Dever a quanto obrigas! Felipe para sempre preso ao casamento com Letizia
Há muito que a relação dos reis de Espanha está degradada. As responsabilidades que recaem sobre os seus ombros, a pressão mediática e, sobretudo, a personalidade da antiga jornalista da TVE são fatores que contribuíram para o afastamento do casal. A solução para a infelicidade do monarca seria o divórcio, mas isso é algo que lhe está completamente vedado.
Felipe VI nasceu para ser rei. Embora não seja o primogénito, bem pelo contrário. Ele é o mais novo dos três filhos de Juan Carlos I e de Sofia. Mas, por ser varão [em Espanha vigora o sistema de sucessão que dá preferência ao sexo masculino, sou seja, os rapazes têm preferência sobre as raparigas na sucessão ao trono] foi educado para vir a suceder ao seu pai, algo que aconteceu mais cedo do que esperado já que o antigo rei teve de abdicar devido aos muitos escândalos em que o seu nome se viu envolvido.
Ao cabo de 39 anos de reinado e mergulhado num clima de suspeitas dado que foi acusado de corrupção, tráfico de influência e lavagem de dinheiro Juan Carlos I foi obrigado a passar o testemunho ao príncipe das Astúrias. Além disso, a sua vida de mulherengo com inúmeros casos de infidelidades a virem a público acabou com a reputação do homem que conduziu os destinos do país vizinho de forma exemplar ao longo de quase quatro décadas. Razões que o empurraram para a muita difícil decisão de renunciar à coroa. Não teve outra alternativa. Ou era isso ou a monarquia corria o risco de cair, pois nunca como nessa altura os espanhóis se mostraram tão desacreditados da instituição. Instituição essa que antes era a mais prestigiada do país. Em maio de 2014 numa sondagem feita a nível nacional a monarquia recebia uma nota de confiança de 3,72 (em 10 pontos possíveis). Um valor que está entre os mais baixos alguma vez alcançados pela coroa espanhola em toda a sua história.
A OBCESSÃO DE LETIZIA Foi assim, neste complicado contexto para a realeza, que Felipe ascendeu ao trono
O objetivo é evitar que alguém lhes possa apontar o dedo. É fortalecer a monarquia. Fazer com que a instituição volte a ser respeitada. Letizia tem-se revelado a mais zelosa vigilante da conduta do marido. Ela quer tanto que a filha seja rainha que não permite qualquer incorreção por parte do marido. É verdadeiramente obcecada com a integridade. O seu medo de que a monarquia possa cair [o que não deixa de ser estranho vindo de alguém que sempre defendeu os ideais republicanos] fá-la, às vezes, cair em exageros incompreensíveis. Ver a princesa Leonor coroada rainha é um dos seus maiores sonhos. E para que esse sonho vire realidade sabe o quanto é essencial que mais nenhum escândalo manche a imagem e a reputação da coroa.
Razões suficientemente válidas para encetar um plano que visou afastar toda a família do marido do Palácio da Zarzuela. Cabe a Letizia a responsabilidade do exílio de Juan Carlos nos Emirados Árabes Unidos, bem longe de Espanha a ponto de não poder influenciar negativamente o reinado de Felipe VI. Apartou de forma drástica e definitiva a cunhada, a infanta Cristina, que ficou marcada para sempre pelo escândalo que levou à prisão de Iñaki Urdangarin, o seu ainda marido [a irmã mais nova de Felipe está em processo de divórcio, mas tem demorado chegar a um acordo]. A infanta Elena, a outra cunhada, foi igualmente posta de parte. Foi-lhe retirada, por influência de Letizia, qualquer função real. Já dos filhos de Elena e Jaime de Marichalar, Froilán e Victoria Federica, a rainha só quer distância. Proíbe qualquer aroximação às duas filhas. Nem sequer nas férias de verão ou nas reuniões de família, como é o caso do natal e das páscoa, permite o convívio entre primos. Já quanto à sogra, a rainha emérita, Letizia tem atuado com um pouco mais de cuidado, pois sabe o quanto Felipe é chegado à mãe. Ainda assim, parece que a "neta do taxista", como Juan Carlos se refere à nora, está próxima de atingir os seus propósitos: fazer com Sofia saia da Zarzuela despojando-a de qualquer ato oficial.
A DOR DE FELIPE VI Quem sofre com toda esta obsessão de Letizia é Felipe. Sofre e muito
O resultado de tudo isto é um monarca cansado e desiludido. E isso nota-se a cada ano que passa. Perdeu o brilho do olhar [só há um vislumbre disso quando observa orgulhoso a herdeira do trono a assumir com segurança os atos oficiais]. Perdeu o sorriso espontâneo. Apenas sorri circunstancialmente no desempenho das suas funções. Felipe VI é hoje um homem triste, um tanto amargurado, rendido às condições e obrigações da vida que lhe foi imposta por nascimento.
DIVÓRCIO NÃO É OPÇÃO
Mas se não é feliz ao lado de Letizia o que o faz não avançar para um divórcio, sendo que ele, pessoalmente, pouco teria a perder? De facto, se não fosse rei de Espanha talvez já tivesse dado esse passo. Só que como monarca outros valores se levantam. Um divórcio iria abalar inevitavelmente a coroa e Felipe está consciente que um novo escândalo só provocaria ainda mais descrédito junto do povo. Assim, por dedicação e entrega à instituição, nunca tomará essa decisão. Há também a questão de querer que a filha Leonor suba ao trono e para que isso acontece, o rei está disposto a abdicar da sua felicidade pessoal e manter-se casado. Por fim, não podemos esquecer que a Espanha é um país católico e o divórcio, para quem segue os mandamentos da religião, ainda não é assim tão pacífico.
Como se vê, Felipe, que nasceu com o desígnio de ser rei de Espanha, vive dias interiormente muito tumultuosos. Tão tumultuosos que já lhe passou pela cabeça desistir. Mas não consegue. O dever fala mais alto. É um patriota e ama o seu país acima de tudo. Mas nem todos conseguem ver o sacrífico que carrega por amor a Espanha. Há quem acuse o filho dos reis eméritos, Juan Carlos e Sofia, de ser "fraco" e ter uma "personalidade triste". E isso magoa-o profundamente. Sente-se sozinho e sem ter a quem recorrer. A sua relação com a família está longe de ser o que era. O pai está longe e profundamente dececionado, as irmãs magoadas e a mãe desiludida. Os amigos foram-se afastando depois de se ter casado com Letizia. Ela será a responsável por esse afastamento e ele permitiu que acontecesse. Agora, sofre as consequências da sua passividade, mas sobretudo do seu sentido de missão.