O todo poderoso Juan Carlos: como ele mexe os "cordelinhos"... à distância e continua a mandar na família real
Caiu em desgraça, vive exilado e muito longe do seu país e é o filho Felipe que hoje está sentado no trono de Espanha. Mas na verdade, nada o derruba. O rei emérito apenas perdeu algum poder político. A última palavra no que respeita à família continua a ser dele e move-se bem nos bastidores, devido aos fiéis e influentes amigos que continuam a prestar-lhe vassalagem. Juan Carlos ainda é soberano!
Mais do que monárquicos, muitos espanhóis (talvez até a maioria) eram Juan Carlistas, ou seja, grande parte dos súbditos admiravam a figura de Juan Carlos, um rei que soube reunir a admiração do povo pelo seu papel na história recente de Espanha. Apesar de tudo o que veio a acontecer e a descobrir-se em relação ao monarca, são muito poucos os que não reconhecem a importância que o atual rei emérito teve na transição do país para a democracia após a morte do general Francisco Franco, em 1975. Juan Carlos desempenhou também um relevante trabalho diplomático em prol de Espanha. Tirando-a das trevas de uma ditadura rumo ao progresso e à modernidade internacional. Nada conseguirá apagar isso!
Durante décadas, Juan Carlos não contou apenas com o apoio incondicional do seu povo. Teve também a imprensa do seu lado e de toda a classe política. Evidentemente que toda a unanimidade que conseguiu reunir em torno de si, facilitou-lhe sobremaneira o reinado. A imagem que se construiu ao longo dos tempos foi a de um rei competente, patriota, que colocava Espanha acima de tudo e de todos. Era, além de mais, um homem com uma imagem agradável, simpático, de trato fácil, acessível, bonacheirão e muito próximo do povo.
O PAPEL MAIS DECORATIVO DE FELIPE VI
A sua posição como a mais alta figura do Estado e todo o poder que detinha aproximou-o de uma elite também ela com poder que dominava (e domina) os setores-chave da sociedade espanhola. Ajudou e foi ajudado. Favoreceu e foi favorecido. Encobriu e foi encoberto. Ao longo do seu reinado, Juan Carlos fez muitos amigos importantes, amigos esses que continuam a seu lado e que não lhe viram as costas. Amigos influentes que continuam a ver nele um rei, embora ele já tenha abdicado em favor do filho, em 2014. Oficialmente, terminou ali o seu reinado de 38 anos, mas há quem considere que é ele que continua a pôr e dispor e que Felipe VI, apesar de toda a sua boa-vontade, tem um papel mais decorativo e institucional. Está longe de ter o carisma do pai e está a anos luz da sua astúcia. É quase certo que Juan Carlos, até pela sua personalidade, continua a influenciar os desígnios do país, mesmo quando está a milhares de quilómetros de distância da sua pátria, a viver um exílio forçado nos Emirados Árabes Unidos e esteja envelhecido e doente.
Aconselhado por Letizia, Felipe tem feito de tudo para romper com o reinado do pai, distanciar-se da sua imagem e de todos os escândalos que, entretanto, vieram a público e que arrastaram o nome de Juan Carlos para a desgraça. Mas ainda assim, Felipe continua a ser muito mais apagado que o seu antecessor. Percebe-se a sua determinação em recuperar a imagem da monarquia, mas só com a morte do pai é que o atual monarca terá a oportunidade de sair da sombra e, então, aí sim, talvez, começar a ser visto como um verdadeiro rei. Há uma herança, tanto para o bem como para mal, que Felipe não consegue suplantar. Que ninguém lhe gabe a difícil tarefa que foi suceder a um homem como Juan Carlos.
OS ESCÂNDALOS QUE LHE MANCHARAM A REPUTAÇÃO
Em Espanha, há quem se interrogue como é que Juan Carlos deitou tudo (ou quase tudo) a perder por causa da sua ganância, como disse em entrevista à The Mag a jornalista Pilar Eyre que tanto sabe dos Borbón e de todos os bastidores do Palácio da Zarzuela. Disse a especialista que a falta de dinheiro na sua juventude tornou-o um homem ávido de poder. Mesmo tendo muito, nada lhe parecia suficiente, opina Eyre. E foi essa a razão pela qual se deixou corromper ao ponto de ser incriminado em diversos crimes, como corrupção, lavagem de dinheiro, suborno e tráfico de influências. Mas como se isso não bastasse há outros escândalos que mancharam a reputação real: os múltiplos casos extra-conjugais, a prisão do marido da infanta Cristina por envolvimento no caso Nóos e as caçadas em África.
Embora, caído em desgraça aos olhos de muitos espanhóis, especialmente dos das gerações mais novas, o nome de Juan Carlos ainda suscita respeito pelo poder que se sabe que não perdeu. A sua debilidade física é inversa à força que ainda detém nos meandros da política e da alta finança.
Também no seio da família, ainda é Juan Carlos quem decide. Isso ficou bem patente com a recente traição de Iñaki Urdangarín. Perante o imenso escândalo, a quem é que a infanta Cristina se apressou a ligar? Ao pai, claro está. E é o rei emérito que, à distância, tem orientado a filha e a dizer-lhe como gerir toda esta situação deveras humilhante. Entretanto, Cristina já viajou para Abu Dhabi para que o rei emérito lhe explicasse tim-tim por tim-tim como agir doravante. Também foi ele que já fez saber que o ainda genro não levará nem mais um tostão de Cristina.
Juan Carlos é, quer se queira ou não, o verdadeiro patriarca e, apesar de todos os erros cometidos ao longo dos anos, ninguém se atreve a negar-lhe esse papel. Mesmo que alguém tivesse essa veleidade, não há ninguém que soubesse assumir tal posição. Na família e no país. Aos 84 anos, continua a ser uma personalidade incontornável de Espanha.