
Foi há cinco meses que Júlio Magalhães recebeu uma chamada telefónica que o deixou lívido. O jornalista estava na redação do 'Observador' quando um elemento da Polícia Judiciária o avisou de que ou regressava imediatamente a casa ou não teriam outra opção que não a de arrombar a porta do apartamento, no centro de Lisboa, para realizar buscas.
Foi o início de um pesadelo que não tem fim e que ligou o nome de Júlio Magalhães à 'Operação Maestro', um esquema liderado por Manuel Serrão, em que 39 milhões de euros terão sido desviados de fundos públicos e usados indevidamente, para fins pessoais. Apesar de o empresário do Porto ser o principal visado - com o estilo de vida milionário a levantar suspeitas - a verdade é que Júlio Magalhães, sócio de duas empresas do amigo, vê também a sua idoneidade posta em causa, ao ser constituído arguido. O processo judicial foi entregue ao Juízo Central Criminal de Guimarães, sem que o julgamento esteja ainda marcado, mas apesar da presunção de inocência a que qualquer cidadão tem direito, numa profissão como a de jornalista a associação a qualquer caso que envolva falta de transparência já é fatal.
Consciente de tudo o que estava implicado, Juca, como é carinhosamente tratado pelos amigos, suspendeu imediatamente funções na TVI/CNN, onde era um dos pivôs principais, e na Rádio Observador, com a qual colaborava. Prontamente regressou ao Porto, a sua terra natal, onde desde então tem vivido numa espécie de reclusão que preocupa os mais próximos, pelo isolamento a que toda esta situação o condenou.
Na cidade, o jornalista não é visto nos locais que sempre frequentou durante toda a vida, nem sozinho nem com a mulher, Manuela Magalhães, nem tão pouco com os filhos. Segundo uma fonte ouvida pela 'The Mag', têm sido meses de uma reclusão quase total apenas quebrada para acontecimentos muito pontuais, e que normalmente se prendem com a sua outra vocação profissional, os livros. "No Porto, o Juca é como que um fantasma. Toda a gente sabe que ele está lá, mas nunca ninguém o vê em lado nenhum. Tem a vida completamente destruída e não há propriamente um plano, uma saída. Vive em isolamento", diz a fonte, acrescentando que o jornalista deixou, inclusivamente, de atender o telemóvel a algumas pessoas, fechando-se numa espécie de concha, principalmente para os chamados conhecidos por intermédio deste meio mediático.
Além do futuro, totalmente incerto aos 61 anos, a quebra de rendimentos também é motivo de preocupação para o jornalista, que recebia 10 mil euros mensais na TVI/CNN e 3500 euros, fruto da sua colaboração com a Rádio. E claro que desde o início que a estação para a qual trabalha disse que o lugar de Juca estaria à sua espera, caso fosse provada a sua inocência. Ainda assim, não se sabe quanto tempo é que esta situação se pode arrastar e se quando o processo chegar ao fim, o cenário na estação para a qual trabalhava se irá manter inalterado.
Numa altura particularmente difícil, que o jornalista tem enfrentado numa quase total solidão, apenas o seu trabalho de escritor o 'salva'. Desde que a polémica estoirou, Júlio Magalhães já marcou presença em dois eventos relacionados com o seu trabalho literário, que sente que, de alguma maneira, é um escape para a situação atual que está a viver.
O 'TIPO PORREIRO' QUE SE TRAMOU
A ligação à 'Operação Maestro' colocou Juca numa situação que nunca imaginou. Discreto, profissional, sóbrio e um 'tipo porreiro', nunca houve manchetes que ligassem o seu nome a polémicas. A sua carreira também foi sempre maracda por um percurso vencedor, mas tranquilo. Na TVI foi sempre um dos rostos mais queridos e mesmo quando, em 2011, decidiu mudar de vida e regressar ao Norto para ser diretor do Porto Canal, manteve o respeito dos seus pares.
Curiosamente, haveria de ser a decisão de regressar ao Porto que o aproximaria do amigo Manuel Serrão e foi precisamente nesses anos em que terão ocorrido os desvios milionários de que ambos são acusados.
Permaneceu 10 anos na Invicta, até que, em 2021, a sua ligação ao Porto Canal chegou ao fim e o que se passou a seguir mexeu profundamente com Juca. Há quem diga que foi uma espécie de estágio para o que agora está a passar, que lhe deu bagagem para perceber o quanto a fama pode ser efémera e a televisão tanto endeusa como condena ao esquecimento. Ele próprio o assumiu numa entrevista, meses depois quando já estava pronto para regressar aos ecrãs da TVI/CNN.
"A televisão é muito viciante para nós. E a verdade é que eu quando saí da televisão, deixei de existir. E desde que eu saí do Porto Canal em janeiro, deixei de existir. Tenho muita gente que nunca mais me ligou. Nós temos a nossa família, depois temos os nossos amigos e depois para o resto somos aquilo que representamos. É assim a vida", disse em conversa com Cláudio Ramos e Maria Botelho Moniz no 'Dois às 10', acrescentando que não guarda mágoa desses tempos mas sim uma aprendizagem. "Senti na pele uma coisa que eu não tenha sentido. Sou um tipo simpático, dou-me bem com toda a gente e às vezes senti que, amigos de outros canais, não me ligavam com algum constrangimento porque pensavam: 'eu não tenho um convite para lhe fazer'", afirmou.
Sendo um dos rostos mais acarinhados da televisão, Júlio Magalhães sempre cultivou várias amizades no pequeno-ecrã e até o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que fazia comentário na TVI na altura em que o pivô lá trabalhava, era uma dessas pessoas próximas.
Eram outros tempos, quando Júlio Magalhães ainda não tinha caído em desgraça e o futuro ainda não era esta coisa sem perspetivas que está a abanar o mundo do jornalista.