Orgias, rituais, coelhinhas em cativeiro e cães viciados em drogas. As histórias da mansão Playboy e de Hugh Hefner descritas ao pormenor
Sexo, drogas, câmaras e microfones. As cenas mais bizarras de uma das mansões mais famosas de Hollywood são expostas pela primeira vez na série 'Secrets of Playboy'. As coelhinhas que viviam com Hugh Hefner relatam tudo, sem pudores.
Uma nova série abre as portas da famosa mansão Playboy para deitar por terra o "machismo aceitável" à volta do estilo de vida de Hugh Hefner. As coelhinhas dizem agora que viviam em cativeiro e a revista criada pelo magnata já validou as histórias destas mulheres.
Depois de transformar "the girl next door" (a miúda da porta ao lado) no símbolo sexual da revista mais desafiadora dos anos 50 e das décadas seguintes, Hugh Hefner transformou-se no novo homem visado pelo movimento Me Too (#metoo)
De acordo com a série documental ‘Secrets of Playboy’, da A&E Network, a mansão de dois mil metros quadrados escondia histórias de ameaças, abuso de drogas e rituais de culto. "Eu via menina após menina aparecer, de rosto jovem, adorável, e via essa beleza simplesmente desaparecer. Nós não éramos nada para ele", afirma Sondra Theodore, uma ex-modelo e atriz que namorou com "Hef" nos anos 1970 e 1980, citada pela ‘BBC’.
A ex-diretora da Playboy, Miki Garcia, contou que "as mulheres eram ludibriadas e levadas a acreditar que eram parte da família dele", afirmando que viu várias residentes da casa ter overdoses por causa das drogas.
O uso de drogas e o abuso de álcool seriam também a estratégia para o empresário tirar fotografias que podiam ser usadas como chantagem contra estas mulheres. "Ele tirava todo o tipo de fotos quando estavam completamente embriagadas e imprimia oito cópias, para ele e todas as mulheres […]. Era nojento", revelou Holly Madison, que namorou oito anos com Hugh depois de ter entrado aos 21 anos na mansão.
"Encontrei milhares dessas fotos de câmaras descartáveis de que falas, Holly Madison", respondeu a viúva do empresário, Crystal Hefner, no Twitter. "Rasguei-as imediatamente e destruí cada uma delas por ti e por todas as outras mulheres. As fotos desapareceram".
A cocaína seria tão abundante na mansão de 29 quartos que os cães teriam ficado viciados por lamber o pó do chão. Hugh Hefner teria também nomeado uma das drogas usadas nas orgias de "abre-pernas", denunciou um ex-assistente executivo.
Jennifer Saginor, a filha do médico de confiança do magnata, Mark Saginor, observou de perto, desde criança, o que se passava dentro da mansão Playboy. "Eu via algumas destas meninas a fazer coisas que eu não reconhecia. Via-as nuas com homens à volta, via-as de quatro no chão a usar drogas. Isso assustava-me", contou no primeiro de dez episódios da série.
"Não se tratava do empoderamento das mulheres, tratava-se do desmoronamento das mulheres", analisou.
CRESCER NA MANSÃO PLAYBOY
A história de Jennifer Saginor na mansão da Playboy traz luz sobre o que era permitido debaixo das câmaras instaladas por Hugh Hefner. A mulher, hoje com 51 anos, entrou pela primeira vez na mansão quando tinha seis anos, ao lado do pai, o médico que seguiu o empresário durante anos.
Para Jennifer, a mansão era "um reino mágico". Cinco anos depois, a menina ganhou um quarto próprio na casa, no andar de cima, junto dos quartos das mulheres – onde toda a ação e as orgias diárias decorriam. "Como criança, acreditava que aquelas mulheres tinham poder, andavam nuas e sentiam-se bem em relação ao corpo. As feministas não percebiam. Com o passar do tempo, percebi as inconsistências. Vi uma enorme hipocrisia".
Com 15 anos, a jovem apaixonou-se por uma das namoradas de Hugh Hefner, a quem chamou Kendall. Uma noite, a mulher encomendou daiquiris e "uma coisa levou a outra". "As pessoas que sabiam do 'affair' sabiam que Jennifer era menor", disse um dos ex-funcionários da mansão, Mitch Rosen.
Hugh Hefner saberia o que estava a acontecer com a menina por ter toda a casa sob vigilância.
UM OLHAR EM CADA CANTO
Havia equipamentos completos de gravação por toda a mansão Playboy, imagens que eram vistas e armazenadas por Hugh Hefner, denunciaram as mulheres e os ex-funcionários. "Cada quarto, e mesmo na parte de fora da propriedade, tinha câmaras, disse Stefan Tetenbaum. "Todos os lugares tinham microfones e pequenas câmaras".
Para ex-namorada Sondra Theodore, as gravações seriam usadas para ameaçar, inclusive membros da imprensa. "Ele deixava os média entrar nas festas de propósito porque eventualmente iam fazer algo que pudesse criar arrependimento. Mais à frente, se algo negativo sobre ele estivesse a ser preparado, ele dizia ‘penso que não, lembra-se disto?’ E de repente o assunto desaparecia".
O ESTRANHO CASO DE LINDA LOVELACE...
Era tudo permitido nas orgias organizadas por Hugh Hefner. Segundo PJ Masten, a matriarca das coelhinhas, a famosa atriz do filme pornográfico ‘Garganta Funda’, Linda Lovelace, foi protagonista de uma das cenas mais bizarras das festas daquela mansão.
Linda terá chegado à casa completamente embriagada e drogada com amigos. "De repente, aparece um Pastor Alemão", disse PJ Masten. "Conseguiram pô-la tão confusa que ela acabou por fazer sexo oral ao cão. Querem falar sobre depravação? Era nojento."
DO LEGADO DA LIBERDADE ÀS REAÇÕES DA FAMÍLIA
A nova série não deixa de parte o lado mais público de Hugh Hefner – a luta pela liberdade das mulheres, ordenados altos, a possibilidade de crescimento na "carreira" dentro das estruturas da Playboy. O empresário construiu um império a enfrentar o conservadorismo americano, a dar protagonismo a mulheres negras, a defender o uso das pílulas anticoncecionais e o direito ao aborto. Noutras áreas da justiça social, a Playboy Enterprises financiou grupos contra o racismo e de luta pelos direitos dos homossexuais. Não à toa, é este legado que a família de Hugh Hefner quer sublinhar.
O filho mais novo do magnata, Cooper, fruto da relação de Hefner com Kimberley Conrad, já veio defender o pai contra as acusações na série. "Ele era generoso e importava-se profundamente com as pessoas. Essas histórias lascivas são um estudo de caso do arrependimento a tornar-se vingança", escreveu no Twitter.
A revista que Hugh Hefner criou há 69 anos tem outra visão. "A Playboy de hoje não é a Playboy de Hugh Hefner", lê-se num comunicado. "Confiamos e validamos essas mulheres e as suas histórias e apoiamos fortemente as pessoas que se apresentaram para compartilhar suas experiências."
O empresário morreu aos 91 anos em 2017 de causas naturais, em casa, um mês antes do nascimento do movimento Me Too nas redes sociais.