
Tudo indica que o multimilionário Elon Musk se torne no novo dono do Twitter, após a sua proposta de 41,14 milhões de euros pela famosa rede social ter sido aceite. A decisão foi justificada pelo fundador da Tesla e da SpaceX como uma defesa da liberdade de expressão, que caracterizou no comunicado onde a transação foi anunciada como "a base de uma democracia funcional", com o Twitter a ser "a praça da cidade digital onde assuntos vitais ao futuro da humanidade são debatidos."
A notícia foi recebida com os contrastes habituais em assuntos que estejam relacionados com Musk, uma das personalidades mais divisivas da era atual, mas se o natural de Pretória, África do Sul, de 50 anos, é uma figura que não apraz a muitos, não deixa de ter uma legião de fãs indefetíveis que o veem como um ídolo de um mundo que imaginam ter como dínamo o progresso tecnológico a partir das suas ideias. Do que não restam dúvidas é que Elon Musk é uma personagem incontornável da atualidade, até porque, segundo a Forbes, é, atualmente, o homem mais rico do mundo, com uma fortuna de 219 mil milhões de dólares, cerca de 210 mil milhões de euros.
DO APARTHEID À TESLA
Nascido na década de 1970 na África do Sul, Musk é o filho mais velho de uma modelo canadiana e de um engenheiro sul-africano, co-proprietário de uma mina de esmeraldas durante o apartheid, naquela que era uma família abastada: "Tínhamos tanto dinheiro que não conseguíamos fechar o cofre. Depois pegávamos nas notas que ficavam ligeiramente de fora e metíamo-las nos nossos bolsos", terá dito o progenitor, Errol Musk, segundo a ‘Business Insider', que esteve sob foco recentemente por ter tido um filho com a sua enteada, filha mais velha da sua ex-mulher.
O percurso começou em 1995, ano no qual Elon e o irmão Kimbal fundariam a empresa de software, Zip 2, que rendeu 22 milhões de dólares, uma quantia bem menor que os, estima-se, 165 milhões de dólares que recebeu quando a PayPal, da qual era o maior acionista, foi vendida ao famoso mercado de leilões digital, eBay, em 2002.
Já na posse de uma riqueza considerável, Musk fundou nesse ano a SpaceX, com o intuito de revolucionar o panorama da exploração espacial, e, no ano seguinte, a Tesla, empresa principalmente conhecida pelos seus veículos elétricos, mas que também opera na indústria energética. Nos dias de hoje, ambas são incontornavelmente casos de sucesso: a SpaceX foi pioneira no que toca a missões espaciais por parte de uma empresa privada, enquanto a Tesla se transformou na empresa de produção de automóveis mais valiosa do mundo, tendo vendido mais de 900 mil unidades em 2021.
O êxito da Tesla, aliás, levou o projeto de Musk a tornar-se num exemplo a seguir na indústria. Ao contrário de outras marcas, não foi severamente impactada pela era pandémica, e tudo, segundo o ‘New York Times’, graças ao seu controlo das cadeias de fornecimento e à inigualável capacidade de ir de encontro às necessidades dos clientes, mesmo quando surgiu a necessidade de adaptar os seus recursos a uma economia mundial em queda livre.
AS PERIPÉCIAS AMOROSAS
A sua companheira mais recente, a cantora canadiana Claire Boucher, mais conhecida pelo seu nome de palco, Grimes, mãe dos seus dois filhos mais novos, foi apenas a última num rol de várias conhecidas paixões do fundador da Tesla, que, aliás, esteve casado por duas ocasiões. O primeiro dos casamentos durou entre 2000 e 2008, com a autora canadiana Justine Wilson, numa relação que originou seis filhos. O primeiro dos quais, que nasceu em 2002, faleceu às 10 semanas de vida, com a causa atribuída a morte súbita infantil. Posteriormente, nasceram os gémeos Xavier e Griffin e os trigémeos Kai, Saxon e Damian.
Depois da separação, Justine Wilson referiu ter sido a sua "mulher de iniciação" e que Musk insistia em mudanças na aparência que não iam de encontro aos seus desejos: "Tinha-me transformado numa mulher-troféu e não prestava nesse papel. Não me interessava o Botox ou a maquilhagem ou disfarçar as cicatrizes das cesarianas. E por muitas madeixas que fazia, o Elon insistia que eu ficasse mais loura, dizia-me para ficar platinada e eu recusava sempre", mencionou num artigo para a ‘Marie Claire.’
O segundo matrimónio de Musk foi com a atriz inglesa Talulah Riley, mais conhecida ao público pelo seu papel na segunda temporada da série ‘Westworld’, da HBO. A relação teve vários avanços e recuos: entre a primeira cerimónia em 2010 e o divórcio definitivo em 2016, o par separou-se duas vezes.
Seguiu-se Amber Heard, a mulher que está agora nas bocas do mundo devido ao litígio na Justiça com Johnny Depp, e à troca de acusações adjacente a esse confronto. Musk conheceu a atriz nas gravações do filme ‘Machete Mata’, de 2013, mas foi apenas depois dos divórcios de ambos, que assumiram a sua relação, no início de 2017.
O par separou-se no mesmo ano, com Elon Musk a explicar aos seguidores que se mantinham amigos, com a cisão a dar-se devido às preenchidas agendas de ambos. Apesar disso, o duo reatou no final do ano, antes da relação ter o seu término definitivo poucos meses depois: "O Elon e eu tínhamos uma relação bonita e agora temos uma amizade bonita, baseada nos nossos valores nucleares. (…) A nossa ligação foi sustentada por um leque de coisas que falam com quem eu sou por dentro. Tenho muito respeito por ele", afirmou a atriz ao ‘Hollywood Reporter’ na altura.
Contudo, o caso que a opôs a Johnny Depp desvendou mais um pormenor sobre a relação, com Amber Heard a ter admitido ao gestor de talentos Christian Carino através de SMS que Musk era apenas uma forma de "ocupar o espaço" depois de se ter separado do ator, tendo acrescentado: "Odeio que mais uma vez um homem me deixa cair sozinha. Estão lixados comigo por deixá-los e colocam coisas como estas aí fora", contrariando a tese divulgada de que teria sido Musk a tomar a decisão da rotura.
Refira-se que Depp terá acusado Amber Heard de o ter traído com Musk, tese que o ex-par nega, apesar dos vídeos apresentados em tribunal que a mostram junto deste, tal como de James Franco, num elevador, enquanto a relação ainda subsistia - os dois alegados amantes estariam provisoriamente na lista de testemunhas para o caso, embora a imprensa internacional tenha já dado conta que tal não irá suceder, desconhecendo-se o motivo.
PASSADO E FUTURO DE MUSK NO TWITTER
O Twitter, rede social fundada em 2006 por Jack Dorsey, Noah Glass, Biz Stone e Evan Williams, tem sido a principal e predileta plataforma de comunicação de Elon Musk, onde é seguido por mais de 80 milhões de utilizadores. A história do magnata com a rede social que agora detém raramente esteve livre de acontecimentos, alguns mais polémicos, outros menos. Terá sido nesta plataforma, inclusive, que Musk contactou pela primeira vez com Grimes.
Em 2018, aquando do mediático resgate de um grupo de crianças tailandesas que ficaram presas numa gruta, Musk apelidou o autor do mesmo, Vernon Unsworth, de "tipo pedófilo", numa polémica que terminou nos tribunais, tendo-lhe, ainda assim, sido dada razão no caso de difamação colocado por Unsworth. No mesmo ano, a Tesla fora multada em 20 milhões de dólares, devido a um tweet sobre a marca. Igualmente neste âmbito, dois anos mais tarde, um tweet seu, onde afirmava que o preço das ações da Tesla estava "demasiado alto", fez o valor da empresa decrescer em 14 mil milhões de dólares.
Em janeiro, começou a sua investida com vista a deter o Twitter, algo que admitia estar na sua órbita desde 2017, comprando uma participação de 9,2%, duas semanas depois de ter criticado a plataforma pela falta de liberdade de expressão – por exemplo, Donald Trump está banido completamente do Twitter, que justificou a decisão com o "risco de mais incitamento à violência." Agora, viu mesmo ser aceite a sua proposta de aquisição pelos já mencionados 41,14 mil milhões de euros.
O que mudará no Twitter com Musk? Um foco maior na temática das criptomoedas, uma das áreas em que o magnata mais tem dado importância nos últimos tempos, é expectável, mas a principal alteração deverá prender-se mesmo com a amplitude da moderação da plataforma.
Este fator já levou Elon Musk a ser "avisado" pela União Europeia, depois de as notícias sobre a compra terem sido divulgadas. "Todos são bem-vindos, estamos abertos, mas nas nossas condições. Sabemos o que dizer-lhe: ‘Elon, há regras. És bem-vindo, mas estas são as nossas regras, não são as tuas regras que irão estar em vigor'", disse Thierry Breton, comissário da UE para o mercado global, acrescentando: "A direção do Twitter vai ter de se assegurar que, se operar na Europa, tem de cumprir as obrigações, incluindo moderação, algoritmos abertos, liberdade de expressão, transparência, discurso de ódio, pornografia de vingança e assédio", continuou, referindo que, se tal não for feito, a rede social poderá mesmo ser banida de operar dentro da União Europeia. Realidade é que ficou novamente provado que muito dinheiro pode equivaler a muito poder