O cavaleiro tauromáquico Marcos Tenório Bastinhas, de 39 anos de idade, decidiu suspender a carreira tauromáquica a 12 de julho, através de um comunicado nas suas redes sociais, no qual referiu que a pausa, por "motivos pessoais", difícil mas necessária, após 25 anos de atividade ininterrupta.
Dias mais tarde, o filho do malogrado toureiro Joaquim Bastinhas assumiu publicamente estar a enfrentar uma depressão profunda. Foi a gravidade da situação que o levou a tomar a decisão de suspender a sua carreira, pois sentiu que não podia continuar a tourear, o que colocaria a sua vida em risco. A sua mulher, Dália Madruga, chegou a descrever o medo constante de o deixar sozinho, receando que ele fizesse algo mais grave. Em entrevista, ao lado de Dália, o cavaleiro de Elvas revelou que teve "pensamentos de alguém que não queria estar aqui" e que chegou a ponderar pôr termo à própria vida.
Nesta fase mais difícil Dália Madruga foi o seu pilar fundamental. Dália apoiou incondicionalmente a decisão do marido de suspender a carreira e procurar ajuda, e tem sido uma voz ativa na consciencialização sobre a saúde mental. Ela própria revelou momentos de grande sofrimento e medo de perder o marido, tendo-lhe pedido "todos os dias para não a deixar sozinha". Também os quatro filhos e restantes membros da família têm sido uma fonte de força e motivação para a sua recuperação.
Entretanto passaram quatro meses. À FLASH!, Marcos Tenório Bastinhas confirmou que os dias têm sido de recuperação, preenchidos, mas sem a pressão que o angustiava e conduziu até aqui, de forma quase silenciosa. "Tenho-me sentido cada vez melhor. Há dias a menos mas tem sido positivo com a ajuda da família, da Dália e da parte médica. Tive a sorte de encontrar dois médicos extraordinários, que têm mesmo esta vocação e me têm ajudado a superar tudo isto", revelou-nos o cavaleiro.
Neste período de recuperação, Marcos Bastinhas tem procurado insistentemente pelas razões que o levaram à depressão profunda. E este é um trabalho diário. "Não há uma resposta exata. Juntamente com a parte médica, vamos tentando descobrir dia a dia. Há um conjunto de situações, de perdas de pessoas, de ter estado muitos anos no topo da carreira sem poder baixar a fasquia, tudo isso poderá ter feito com que me viesse abaixo", considera.
Ainda assim, guarda no horizonte poder voltar a tourear, "pisar uma arena, receber o carinho do público e retribuir esse carinho". "Faz-me todo o sentido querer voltar a tourear. Faz parte de mim e vou sentir-me incompleto se não o fizer", assume.
A PARTIDA DE DUAS GRANDE REFERÊNCIAS PARA MARCOS BASTINHAS
Recentemente, Marcos Tenório Bastinhas perdeu os dois homens mais importantes da sua vida, as suas maiores referências. Foi com eles que recebeu os grandes ensinamentos da vida. O pai, o também cavaleiro tauromáquico Joaquim Bastinhas, morreu a 31 de dezembro de 2018, aos 62 anos de idade. A sua partida deixou um vazio enorme no mundo taurino mas e acima de tudo na família. Marcos e o pai tinham uma convivência diária, quase 24 horas sobre 24 horas, na Herdade das Algramassas, arredores de Elvas. O pai foi sempre o seu verdadeiro mestre, na profissão e na vida.
E se, nos primeiros tempos, Marcos Bastinhas não se apercebeu do terramoto que a partida do pai causou, o impacto acabou por ser sentido mais tarde, com toda a brutalidade. "A morte do meu pai teve um valor enorme. Não talvez imediatamente. Nesse ano quis andar para a frente, senti que tinha essa obrigação de não baixar a fasquia. Profissionalmente correu muito bem. Por vezes, quando estamos a viver estes períodos de sucessos, quando estamos lá em cima, esquecemo-nos de nós, de cuidar de nós, e não fazemos o luto como deveria ter sido feito, por sentirmos que não podemos parar. E, por vezes, cai-nos tudo em cima e é momentâneo", avalia Marcos.
Infelizmente, Marcos Bastinhas iria viver ainda uma outra perda demasiado pesada, a do avô, o comendador Rui Nabeiro, homem forte do Grupo Nabeiro e patriarca respeitado não só no seio da família mas em todo o País. Foi uma figura de grande importância para a região raiana de Campo Maior, terra que o viu nascer e de onde sempre se recusou a sair, apesar de todo o sucesso que teve como empresário ao longo dos seus 91 anos de vida.
"Sempre me guiei por pessoas mais velhas, com experiência de vida, de sucesso e viradas para os outros, que era o que acontecia com o meu pai e também com o meu avô. Quando essas pessoas partem, esses pilares, ficamos um pouco abalados e sem norte. Principalmente, agora, quando chega a altura do Natal e vamo-nos lembrando do bom que era quando a família estava toda reunida, quando estávamos todos juntos, e esses momentos estão cada vez mais vazios. É com eles no pensamento que queremos ser também essa luz que guia os nosso filhos", confidencia Marcos Bastinhas, que faz parte da administração do Grupo Nabeiro onde sente o peso do legado de Rui Nabeiro.
"O meu avô foi outra perda grande na minha vida. Um homem consensual em todo o País, e do qual tenho sentido muita falta. Um homem único na forma de estar e de trabalhar. Quem fica, fica com o peso de seguir em frente e de não defraudar, e continuar o trabalho conseguido até aqui", assume.
A VIDA NO CAMPO, O REGRESSO, A FAMÍLIA E A "SUPER-MULHER"
Para além das responsabilidades como administrador do Grupo Nabeiro, os dias de Marcos Tenório Bastinhas são a tratar da empresa agrícola da família, muito ligados ao campo. Recentemente voltou a montar a cavalo, o que já não fazia desde que tomou a decisão de suspender a carreira como cavaleiro tauromáquico. "Comecei recentemente [a montar a cavalo] porque já me vou sentindo bem. Tudo com peso, conta e medida, porque não posso fazer mais do que consigo. A sobrecarga da parte mental não pode ser demasiada", refere, agora que o tempo é também mais dedicado à família: "É o ponto essencial da minha vida. É com com eles que gosto de partilhar as minhas alegrias e as minhas tristezas, e a minha vida só faz sentido com eles e por eles."
E a mulher, a Dália Madruga, tem sido um vetor de vital importância em todo este processo. "Não tenho palavras para o que ela tem sido nos últimos tempos. A Dália deixou quase de viver e de ter vida própria para estar dependente de mim. No início não me deixava um segundo sem ela, mesmo antes de eu deixar as corridas, porque já percentia o que se estava a passar – as senhoras têm sempre um sexto sentido que as ajuda. Não tenho palavras para lhe agradecer; ela tem estado com tudo, com o trabalho, os filhos, comigo, tem sido uma super-mulher", elogia Tenório Bastinhas.
Quanto ao regresso em pleno, Marcos não estabelece metas nem datas: "É ir vivendo um dia de cada vez, vivendo o presente, tranquilamente, com o apoio médico e da família. Não quero precipitar nada para, quando chegar esse momento, poder dar tudo de mim e para que não volte tudo para trás e venha a descambar tudo outra vez."