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Sérgio Conceição renasce! Os seis meses de inferno do treinador, o sofrimento dos filhos e a trágica perda dos pais nunca esquecida

Depois de um ano em que sentiu traído, foi magoado por aqueles que sempre defendeu e em que só o colo da mulher e dos filhos o salvou, eis que Sérgio Conceição renasce como um herói em Milão. Na hora da 'remontada', quebra o silêncio sobre os "seis meses muito maus", fala do "sofrimento" dos filhos e recorda os pais, que perdeu de uma forma trágica quando ainda era um jovem, e que o deixaram a braços com uma vida de provações e dificuldades, que sempre desafiou.
Por Rute Lourenço | 07 de janeiro de 2025 às 20:11
Sérgio Conceição Flash
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Flash

Entre as lágrimas e sorrisos, Sérgio Conceição celebrava, na noite de segunda-feira, 6 de janeiro, com a emoção de uma criança a conquista da Supertaça italiana pelo AC Milan, onde literalmente chegou, viu e venceu. Não é que a sua carreira de treinador esteja isenta de troféus, pelo contrário, aos 50 anos, já teve muitas e boas oportunidades para festejar, mas esta conquista assume uma dimensão especial depois do calvário que Conceição viveu nos últimos meses.

A constatação não é nossa. Ao mesmo tempo que celebrava a conquista, contra o Inter, em Riade, que simbolizava como que um renascimento, o português quebrava o silêncio sobre os tempos difíceis que viveu desde que foi despedido do FC Porto, substituído pelo seu braço direito, Vítor Bruno, e, por fim, a derradeira traição, criticado por Pinto da Costa, a quem sempre demonstrou todo o apoio.

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"Dedico este título aos meus pais, que já não estão entre nós, à minha mulher e aos meus filhos que sofreram nestes meses; foram seis meses muito maus depois de tantos anos no FC Porto. Esta Supertaça deixa-me muito satisfeito", disse, como uma chapada de luva branca a todos aqueles que o desacreditaram ao longo deste tempo, ressurgindo como um verdadeiro herói em Itália, e deixando os adeptos do Milan completamente rendidos.

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Ao longo dos últimos tempos, a família foi o seu colo e porto seguro. Pai de cinco rapazes, todos eles futebolistas, e dedicado à mulher de uma vida, Liliana, Sérgio Conceição recorreu ao apoio dos seus para lidar com aqueles que foram, talvez, os meses mais duros da sua carreira, e afastou-se do panorama mediático enquanto equacionava o futuro, após nove anos dedicado ao FC Porto.

Nos primeiros meses de interregno, Sérgio Conceição admite até ter desfrutado de alguma sensação de liberdade, mas as saudades dos relvados falaram mais alto e a ansiedade começou a crescer. O convite do Milan chegou na altura certa e a vitória galvanizou o treinador, levado em ombros por jogadores, adeptos e até pelo diretor desportivo dos rossoneri, Zlatan Ibrahimovic, que brincou com o facto de o treinador estar doente e sobre a euforia nos balneários.

"Quero felicitar o treinador e a equipa. Em apenas alguns dias fizeram um excelente trabalho. Ainda bem que o treinador estava com febre, senão teria partido mais do que um televisor", atirou.

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A final contra o Inter foi o segundo jogo do treinador aos comandos do Milan, sendo que a estreia aconteceu contra o clube do filho Francisco, a Juventus. Lesionado, o jovem jogador acabou por ficar fora da partida, mas o abraço sentido que pai e filho deram no relvado foi registado como um dos momentos mais emocionantes do desafio.

Sérgio e Francisco Conceição Foto: Flash
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Agora, os filhos de Conceição fizeram questão de demonstrar o orgulho que sentem pela 'remontada' do técnico, que em pouco mais de uma semana, virou rei em Itália.

A TRAGÉDIA DOS PAIS NUNCA ESQUECIDA

Conhecido por ter um feitio difícil e explosivo, após a conquista Conceição mostrou-se muito mais emotivo do que estamos habituados a vê-lo. E nessa faceta mais humana, dedicaria também a vitória aos pais, que morreram com um intervalo de dois anos, quando Sérgio ainda era um jovem, num momento profundamente marcante e traumatizante na sua vida.

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"O meu pai morreu num acidente de moto. Eu estava num dos cafés da aldeia e foram-me chamar: quando cheguei, vi-o no chão, tiraram-me dali para fora. Mais tarde, soube que não tinha resistido ao acidente. O mais incrível é que eu e a minha família tínhamos estado a tentar dar-lhe a volta durante meses para me deixar ir para o FC Porto, porque ele não queria. Até que se deixou convencer e foi comigo assinar o contrato – no dia seguinte morreu. Foi terrível, para mim e para todos. A minha mãe estava numa cadeira de rodas paralisada de um dos lados, e faleceu dois anos depois", contou o treinador ao 'Expresso'.

A partir daí, a vida complicou-se, ainda que nunca tivesse sido propriamente fácil. Oriundo de uma família com oito irmãos, o treinador cresceu na humildade de quem sabe o valor do trabalho, das conquistas e de viver com os mínimos.

"Eu vi o sofrimento que eles passaram, a forma como trabalhavam para nos dar o mínimo. Eles não viviam, sobreviviam com muito sacrifício. A minha mãe estava em casa, o meu pai trabalhava nas obras, dia e noite, e eu ajudava-o nas férias", contou, adiantando que a realidade era muito diferente da que vive hoje, a todos os níveis, até nos afetos. "Não havia mimo. Os meus pais... principalmente o meu pai, era duro, rígido, dificilmente dizia a uma filho que gostava dele. Hoje digo muito aos meus filhos que os amo, mas era difícil o meu pai dizer isso a um dos oito filhos."

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Ainda assim, o que faltava de afeto dos pais, Sérgio tinha a dobrar dos irmãos, quase todos mais velhos, que lhe deram sobrinhos desde tenra idade. Um deles, Bruno Conceição, recordaria recentemente ao jornal 'A Bola' esses tempos marcados pelas dificuldades, mas também por um espírito de união acima da média.

"Vivíamos todos na casa dos meus avós (pais de Sérgio Conceição). Foi assim desde que me lembro e até o Sérgio ir para o FC Porto, quando tinha 15 anos. Fazíamos tudo juntos, dormíamos no mesmo quarto e na mesma cama, uns com pés para um lado, outros com as cabeças para o outro. Era a nossa realidade. Eram tempos muito difíceis. Mas todos seguimos um rumo certo na vida, com valores e princípios de que nunca abdicámos. O Sérgio, por ser o mais velho, era o nosso chefe. E nós acatávamos sempre as ordens dele."

Há quem diga que a 'casca grossa' de Conceição vem precisamente das adversidades que teve na vida, de tudo aquilo que foi obrigado a enfrentar, numa realidade que nunca fez com que perdesse a fé que o faz acreditar que, mesmo depois dos dias mais duros, haverá sempre uma 'remontada'.

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"Todos os dias me agarro a Deus. Ao domingo vou à missa, sou praticante com muito orgulho. A religião faz parte da minha vida e da dos meus filhos. Incuto-lhes esse meu estado de espírito. Sentimo-nos preenchidos com aquilo que é a nossa fé. Respeito toda a gente que não tem a mesma opinião e que acham que há outro caminho a percorrer. Para mim é essencial."

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