Sara Norte, uma história de luta e superação: da morte da mãe quando estava presa em Espanha à irmã que partiu cedo demais
Já se passaram mais de dez anos desde que a atriz foi presa em Algeciras, depois de ter sido apanhada a entrar em Espanha com 800 gramas de haxixe no estômago. Depois de ter batido no fundo, assume, aprendeu da pior maneira possível, ao perder a mãe quando estava em cárcere. Hoje, continua a revisitar as memórias de Carla Lupi, mas já não se pune como no passado.
Esta semana, Sara Norte voltou aos holofotes mediáticos ao recordar um dos períodos mais dramáticos da vida quando perdeu a mãe, em 2012, numa altura em que estava a cumprir pena de prisão em Algeciras, condenada a 16 meses por tráfico de droga, depois de ter sido apanhada a regressar de Marrocos com 800 gramas de haxixe no estômago.
Nessa altura, o estado de saúde da mãe, a atriz Carla Lupi, piorava a olhos vistos. Ainda foi ver a filha à prisão, mas meses depois acabaria por falecer, num desfecho difícil de aceitar para Sara Norte, que durante muito tempo se culpou por não ter estado ao lado da mãe quando esta mais precisou e, depois, junto da família nas cerimónias fúnebres. Tudo isso, assume, dificultaria o processo de luto.
"No momento em que recebi a notícia estava presa e recordo-me perfeitamente do sentimento de impotência que senti: o não poder abraçar o meu avô e os meus irmãos. No fundo, de não poder chorar a morte da minha mãe junto aos meus. Sei que a culpa dessa impotência foi minha e que para cada ato há uma consequência e não contesto isso, mas há marcas que ficam dentro de nós que não conseguimos apagar", garante, acrescentando ter crescido da pior maneira.
Na altura em que foi presa, Sara vivia rodeada por más companhias e a ausência de trabalho numa área em que se estreou ainda menina, pela mãe não só da mãe, mas também do pai, o ator Vítor Norte, faria com que entrasse numa espiral decadente que culminou com a prisão. Apesar de todos os 'ses', a atriz não tem dúvidas de que esse foi o grande catalizador da mudança e que se a detenção não tivesse acontecido, o desfecho até poderia ter sido bem pior. A dor e as lágrimas que marcaram a sua passagem por Algeciras ficarão para sempre gravados na sua memória, mas também os amigos que por lá fez e que ficaram para a vida.
Hoje, à luz da distância, este já não é um tempo a que Sara tenha medo de voltar, ainda que as recordações tragam à tona muitos sentimentos contraditórios. Enquanto esteve presa, a atriz confessa ter recebido inúmeras cartas, uma delas, de 36 páginas, assinada pela mãe, só chegaria já depois de esta ter morrido. E aquilo que aquelas linhas transmitiam é precisamente a degradação do ser humano, o que representou um murro no estômago de Sara.
"A minha mãe a meio da carta dizia 'olha, não tenho um euro para comer, estou a passar fome, não tenho como viver, não sei como é que isto… espera aí que tocaram à campainha'. Depois voltou à carta e disse assim 'tu não sabes o milagre que acabou de acontecer, o restaurante aqui debaixo acabou de me vir oferecer todas as refeições'", disse no 'Passadeira Vermelha', acrescentando que não endeusa a mãe porque esta já morreu. Apenas aceita e tenta compreender as suas falhas. "Foi uma mãe que falhou muito, mas porque era doente, não era ela que estava a falhar. E eu acho que estas cartas são importantes para ficar na memória e eu guardo-as até procurar as feridas que a minha mãe me fez e que eu sei que eu também lhe fiz. E é muito bonito!"
A DOR DE PERDER A IRMÃ
Depois de sair da prisão, Sara Norte recompôs-se. Ao início, garante, os olhares de preconceito eram difíceis de aceitar, mas o tempo passa e faz com que as outrora notícias 'mais importantes' sejam substituídas por outras e hoje, certamente, já nem todos sequer se recordarão que a atriz esteve presa.
Longe de ter a vida perfeita, Sara construiu a sua estabilidade. Vive uma relação feliz com o noivo Vasco Vala, encontrou o seu lugar na televisão, no programa 'Passadeira Vermelha' (ainda que não deixe de sentir mágoa por as portas para a sua carreira de atriz continuarem fechadas), mas até lá chegar teve a sua própria jornada de superação, depois de um duro golpe abanar o seu mundo, como uma machadada, quando perdeu a irmã, Beatriz, de apenas 14 anos, vítima de leucemia.
"É uma grande revolta. Estive três anos muito revoltada, pensava que não merecia viver. Comecei a descurar muitas coisas em mim, até que no verão passado se fez o 'clique' e percebi, com terapia e com tudo, que mereço viver. Mas é uma grande revolta com tudo, com todos e comigo. Porque pensava: 'Porque é que não me levaram a mim, que já fiz tanta coisa?'. A minha irmã nunca fez nada, nunca teve um namorado, nada. Nunca viveu. Nunca teve experiências que eu tive", lamenta.
Foi um longo processo até chegar à paz interior que alcançou nesta fase da sua vida, sempre sem esquecer a falta que lhe fazem aqueles que já partiram.