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Nos tempos em que o Algarve era lugar de encontro de príncipes e princesas. As memórias de José Manuel Trigo e do icónico T-Clube da Quinta do Lago

Chinelos e bermudas estavam proibidos naquele espaço noturno por onde passaram membros da realeza, estrelas internacionais, empresários e muitos políticos portugueses. Contudo, ainda antes da pandemia, o T-Clube fechou portas e com ele trinta anos de histórias. À FLASH! o eterno dono, José Manuel Trigo, recorda o que de melhor ali aconteceu e explica por que razão hoje nada disso seria possível
Por Célia Esteves | 12 de agosto de 2021 às 23:06
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo
T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo

"Podia chamar-se Guardiola, podia chamar-se quem quisesse, podia até chamar-se Presidente da República, mas não entrava ninguém nem de bermuda, nem de chinelos. Isso posso garantir e aconteceu muitas vezes. O problema é que atrás de umas bermudas vem um fato de banho, atrás de um chinelo Gucci vem uma havaiana, com todo o respeito pelas Havaianas que também as tenho, mas quer dizer há lugares para ir e há lugares para não ir", recorda José Manuel Trigo, proprietário do mítico T-Clube, espaço noturno que ficava na Quinta do Lago e que marcou a noite algarvia por trinta anos.

"O T-Clube criou uma linha e manteve essa linha até ao fim, não abdicou. Não tínhamos foguetes. Uma pessoa quer uma garrafa de champanhe, e está divertida, que beba a sua garrafa de champanhe, mas não precisa de ostentar com foguetes. E quem é quem não precisa de ostentar, eu trabalhava para famílias. Na mesma noite estavam rapazes e raparigas, dos 18 aos 20 anos, e os avós de 80 e os pais na mesma mesa. O T-Clube marcou um estilo", adianta o empresário, de 70 anos.

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"Uma pessoa quer uma garrafa de champanhe, e está divertida, que beba a sua garrafa de champanhe, mas não precisa de ostentar com foguetes"

E na verdade não faltaram estrelas nacionais e internacionais naquele espaço de diversão. "Os reis de Espanha, as princesas de Espanha, a família Agnelli, os príncipes do Mónaco, a Carolina, a Stephanie e depois a nível nacional, as duquesas de Bragança, o prescrito banqueiro Ricardo Salgado, tantos políticos...", recorda. "O presidente Cavaco Silva jantou várias vezes no T-Clube, o Mário Soares no T de Lisboa, acho que toda a sociedade e nobreza passou por lá. Pelo menos aqueles que gostavam de jantar bem e tomar um copo, porque o T-Clube começava às sete da tarde, não era as três da manhã e a pista abria as onze da noite.", refere o marido da antiga apresentadora Vera Roquette. 

José Manuel Trigo com Vera Roquette no T-Clube Foto: Cofina Media
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Para o proprietário que conseguia reunir na mesma sala toda esta elite, as coisas eram simples: "A filosofia do T Clube era assim que entrasse um cliente pela porta a pista tinha de estar a funcionar como se estivessem 150 ou 500 clientes, porque ele está a pagar a bebida ao mesmo preço, vai lá para se divertir e a pista de dança tem que estar aberta. Agora é que se vai a uma discoteca e a pista não está a funcionar. E eu pergunto mas então o cliente está a beber de borla? Não quero desprestigiar ninguém mas há muito amadorismo".

"A festa do champanhe era champanhe desde a hora de jantar até as seis da manhã. Era champanhe sempre a correr!"

A FAMOSA FESTA DO CHAMPANHE 

"O T-Clube distinguia-se por uma filosofia. Não era melhor nem pior que as outras casas, era diferente. Podia ir beber champanhe mas não era para festejar a ostentação, porque é mais rico que os outros e bebe champanhe, no T-Clube isso não existia. Costumava dizer a todos os meus colaboradores que todo o cliente que entrou naquela porta é VIP e nós não usamos a palavra VIP para nada, porque temos de tratá-los como VIPS sejam todos eles mais ou menos conhecidos, mais ou menos famosos, mais ou menos ricos, não interessa. Entrou naquela porta, é VIP e VIP é uma palavra que não gosto. É simplesmente uma pessoa importante para nós.", explica José Manuel Trigo que até ao início da pandemia fazia consultoria em alguns espaços nomeadamente no SUD do grupo Sana.

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T-Clube, Algarve Foto: arquivo José Manuel Trigo

De recordar que ao longo dos anos foram inúmeras as noites temáticas que aconteceram naquele espaço noturno, contudo havia uma que fazia suspirar por um nome na lista que era a famosa festa do champanhe. "Era uma coisa especial, era a única festa por ano em que o T-Clube oferecia. Oferecia aos meus amigos pessoais e aos grandes clientes da casa. Era feita ao domingo, não era uma festa comercial, não ganhava dinheiro, pelo contrário era eu que pagava. Era champanhe desde a hora de jantar até as seis da manhã. Era champanhe sempre a correr! As seis da manhã fechávamos a música e acabava o champanhe, mas quem ainda tinha ficava a beber. A grande festa era essa, o resto eram festas temáticas" lembra o empresário que começou nestas lides no Brasil, mais precisamente em S. Paulo na década de 1970 no Clube Hipopotamus.

Pedro Santana Lopes com José Manuel Trigo Foto: dr
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Em tantos anos são muitas as recordações, contudo o proprietário está certo de que "os clientes têm sempre mais recordações do que nós". "Foi lá que encontraram se calhar a primeira namorada, que se apaixonaram, se divorciaram, se calhar foi lá que foram felizes ou se calhar foram infelizes", garante, salientando: "Eu não trabalhava mas saia de lá sempre cansado porque estava atento a tudo. Para mim o T, a alegria que me dava era sentir que tinha cumprido a minha missão. As pessoas sairem de lá felizes. Sentir que eu e os meus colaboradores prestávamos um bom serviço."

"Não fiquei milionário com a venda do T-Clube" 

O PRINCIPIO DO FIM 

"O T nunca foi adjetivado por nós. Nunca dissemos que éramos os melhores do Mundo, o público é que nos adjetivou, a imprensa, não fomos nós. Nós oferecemos o produto que era bom. Contudo, o T tinha que evoluir porque tudo na vida evolui", refere sobre um espaço que funcionava todo o ano. No Inverno fechavam só um dia na semana já o T de Lisboa trabalhava 365 dias num ano. "Porque havia mercado, e há mercado agora, é preciso saber explorar. Apesar de agora ser mais velho estou cheio de genica e se hoje fizesse um T-Clube é lógico que ia fazer um T-Clube do ano 2021, não o de 1988. A moda mudou, a maneira de estar mudou, a cabeça dos jovens mudou, a dos mais velhos também mudou, a música, tudo mudou. Se hoje fizesse um T-Clube era natural que me adaptasse aos tempos atuais", garante.

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José Manuel Trigo com convidados no T-Clube Foto: Cofina Media

Em 2018, Trigo vendeu os mais de dois mil metros quadrados a um fundo internacional. E já se pode saber por quanto vendeu? "Isso não! (risos) São mais de dois mil metros quadrados dentro da Quinta do Lago por isso com certeza que não foi barato, mas também não foi muito caro. Foi aliás muito abaixo do mercado porque eram muitos metros quadrados. São 2400m2. Agora não foi aos preços Quinta do Lago porque senão estava milionário mas não fiquei milionário com a venda", assegura sobre a venda do espaço onde funciona atualmente o Cuá Cuá Club, uma nova aposta que foi convidado a conhecer por João Magalhães, um dos sócios, antes de abrirem portas no mês passado.

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"Apesar de agora ser mais velho estou cheio de genica e se hoje fizesse um T-Clube é lógico que ia fazer um T-Clube do ano 2021, não o de 1988"

"Apesar de agora ser mais velho estou cheio de genica e se hoje fizesse um T-Clube é lógico que ia fazer um T-Clube do ano 2021, não o de 1988"

PIONEIRO ATÉ AO FIM 

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Duas vezes por ano, no outono e na primavera, José Manuel Trigo distribuía a T-Imagens. Uma revista onde se podiam ver as celebridades que tinham marcado presença nas mais variadas festas. "Era o dia a dia do T-Clube e quem o frequentava", explica, lembrando que quando abriu portas em 1988 no Algarve, em Lisboa seria já na década de 1990, não havia nenhum espaço com aquelas caraterísticas no sul do país.

Paula Mozer e amigas no T-Clube Foto: Cofina Media

Aliás, foi no T-Clube que abriu o primeiro restaurante de sushi no Algarve, em 1999, conta.. "Foi o Miguel Guedes de Sousa, que hoje é um dos donos do JncQuoi e é casado com a Paula Amorim, que abriu comigo o primeiro japonês", recorda

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"O antigo Banana's foi talvez a primeira grande casa a nível nacional com restauração e animação, e o novo conceito vai passar por aí, os super clubs. E o que são? São restaurantes em que a partir de determinada hora – 22h30, 23h –, têm uma mudança na iluminação, na animação, nas luzes e no som, e o espaço transforma-se num ambiente dançável. Esse vai ser o futuro para as gerações que não se vão deitar às cinco da manhã nem vão para a discoteca às três da manhã. Isso é para uma geração muito jovem. E na verdade o T Clube já era isso, tanto em Lisboa como no Algarve, os espaços sempre tiveram restaurante, só que hoje é mais abrangente. Isto é um 'know how' que vem de fora, eu e o Manecas Mocelek [proprietário do Banana's], como trabalhámos no estrangeiro na altura, é evidente que nos apercebemos que grandes clubes noturnos em Paris, em Londres, em Nova Iorque já eram restaurantes com pistas de dança".

José Manuel Trigo com Cinha Jardim no T-Clube Foto: Cofina Media

"Estas licenças provisórias assassinaram a noite algarvia tal como a conhecíamos há dez, 15 anos"

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O QUE CORREU MAL 

José Manuel Trigo aponta as más decisões das autarquias para o fim de alguns negócios, nomeadamente o T-Clube. "Houve aqui um problema a nível regional e se calhar também a nível nacional. Alguns empresários detetaram que no Algarve só se ganhava dinheiro na última semana e julho e nas três primeiras de agosto, e as camaras, de uma maneira na minha opinião ilegal, começaram a conceder licenças tipo licenças de circo e o que é que é que aconteceu? As discotecas que ganhavam dinheiro no verão para sustentar o inverno que sempre foi deficitário deixaram de ganhar. Nunca ninguém ganhou dinheiro no Algarve na noite fora do mês de julho e de agosto. Fosse uma Trigonometria, uma Kadoc, fosse uma Kiss, ninguém ganhava dinheiro", explica o empresário.

António Costa Foto: dr
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"Ora se você guardava o dinheiro para depois enfrentar todo o ciclo do inverno, quando isso deixou de acontecer foi complicado. Imagine: uma pessoa vai de férias uma semana, mesmo que sejam duas, mas a média está normalmente no máximo dez dias. Vamos dizer que saem três vezes por semana, se for por curiosidade a uma dessas casas que abriu só no verão são menos 33% do mercado, perdemos 33% de lucro e quando você deixa de ter lucro na estação alta e acumula prejuízo na estação baixa torna o negócio inviável. Por isso é que o Algarve neste momento não tem animação noturna a não ser nos meses de julho e agosto. Estas licenças provisórias assassinaram a noite algarvia tal como a conhecíamos há dez, 15 anos".

E assim, depois de alguns verões com espaços a funcionar com licenças provisórias e a fazer concorrencia, José Manuel Trigo decidiu fechar portas e com ele três décadas de vivências.

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