
Rainha Letizia de Espanha, princesa Charlene do Mónaco e Meghan Markle, duquesa de Sussex, de Inglaterra, são as três Cinderelas dos tempos modernos. Três plebeias, sem qualquer ligação sequer à aristocracia, quanto mais à realeza, casaram com os seus príncipes encantados e viram as suas existências mudar da noite para o dia. Sabiam ao que iam, tinham noção de que as suas vidas nunca mais seriam as mesmas e que passariam a estar no centro de todas as atenções. Mas acreditaram que saberiam enfrentar as dificuldades. Que estavam prontas para gerir as adversidades. Acreditaram que o amor venceria todas as barreiras, por mais espinhosas que estas fossem. Mas não, nenhuma fazia sequer ideia do "tsunami" que as esperava. Foram completamente – as três - abalroadas pelas circunstâncias, pelas diferenças, pelos preconceitos e pelas contrariedades. Enquanto a espanhola e a norte-americana se mostraram mulheres de fibra, perseverantes e lutadoras, já a sul-africana, mais frágil emocionalmente, sucumbiu às críticas constantes, à pressão para dar herdeiros à coroa e à falta de privacidade. Adoeceu e retirou-se da vida pública. Tenta agora reerguer-se aos poucos.
Estão rodeadas de luxos, de privilégios e têm acesso a coisas e a locais com que nunca ousaram sonhar, nem naqueles sonhos mais ambicioso de infância. Só que tudo isso tem um preço muito alto e Letizia, Meghan e Charlene sabem-no bem. Mas só o descobriram mais tarde, quando o mundo lhes caiu em cima e quando já não era possível voltar a trás. Se o fizessem, o destino seria ainda pior. Ficariam afastadas dos filhos e viveriam uma vida ainda mais madrasta, pois ninguém iria entender a desistência. O fechar a ferrolho uma história de encantar e destruir o sonho de um conto em que os príncipes e as princesas são "felizes para sempre". Só a princesa Diana o fez e não se deu muito mal. Mas ela é um caso único na história da realeza. A sua popularidade, ser tão amada pelo povo [por isso ficou conhecida como "Princesa do Povo"] e a sua aura nunca permitiriam que fosse renegada. Mas deixemos Lady Di, pois não é dela que falamos neste artigo. Debrucemo-nos, então, sobre as três "Cinderelas" da modernidade.
RAINHA LETIZIA
Talvez pela posição que ocupa, rainha consorte de uma das monarquias mais tradicionais de toda a Europa, a antiga jornalista da TVE tem dado muito que falar. Esta plebeia que casou com Felipe, na altura príncipe das Astúrias, não teve a vida facilitada. Nada mesmo. Começou logo por enfrentar a oposição da família do marido. Juan Carlos, à época rei de Espanha, foi o seu maior opositor. Aquele que não teve qualquer pejo em mostrar o seu desagrado e em fazer-lhe a vida negra. Nunca aceitou o passado republicano da nora e uma história em que nem sequer faltava um divórcio a manchar-lhe o desejado "currículo" impoluto ambicionado para uma futura rainha. Contou com o apoio solitário do marido. Apenas e só, pois para além dos Borbón também a aristocracia lhe virou as costas. Fez chacota dela e nunca a aceitou. Mas Letizia é um osso duro de roer. Levantou a cabeça, empinou o nariz e assumiu o seu lugar ao lado de um rei. A carapaça que colocou não a favorece, pois dá a imagem de uma mulher dura, teimosa e muito pouco empática para o exterior. Só que esta foi a única forma que encontrou para gerir todo o turbilhão que lhe virou a vida de cabeça para o ar. O seu carisma e a sua personalidade bem vincada fazem com que a espanhola, que está prestes a fazer 50 anos, seja vista como uma das mais rebeldes cabeças coroadas da Europa.
MEGHAN MARKLE
A atriz norte-americana, que tal como Letizia, já havia sido casada, não era nem de longe, nem de perto a noiva ideal para o príncipe Harry, filho e irmão de dois futuros reis de Inglaterra. Contudo, parece que desde muito cedo o destino de Meghan Markle passaria pela monarquia inglesa.O sonho de casar com um príncipe vem dos tempos de menina. Como qualquer adolescente, também Meghan Markle sonhava com uma história de amor digna de um conto de fadas. Aos 15 anos viajou pela primeira vez para Londres. Frente ao Palácio de Buckingham, a jovem norte-americana terá confidenciado que sonhava em tornar-se princesa. Não se tornou princesa, mas duquesa de Sussex. O problema é que a atriz de Hollywood, uma mulher ambiciosa, tinha uma vida antes de chegar à corte inglesa. E não estava disposta a abdicar dela. Sobretudo da sua liberdade. Ainda tentou ter o melhor dos dois mundos, mas não conseguiu. Assim, arrastou o marido para os Estados Unidos. Depois do deslumbramento inicial de passar a ser um membro da realeza britânica, dos privilégios, de lhe satisfazerem todos os seus desejos e caprichos, a norte-americana queria mais e acreditou que alcançaria as todas as suas ambições no outro lado do Atlântico, no país que é conhecido por ser o das oportunidades e que se deixa fascinar por esta coisa de "príncipes e princesas". Mas Meghan Markle enganou-se. Ainda não conseguiu chegar onde quer chegar, só que ela não desiste e luta para vencer.
CHARLENE DO MÓNACO
Das três é aquela que dá mais sinais de sofrimento e de inconformismo com a vida que lhe estava destinada ao casar com Alberto do Mónaco. Tornou-se conhecida no mundo inteiro como a "Princesa que nunca sorri", tal é a sua tristeza por estar presa a um casamento que não é aquilo com que sonhava desde menina. Há pouco mais de um ano que a antiga nadadora olímpica encheu manchetes pelo seu misterioso desaparecimento. Ficou longos meses retida na África do Sul por um suposto problema de saúde do foro otorrinolaringológico. Depois, regressou ao principado, mas não permaneceu. Voltou a deixar marido e os filhos por estar alegadamente exausta. Física e psicologicamente. Foi internada numa clínica de luxo na Suíça e por lá permaneceu mais uns meses. Está de volta ao Mónaco e faz o sacrifício de retomar lentamente a sua agenda oficial.
Há a convicção generalizada de que Charlene Wittstock não se sente bem no país que adotou quando casou. O seu maior desejo seria poder regressar a "casa", para junto dos seus e esquecer o Mónaco. Mas impedem-nas as consequências demasiados castigadores. Haverá um acordo pré-nupcial que estipula que a sul-africana perde o direito a estar com os filhos em caso de divórcio. Isto significa que, caso decida deixar o Mónaco, terá de deixar Jacques e Gabriella para trás. Em caso algum seria concedida a autorização das duas crianças acompanharem a mãe. Assim Charlene resiste. Mesmo que combalida. Muito combalida, mesmo!
"GRANDE PARTE DA TRADIÇÃO DESAPARECEU"
Terminamos este artigo sobre estas três mulheres que são plebeias de nascença mas que se tornaram cabeças coroadas por casamento com a visão avalizada de José Bouza Serrano, especialista em realeza europeia. Diz no livro 'As Famílias Reais dos Nossos Dias': "Muitos consortes, se bem que ‘morganáticos’ [casamentos entre desiguais] para os monárquicos ortodoxos, salvaram a monarquia de uma certa apatia e do declínio, pelo seu empenho e promoção dos valores das famílias em que se integraram e se reproduziram", considera o autor. Diz também Bouza Serrano: "Os ‘casamentos desiguais’ contribuíram para a implosão do restrito clã da realeza como o conhecíamos, apagaram traços de família e os sólidos parentescos, puseram em xeque a educação comum e uniforme das Pessoas Reais desde o seu nascimento". E defende a ideia:
E remata: "Não se pode medir o êxito ou a continuidade de uma monarquia, senão pela utilidade da instituição e as qualidades dos seus protagonistas, que resultem uma referência sólida, um exemplo inspirador ou sejam úteis aos seus concidadãos".