Os amores de Plácido Domingo, aos 82 anos: "De Portugal adoro o ambiente das ruas, a sofisticação da gastronomia e o fado comovente"
Considerado por muitos como o maior tenor de todos os tempos, Plácido Domingo canta este domingo na Altice Arena, em Lisboa, num concerto único com a Orquestra Sinfonietta de Lisboa. À FLASH! The Mag declara uma admiração incondicional por Portugal ex explica porquê.
Ele já interpretou mais de 150 personagens, já fez mais de 4 mil atuações, já esteve debaixo da batuta de alguns dos maiores maestros e até tem o seu nome inscrito no Guiness Book por, em Julho de 1991 ter estado, durante uma hora e vinte minutos, debaixo de aplausos na Ópera de Viena (bateu o recorde que pertencia a Luciano Pavarotti). Já interpertou Mozart, Richard Wagner, Händel ou Giuseppe Verdi e já fez soar a sua voz em eventos desportivos como os Jogos Olímpicos de verão, em Pequim, no hino do Real Madrid ou como cabeça de cartaz num concerto em Central Park (reuniu uma plateia de 400 mil pessoas num único dia). Em espanhol, inglês, alemão, italiano ou francês, ele é, aos 82 anos, um dos maiores da história e está de volta a Portugal. Placido Domingo atua dia 15 na Altice Arena, em Lisboa, num concerto único em que será acompanhado pela orquestra Sinfonietta de Lisboa, composta por 65 músicos. O pretexto para uma conversa sobre a relação com Portugal e o fado, a carreira e as origens na música.
Que concerto é este que vai trazer para os fãs portugueses?Estamos a preparar um concerto muito variado, adequado para um público que adora ópera mas não só, porque também haverá peças de Zarzuela, Opereta, Clássicos da Broadway e também canções populares. Estou muito feliz por regressar a Lisboa.
O Plácido Domingo já cantou diversas vezes em Portugal. Que lembranças tem das suas visitas por cá?
A minha estreia em Portugal foi em 1989, quando cantei Otello de Verdi no Teatro Nacional de São Carlos. Foi uma experiência muito especial pela ‘jóia’ que é o Teatro. Depois voltei, aproximadamente a cada dez anos, com diversas apresentações. O meu concerto mais recente foi em 2017 quando cantei então na MEO Arena e tive o prazer de actuar ao lado de Rita Marques, maravilhosa soprano portuguesa e da grande e querida Kátia Guerreiro. Depois daquele concerto, regressei a Lisboa em 2018 para a vigésima sexta edição do meu concurso de canto Operalia, novamente no Teatro São Carlos. Foi uma ótima semana em que ouvimos muitos jovens talentos, incluindo o tenor português Luis Gomes, que ganhou dois prémios. Culminou com o final da Operalia quando dirigi a Orquestra Sinfónica Portuguesa, que nesse ano comemorou o seu 25º aniversário.
Como é a sua relação com Portugal e com a música portuguesa?Adoro o ambiente das suas ruas, a riqueza da sua história e a sofisticação da sua gastronomia, mas acima de tudo, adoro fado: acho-o comovente e intenso. Tive o privilégio de acompanhar Kátia Guerreiro cantando os dois fados, 'Foi Deus' e 'Coimbra', naquela noite inesquecível 2017. Espero ter a oportunidade de voltar a interpretar o Fado.
"Tive o privilégio de acompanhar Kátia Guerreiro cantando os dois fados, 'Foi Deus' e 'Coimbra', naquela noite inesquecível 2017"
Aos 82 anos, que prazer ainda tira do palco?Nunca me falta emoção e adrenalina quando subo no palco. Fazer música é algo maravilhoso. A música faz parte da minha vida desde criança, é um elemento essencial para mim, assim como ar e dá-me muita alegria poder continuar fazendo música na minha idade. Viajar pelo mundo, tocando músicas tão queridas até em lugares onde nunca estive antes.
Depois de tantos anos, ainda se lembra de como tudo começou?Comecei a cantar aos 16 anos como barítono, em 1957 desempenhando um pequeno papel na zarzuela ‘Gigantes y Cabezudos’ em Guadalajara, México. Logo depois amadureci a minha voz e a minha técnica e passei para o registo tenor, em 1958, estreando no papel de Borsa de 'Rigoletto' no Palácio de Bellas Artes na Cidade do México. E no ano seguinte desempenhei Alfredo em 'La Traviata'.
"Nunca me falta emoção e adrenalina quando subo no palco"
É verdade que sua primeira atuação profissional foi com a sua mãe? como foi?Sim, porque meus pais eram cantores de zarzuela. E foi a minha mãe, um dia, quando aos 15 anos, eu estava sentado ao piano a tocar e a cantar que ela descobriu que eu tinha um voz interessante. Eu vi-a a chorar e perguntei-lhe porquê. Ela respondeu: "Meu filho, tu tens voz!"
Ainda se revê naquele garoto?Quanto tempo se passou! Quando era criança eu tinha muitos sonhos mas não consegui imaginar tudo isto que a vida me deu: tocava piano e admirava muito meus pais que trabalharam muito, com duas ou três apresentações da Zarzuela por dia entre apresentações e ensaios. Mas lembro-me que tive muitos desejo de fazer, aprender e crescer como é natural nessa idade. Conquistei muito e acho que realizei muitos dos sonhos que aquele garoto tinha.
O que gostaria que o futuro ainda lhe reservasse?Se o futuro continuar como o presente, não tenho mais nada a pedir porque sou um homem feliz. E agradeço a Deus todos os dias por tudo que me deu. Estar perto e rodeado de minha família dá-me força e serenidade.