
Há seis meses, Júlio Magalhães vivia o inimaginável. De repente, o seu mundo ruiu quando, ao atender o telemóvel na manhã do dia 19 de março, do outro lado da linha tinha um inspetor da Polícia Judiciária que o instava a deslocar-se imediatamente até à sua casa, no centro de Lisboa, ou a porta seria arrombada. Começava, então, um inferno para o jornalista, que viu o seu nome ligado, como suspeito, à 'Operação Maestro', que investiga um esquema, liderado pelo empresário do Porto Manuel Serrão, em que milhões de euros de fundos europeus seriam utilizados indevidamente para proveito próprio.
Ora, toda a gente sabe que uma acusação deste género, só por si, é a 'morte' para um jornalista que, ainda para mais, é o rosto das notícias, como pivô da CNN, e a suspeita levou a que de, comum acordo, suspendesse as suas funções na TVI, bem como a colaboração na Rádio 'Observador'.
O jornalista, de 61 anos, regressava, então ao Porto, recolhendo-se à sua casa e ao isolamento enquanto aguardava por avanços na Justiça. Na sua cidade natal, era quase como um 'fantasma', cuja presença era sabida, mas que nunca ninguém via ou com quem praticamente ninguém privava. Esta foi a forma que Juca, como é carinhosamente tratado, encontrou para se manter à tona no meio da tempestade, enquanto sentia todo o seu futuro a abanar, como nunca lhe tinha acontecido. E se nunca mais pudesse voltar a exercer? E se a sua carreira de jornalista estivesse irremediavelmente condenada?
E não é que já haja uma resposta definitiva para essas questões, mas no início de setembro, foi com surpresa que a TV Guia avançou que Júlio Magalhães estava de volta à redação da CNN para retomar as suas funções, não como pivô, mas sim como jornalista, a fazer um trabalho descrito como "de bastidores".
Ora, naturalmente que o regresso do jornalista levantou a questão de o que é que teria mudado, uma vez que, na altura em que foi suspenso de funções, um comunicado da TVI deixava bem claro que Júlio Magalhães apenas regressaria quando a sua situação perante a Justiça se alterasse. "É de entendimento mútuo que essa situação se deverá manter até esclarecimento complementar dos factos", podia ler-se no comunicado então emitido.
Perante o regresso de Juca, 'The Mag' foi tentar perceber o que teria, então, mudado para que o jornalista tivesse tido o aval da direção para regressar. E foi o advogado do jornalista quem explicou que a decisão se prendeu com o facto de, até à data, Júlio Magalhães não ter sido constituído arguido no processo, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, com os empresários Manuel Serrão e António Sousa Cardoso. "O nome consta no processo como suspeito, mas não foi constituído arguido", explicou à 'FLASH!' o advogado Guilherme Figueiredo, salientando que até ao momento o Ministério Público ainda não avançou com uma acusação.
Perante a inexistência do estatuto de arguido, o jornalista recebeu com satisfação a notícia de que poderia voltar ao trabalho, algo que se materializou no início de setembro. "O Juca é muito querido pelos colegas e foi recebido com afeto. Tem mantido a mesma postura. Sempre foi uma pessoa muito 'low profile' e está no canto dele, a trabalhar", refere uma fonte, acrescentando, no entanto, que, apesar do regresso, não é expectável que, para já, volte a dar a cara pelo canal. "Tem estado a fazer um trabalho mais de bastidores e assim deverá continuar."
O LONGO CALVÁRIO DE JÚLIO
O regresso à vida em Lisboa e, principalmente, ao trabalho acaba por ser como que uma lufada de ar fresco para Júlio Magalhães, depois de meses em que esteve sujeito a uma grande tensão. Perante o drama que vivia, o jornalista estabeleceu a discrição como grande arma para fazer face à polémica.
Nas redes sociais, nunca mais publicou nada e as únicas aparições públicas desde março prenderam-se com a sua carreira literária, como escritor, sendo também estas, no entanto, bastante pontuais.
Aos 61 anos, Juca, que já passou por várias fases da vida e da sua carreira, julgar-se-ia preparado para quase tudo, até porque há não muito tempo já tinha tido como que uma espécie de estágio para os dias difíceis. Aconteceu em 2021, quando deixou a direção do Porto Canal. Na altura, o jornalista sentiu na pele aquilo que nunca lhe tinha acontecido: alguma indiferença por parte dos colegas, o telemóvel que não dava notícias de pessoas que outrora lhe estavam constantemente a ligar.
"A televisão é muito viciante para nós. E a verdade é que eu quando saí da televisão, deixei de existir. E desde que eu saí do Porto Canal em janeiro, deixei de existir. Tenho muita gente que nunca mais me ligou. Nós temos a nossa família, depois temos os nossos amigos e depois para o resto somos aquilo que representamos. É assim a vida", disse em conversa com Cláudio Ramos e Maria Botelho Moniz no 'Dois às 10', acrescentando que não guarda mágoa desses tempos mas sim uma aprendizagem. "Senti na pele uma coisa que eu não tenha sentido. Sou um tipo simpático, dou-me bem com toda a gente e às vezes senti que, amigos de outros canais, não me ligavam com algum constrangimento porque pensavam: 'eu não tenho um convite para lhe fazer'",
No entanto, deve ter sido pouco quando comparado com aquilo com que agora se depara, com tudo aquilo que julgava estável a desmoronar. É certo que o processo ainda não acabou, e que Juca terá uma longa batalha pela frente, ao ritmo moroso da Justiça portuguesa, mas dará agora um novo valor aos seus dias, numa altura em que recuperou uma das suas grandes paixões. Viverá, a partir de agora, como que um dia de cada vez...