O longo e doloroso calvário da família Ribeiro Telles: depois do adeus ao bebé Vicente, o futuro incerto das duas meninas que podem passar meses em recuperação
A viver um verdadeiro pesadelo desde o fatídico acidente, Graça Ribeiro Telles e João Caldeira mal têm tempo para fazer o luto do bebé que perderam. Focam-se nas boas notícias - a alta da filha mais velha e a recuperação extraordinária de Amélia - ao mesmo tempo que todas as orações vão para as que mais precisam: Graça e Carmo. Na primeira atualização real do boletim clínico das filhas, João Vicente Caldeira traça um quadro difícil, realista e que se prevê um longo processo de recuperação.
De um momento para o outro, a vida como a família Ribeiro Telles a conheciam alterou-se por completo. Desde o passado dia 13 de novembro, quando Graça Ribeiro Telles sofreu o brutal acidente que deixaria todas as filhas hospitalizadas e causaria a morte ao bebé Vicente, de apenas dois meses, que os dias têm uma dimensão diferentes e são vividos, mais do que um de cada vez, quase de hora a hora.
Apesar da dor e do sofrimento, o clã mantém-se unido, não perde a fé e celebra todas as pequenas conquistas que se assinalam desde o acidente, que ocorreu na zona de Coruche, onde a família reside.
Devido à gravidade do acidente, que gerou uma onda de comoção por todo o país, o pai, João Vicente Caldeira, tem utilizado as redes sociais para colocar toda esta comunidade de apoio a par do estado de saúde das quatro filhas, sobre as quais pela primeira vez se sabe exatamente qual é o real boletim clínico.
A notícia mais animadora foi recebida na última segunda-feira, quando a filha mais velha recebeu alta do Hospital de Santa Maria e pôde juntar-se à mãe, que ainda continua a recuperar lentamente das mazelas físicas sofridas no despiste.
"Estão a evoluir devagarinho. A Xinha [Graça Ribeiro Telles] está em casa, mas ainda muito condicionada, sem poder sair. A mais velha teve alta ontem, mas também muito limitada porque tem a bacia partida", esclareceu o antigo forcado, adiantando que decidiu quebrar o silêncio em nome da onda de amor com que a família tem sido inundada.
"Devo isso a tanta gente que está preocupada com elas e tem tentado saber notícias. Nunca me vou esquecer nem vou ter maneira de agradecer tanto apoio", começou por dizer o agrónomo.
Apesar das boas notícias, há ainda três meninas internadas naquele que é o maior hospital público da cidade de Lisboa.
Sobre o estado de saúde de Graça e das filhas, o cenário é positivo. "Estão a evoluir devagarinho. A Xinha [Graça Ribeiro Telles] está em casa, mas ainda muito condicionada, sem poder sair. A mais velha teve alta ontem, mas também muito limitada porque tem a bacia partida", explicou.
Quanto às filhas mais novas, as três ainda permanecem internadas no Hospital Santa Maria, em Lisboa. Para breve está prevista a alta de Amélia, uma das gémeas de seis anos, enquanto a irmã Carmo tem ainda um longo caminho pela frente, uma vez que já não se encontra em coma induzido, mas não se encontra 100 por cento consciente.
"A Amélia, uma das gémeas, está a evoluir bem da fratura da bacia e do traumatismo. Deve ter alta ainda esta semana. A Carmo, que esteve em coma induzido, tem vindo a recuperar e a acordar muito devagarinho. Ainda não está completamente consciente, mas os sinais que vai dando são bons e esperamos que recupere totalmente. Mas vai demorar".
"A outra gémea, a Graça, é a que está pior. Tem várias lesões na medula e não mexe as pernas e o braço direito. Mas por enquanto o foco é no abdómen, onde foi operada ao intestino, ao uretere (os tubos que transportam a urina dos rins) e ao pulmão direito que colapsou. Mas está a evoluir bem, sendo que é uma recuperação lenta também", explicou.
Mediante o cenário, a prioridade total será a recuperação das crianças, sendo que nos próximos tempos a mãe Graça deverá estar a tempo inteiro a acompanhar e a prestar apoio às meninas, ao mesmo tempo que ela própria recupera, não só física mas emocionalmente do pesadelo que se abateu sobre a vida da família desde o dia em que regressava do aeroporto, onde tinha acabado de deixar o marido, quando se despistou, e entrou na faixa de rodagem oposta numa estrada nacional, o que originaria uma brutal colisão.
"A recuperação física vai ser demorada, mas muito mais dura vai ser a parte emocional. Por agora, estão todos focados nas meninas, ainda não caiu a ficha a ninguém. É um quadro violento demais", diz uma fonte, acrescentando que toda a família se tem unido em torno de um grande sentimento de esperança.
Tal como o pai, João Vicente Caldeira, fez questão de enaltecer nas cerimónias fúnebres do bebé Vicente, o filho viveu apenas dois meses, mas deu grandes ensinamentos a todos, o maior o facto de nada valer cultivarmos guerras porque a vida é efémera e sempre nos coloca diante desafios que fazem tudo o resto parecer supérfluo.