelo cataclismo da inevitável intervenção económica do FMI e da União Europeia, a malfadada Troika, Fernando Medina acaba eleito nas Eleições Legislativas nas listas de Sócrates para o Parlamento. E acaba votado pelos seus pares para o cargo de vice-presidente da bancada rosa. Um tormento, em especial quando a seguir quem assume a liderança dos socialistas é António José Seguro e o santo de um não se afina com o santo de outro. E o santinho de Zorrinho divergia cada vez mais do de Medina, que desesperava nos gabinetes da assembleia da República com o saco de gatos assanhados, leia-se PS, onde estava metido.

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António Costa e Fernando Medina Foto: Cofina Media

António Costa, que já tinha uma agenda de poder dentro do PS mas estava à espera da melhor ocasião, vai, em 2013, buscar Medina para ser o seu número dois na recandidatura à Câmara de Lisboa, afastando assim Manuel Salgado, um homem de esquerda, mas desalinhado com a bitola socialista de Costa. Salgado era mesmo uma figura que o atual primeiro-ministro não queria ver sentar-se na sua cadeira, soassem mais cedo ou mais tarde as trombetas a seu favor e o povo rosa o chamasse a tomar o Largo do Rato.

Fernando Medina no casamento da filha de António Costa Foto: Cofina Media
Fernando Medina no casamento da filha de António Costa Foto: Cofina Media
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Costa entrega as "chaves da cidade" a Medina a 6 de abril de 2015 e já só vê as luzes do Palácio de São Bento ao fundo túnel eleitoral, deixando a casa do povo de Lisboa em definitivo nas mãos do fiel escudeiro Medina.

Só que uma série de trapalhadas políticas (da partilha de informações delicadas sobre dissidentes russos com o Governo de Moscovo às ciclovias ineficientes que deixaram os lisboetas a espumar ao volante dos seus carros horas a fio), também pouco ajudadas pela opinião publica, ampliaram um sentimento anti-Medina em Lisboa que o fez perder as eleições autárquicas de 2021 para o surpreendente Carlos Moedas, do lado do PSD.

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Mas não demorou muito até a fidelidade e o espírito de sacrifício de Fernando Medina ser recompensado por António Costa. Depois de um período de desemprego político de cinco meses, compensado com comentário político e económico nos Telejornais da RTP, Medina toma posse a 30 de março de 2022, como novo ministro das Finanças do XXIII Governo Constitucional.

O TÉCNICO CERTINHO QUE RESPONDE A TODAS

Mas quem é afinal este tecnocrata discreto, esta formiguinha laboriosa nos corredores do poder socialista que se viu catapultado para a ribalta pública? Casado com Stéphanie Sá da Silva (filha do antigo ministro da Agricultura Jaime Silva), Medina nasceu num ambiente onde se discutia bastante política, de forma inflamada e até divergente, e acabou a navegar nela.

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Fernando Medina com a mulher, Stephanie Foto: Cofina Media

Certinho com os dossiers, era presença assídua na Concertação Social nos tempos de Vieira da Silva. Não dizia nem disparates nem banalidades e por isso era visto com alguma credibilidade pelos parceiros. Tinha ainda a fama de responder sempre, de forma diligente, a e-mails e chamadas telefónicas, nunca deixando ninguém pendurado. Era o supra sumo das boas maneiras e da boa educação.

A relação de fidelidade com António Costa, que o deixou em 2015 a governar um Titanic autárquico, foi-se consolidando e, nos meios socialistas, muito já brincavam com a hipótese de um dia Costa chamar o seu fiel soldado Medina ao principal campo de batalha – O Governo.

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A oportunidade chegou com a maioria absoluta do PS em fevereiro de 2022. Há também quem já pense em mais altos voos para o resgatado soldado Medina: o de ser o sucessor de António Costa, caso este se aventure numa candidatura aos mais altos cargos europeus. Quiçá.

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