Nem na saúde, nem na doença. Zanga sem fim à vista com o filho Alexandre é a grande desilusão na vida de Pinto da Costa
Amolecido pelo amor pelo filho, Pinto da Costa perdoou-o no passado, mas no último ano voltou a sentir-se traído por Alexandre e cortou de vez. Agora, numa altura em que a sua saúde está cada vez mais frágil, aos 86 anos, não há sinal de aproximação por parte do filho mais velho, provavelmente a grande mágoa na vida do antigo dirigente do FC Porto.
Se há um ano que colocou à prova as amizades, relações e convicções de Pinto da Costa foi este último. Para alguém, como ele, que há 42 anos estava sentado na cadeira do poder, habituado a luxos, mordomias, palmadinhas nas costas e uma certa 'bajulação', os últimos meses acabaram por ser reveladores, não tanto em relação às pessoas que se mantêm a seu lado (essas são as poucas, mas boas e que não se contam assim por tantos dedos das mãos), mas por aqueles que, precisamente, viraram costas quando mais precisava.
Afastado pelos sócios do seu grande amor, o antigo presidente do FC Porto, de 86 anos, sentiu na pele o sabor da traição, daqueles que de repente 'viraram a casaca' porque agora havia um novo rosto, André Villas-Boas, para venerar. No meio do choque, as más notícias como que vieram em catadupa e Pinto da Costa, que já há algum tempo tinha sido diagnosticado com um cancro na próstata, viu a doença a progredir, deixando-o a braços com uma maior sensação de finitude, o que fez com que ficasse ainda mais consciente de quem estava a seu lado e dos que não telefonaram, deram a cara ou sequer acenaram ao longe.
E se a filha Joana se tem revelado, desde há uns anos para cá, uma parceira de lutas, um apoio firme, o filho Alexandre é, sem dúvida, a grande desilusão de Pinto da Costa. A 'The Mag' sabe que os dois continuam de costas voltadas e que a evolução da doença não amoleceu o coração de Alexandre, que não deu o passo em frente no sentido de resolver as divergências com o pai, que segundo uma fonte são irreconciliáveis porque envolvem muita coisa para além da típica relação entre pai e filho, nomeadamente "questões de dinheiro".
"O Alexandre não se tem portado nada bem com o pai e dificilmente haverá um perdão, até porque já tinha acontecido uma vez. Eles já estiveram anos de costas voltadas por causa de coisas do futebol, de negócios (Alexandre é agente desportivo) e a história repetiu-se. Desta vez, é demasiado grave, há muitas coisas em jogo e é mesmo muito difícil que possam voltar a entender-se", diz uma fonte, acrescentando que esta é uma mágoa para o antigo presidente portista, ainda que raramente o admita de forma frontal.
"Sabem como é que ele é, está sempre a desvalorizar as coisas, a falar com ironia, como se estivesse a brincar, mas nota-se que estes últimos dois, três anos lhe pesaram mais do que quase os últimos 30. E o Alexandre é aquela traição que ele dificilmente vai voltar a perdoar."
No tribunal decorre o processo que poderá explicar melhor as divergências entre pai e filho. Para todos aqueles que não seguem os meandros do futebol, o caso resume-se a duas ou três coisas: alegados desvios de dinheiros, esquemas para lucrar com transferências de jogadores e se tudo isso pudesse ser feito dentro do feudo de uma família perfeito.
Trocado por processos, em 2021, o Ministério Público anunciou a abertura de vários inquéritos para que Pinto da Costa, o filho Alexandre e o empresário Pedro Pinho explicassem negócios de jogadores, com os quais teriam obtido ilegalmente vários milhões de euros, numa quantia que ascenderia aos 40 milhões. O esquema teria sido perpetuado durante mais de dez anos.
"Para colocarem jogadores no FC Porto ou venderem jogadores do FC Porto, os agentes aceitam devolver aos dirigentes desportivos do mesmo clube, designadamente a Jorge Nuno Pinto da Costa, parte dos montantes cobrados pela sua intervenção como intermediários nesses negócios", pode ler-se no despacho.