As sete vidas de Morais Sarmento! Da luta contra as drogas à doença que o levou a ser operado 12 vezes e o deixou às portas da morte
Ex-ministro de Durão Barroso lutou no passado contra uma grave adição de drogas que o deixou com sequelas em termos de saúde. Mais de 20 anos depois, a vida voltou a pregar-lhe uma dura partida que colocou, durante três anos, o seu mundo em suspenso.
Aos 63 anos, Nuno Morais Sarmento bem que pode dizer que já passou por quase tudo. Dos desafios de ter integrado o governo de Durão Barroso, como ministro, à vida preenchida e sempre com obstáculos, há certamente muito para contar aos netos.
Depois de um longo período de ausência, em novembro do ano passado, Morais Sarmento regressou à cena política para se apresentar no congresso do PSD e a verdade é que a sua imagem mais debilitada deu que falar. A explicação só surgiria agora, numa entrevista à RTP3, em que o antigo ministro contou o verdadeiro calvário que passou nos últimos anos.
"Foi talvez o desafio mais difícil que até agora enfrentei", começou por revelar, acrescentando que, do diagnóstico até à recuperação o caminho foi longo e turtuoso. "Isto foram 3 anos da minha vida, um primeiro ano sem diagnóstico certo e portanto progressivamente incapacitado", contou. Muitos exames depois e após o parecer de três reputados médicos, Morais Sarmento acabaria por descobrir que estava a lutar contra um tumor no pâncreas.
"Tratava-se de um insulinoma, que é um tumor no pâncreas e como todas as intervenções que envolvem o pâncreas têm uma grande tendência para se complicarem e neste caso complicou-se, depois da cirurgia. Acabaram por ser 18 meses de hospital, 12 cirurgias, 16 anestesias gerais, 5 meses de cuidados intensivos e não há muitas palavras para dizer a violência que isto foi (...) Não me recordo de um único dia nos últimos 3 anos em que não tenha tido dores e sofrimento físico. Chega a um ponto em que já não se tem resistência", revelou.
O quadro clínico de Morais Sarmento era tão grave que, a dada altura, os médicos chamaram mesmo a mulher, Ana Filipa de Moser Lupi, e os dois filhos, Francisco e Madalena, ao hospital para se despedirem. "Eu tive duas vezes, uma não estava consciente, da outra estava, em que o médico chamou os meus filhos para se despedirem de mim, o que é uma coisa de uma violência, mais para eles do que para mim (...) Tive um pé cá e um pé lá, tenho perfeita consciência. Não vi um túnel e luz no fundo, se calhar porque não vou para o Céu, mas o que vi, pelo contrário, foi uma realidade errada, disforme, descontruída, e que me fez resistir e não querer passar. Não sei o que era o depois, mas tenho a absoluta certeza de que a vida não acaba aqui", recordou.
"Eu tive duas vezes, uma não estava consciente, da outra estava, em que o médico chamou os meus filhos para se despedirem de mim, o que é uma coisa de uma violência, mais para eles do que para mim (...) Tive um pé cá e um pé lá, tenho perfeita consciência. Não vi um túnel e luz no fundo, se calhar porque não vou para o Céu, mas o que vi, pelo contrário, foi uma realidade errada, disforme, descontruída, e que me fez resistir e não querer passar. Não sei o que era o depois, mas tenho a absoluta certeza de que a vida não acaba aqui", recordou.
Quem conhece Morais Sarmento sabe bem da capacidade de resiliência do antigo ministro. Ele próprio já detalhou algumas das suas batalhas, precisamente quando estava no Governo, o que gerou polémica com as vozes críticas a sugerirem que o político só as partilhou para suscitar simpatia.
Mas ele garante que não foi por isso, mas para a ajudar pessoas que estivessem na mesma situação que, em entrevista a Maria João Avillez no programa 'Conversa Afiada', no início do novo milénio, revelou que, no passado, tinha vivido na pele o drama da toxicodependência.
O antigo ministro, que na juventude chegou a lutar boxe a título profissional, explica que não pretendeu inspirar nem pena nem simpatia, mas sim normalizar uma situação que afeta muita gente. "Eu não sou nenhum paradigma da honestidade. Serei uma pessoa normal como as outras; terei mentido e errado como qualquer pessoa", garantiu em entrevista ao Correio da Manhã, acrescentando que, na fase em que lutou contra as adições, foram os amigos que nunca o deixaram cair. Morais Sarmento afirmou ainda que assumir os seus próprios problemas é uma forma de manter a sua memória viva e honrar a sua história, com todos os problemas e superações. "Decidi partilhar isto porque acho que também é uma maneira de recordar maus momentos da vida. É bom fazê-lo e recordar as pessoas que nessas alturas difíceis estiveram ao nosso lado. Se o resultado daquilo for que havia uma pessoa com dificuldades que eu ajudei (por falar do assunto) — e isso já aconteceu — então vale a pena. Não há exemplos nisto. Os heróis têm pés de barro. Há testemunhos e cada um tem o seu, mas não há exemplos. Porque eles são sempre meio caminho andado para as desilusões. Fiz aquilo, naquela altura, porque achei que devia e já tinha pensado em fazê-lo antes. Era-me completamente indiferente as consequências que aquilo tivesse em termos políticos. Durante estes anos, conheci muita gente que ainda está nessas dificuldades, outros que já as ultrapassaram. E há muitas histórias, enfim, de igual resultado, de pessoas com a mesma capacidade."
"Decidi partilhar isto porque acho que também é uma maneira de recordar maus momentos da vida. É bom fazê-lo e recordar as pessoas que nessas alturas difíceis estiveram ao nosso lado. Se o resultado daquilo for que havia uma pessoa com dificuldades que eu ajudei (por falar do assunto) — e isso já aconteceu — então vale a pena. Não há exemplos nisto. Os heróis têm pés de barro. Há testemunhos e cada um tem o seu, mas não há exemplos. Porque eles são sempre meio caminho andado para as desilusões. Fiz aquilo, naquela altura, porque achei que devia e já tinha pensado em fazê-lo antes. Era-me completamente indiferente as consequências que aquilo tivesse em termos políticos. Durante estes anos, conheci muita gente que ainda está nessas dificuldades, outros que já as ultrapassaram. E há muitas histórias, enfim, de igual resultado, de pessoas com a mesma capacidade."
Na altura, Morais Sarmento explicou também que a dependência das drogas foi tão grave que teve implicações na sua saúde, deixando-o bastante debilitado.
"Paguei uma fatura muito pesada. Muitos anos da minha vida ficaram perdidos profissionalmente; em termos de saúde, fiquei com algumas sequelas e, em termos emocionais, foi das experiências mais violentas que se pode ter". Agora, mais de 20 anos depois de ter revelado o problema de adição, Morais Sarmento partilhou um novo calvário, desta vez com a saúde a pregar-lhe um susto mais grave, que o deixou às portas da morte. "Sou católico – não um exemplo praticante – e acredito profundamente em Deus. Algumas experiências da vida levaram-me a isso. Se alguma conclusão tiro delas, é que há mais qualquer coisa além disto. O sentido da vida está para além daquilo que vemos, daquilo em que nos consumimos, daquelas trivialidades que consideramos essenciais."
"Paguei uma fatura muito pesada. Muitos anos da minha vida ficaram perdidos profissionalmente; em termos de saúde, fiquei com algumas sequelas e, em termos emocionais, foi das experiências mais violentas que se pode ter".
Agora, mais de 20 anos depois de ter revelado o problema de adição, Morais Sarmento partilhou um novo calvário, desta vez com a saúde a pregar-lhe um susto mais grave, que o deixou às portas da morte.
"Sou católico – não um exemplo praticante – e acredito profundamente em Deus. Algumas experiências da vida levaram-me a isso. Se alguma conclusão tiro delas, é que há mais qualquer coisa além disto. O sentido da vida está para além daquilo que vemos, daquilo em que nos consumimos, daquelas trivialidades que consideramos essenciais."