
Um novo biquíni, 12 euros, dois vestidos em promoção, 10 euros cada, um queimador de óleo aromático, 5 euros, e um estimulador de clitóris que promete dar orgasmos em 30 segundos, 6 euros. Check! A Shein e a Temu permitem fazer as encomendas mais… diversificadas.
Esta lista de compras não é real, mas podia ser. E se ficou admirado com o preço do brinquedo sexual tão abaixo do valor de mercado também deve ficar surpreendido com outros brinquedos sexuais que estão à venda na Shein e Temu por valores como dois, três e quatro euros.
Mas estes objetos funcionam mesmo? O Tik Tok está cheio de comentários sobre as sex shops daquelas lojas online, muitos são elogios de quem não sabe o que fazer com tantos orgasmos, mas se pesquisarmos mais um pouco não é difícil encontrar o 'funeral do estimulador'. "O rose toy dela avariou-se porque custou quatro dólares na Shein, então planeei um funeral", escreveu um namorado na legenda de um vídeo dramático em que aparece a preparar a despedida do estimulador numa caixa de sapatos.
@jahmeldageekk Who would like to say a few words ? #fyp #foryou ? Funeral Music - Bobby Cole
"Nunca mais vou comprar um brinquedo sexual da Shein. Digam-me porque a minha ‘cushi’ quase incendiou-se com esta rosa que comprei. Esta m#$% sobreaqueceu... talvez porque a usei por demasiado tempo mas mesmo assim: esta m#$% sobreaqueceu". Esta foi a experiência de outra utilizadora.
@egyptianmamii #shein ? original sound - Egypt
O exemplo da rosa que simula sexo oral nas mulheres é o novo fenómeno de prazer nas redes sociais. Desde que começaram a vender brinquedos sexuais no ano passado, a Shein e a Temu disponibilizaram dezenas de imitações do rose toy.
Não se sabe exatamente quem é responsável pelo design deste estimulador, mas uma loja online norte-americana reclama para si a originalidade do produto que revolucionou o mercado, e afirma que a ideia vai além de um vibrador. A rosa é um conceito e já existem mais de 10 modelos. O problema deste sucesso é a imitação compulsiva. Enquanto a loja que se diz oficial vende os seus estimuladores por uma média de 40 dólares, nas aplicações chinesas os preços muitas vezes nem ultrapassam os 10 dólares e são dezenas de fornecedores.
A psicóloga clínica e sexóloga Vânia Beliz mostrou "preocupação" em conversa com a ‘The Mag/FLASH’. "O mercado nacional e o mercado europeu têm normas que garantem que durante o fabrico os produtos que nos chegam cumprem um conjunto de normas de qualidade. Infelizmente, muitos destes produtos surgem de mercados paralelos em que o importante é a produção e nunca a qualidade. Muitas pessoas compram mas depois, se algo corre mal, não funciona, ou origina alguma alergia, não têm nem como reclamar nem como saber exatamente o que causou o problema. Bom e barato não existe!", afirmou.
A mesma opinião é partilhada pela empresária Fátima Martins, diretora da maior rede de sex shops nacional, Koisas Dadultos. "Como se costuma dizer: o barato sai caro e um dos principais riscos no uso de brinquedos sexuais baratos é a possibilidade de estarem a comprar produtos não certificados, feitos com produtos tóxicos que não são benéficos para a saúde, não são certificados e por isso são mais baratos", declarou, acrescentando: "Para além de que se queremos ser bem atendidos vamos a um especialista".
Um dos componentes que mais causam preocupação e podem ser encontrados em brinquedos sexuais de imitação são os ftalatos. "Em ratos, este produto provocou alterações da saúde e por isso foi retirado dos brinquedos infantis", relatou o ginecologista e obstetra Franco Stanzione. Um dos aspetos que destacou em declarações à ‘The Mag’ foi precisamente que "na Dinamarca a agência de meio ambiente concluiu que as grávidas e as mulheres que estiverem a amamentar não devem utilizar os brinquedos sexuais dado que os fetos e recém-nascidos estariam expostos aos ftalatos", e ao risco de alterações no sistema endócrino, responsável pela produção de hormonas.
UM MERCADO QUENTE
Longe estão os tempos em que as sex shops estavam escondidas num beco. O mercado de brinquedos sexuais está a todo vapor, muito impulsionado pelas vendas online durante a pandemia da covid-19. E se falarmos nas lojas físicas, em qualquer hipermercado já é possível encontrar vibradores com preços que variam entre 20 e 60 euros. Em parafarmácias, estimuladores de luxo, com preços entre 80 e 260 euros, estão expostos no meio das lojas para atrair os clientes com os designs originais.
Várias pesquisas de mercado concordam há anos no vasto crescimento das vendas dos brinquedos sexuais. Um relatório publicado em novembro do ano passado pela SPER Market Research calcula que o mercado europeu vá atingir os 20,56 mil milhões de dólares até 2033.
Já a empresa Straits Research aponta os países que mais alimentam o mercado dos brinquedos sexuais na Europa: Alemanha, Itália, França, Reino Unido, Dinamarca e Bélgica. Portugal surge ao lado da Espanha, Itália e Grécia como os países onde as pessoas estão mais dispostas a explorar os objetos.
Com a popularização destes objetos, que só tende a aumentar, como é que o consumidor pode saber se está a escolher uma opção segura? "Os produtos que se vendem nos supermercados, nas farmácias e parafarmácias só são postos à venda se cumprirem com todas as normas exigidas. Por isso são dos sítios mais seguros para efetuar estas compras. Depois existem lojas online que também oferecem segurança", explicou Vânia Beliz, acrescentando ainda: "Devem comprar produtos que sejam feitos de materiais hipoalergénicos, como alguns tipos de silicone biocompatíveis (não produz efeitos nefastos sobre os tecidos biológicos), devem também ser livres de ftalatos".
A empresária Fátima Martins aconselhou os consumidores a "sempre verificar o rótulo, caso comprem numa loja não certificada". "Produtos que tenham na composição chumbo, mercúrio, cádmio, ftalatos, por exemplo, não são aconselhados. Mas hoje em dia esses produtos já não são comercializados dentro da UE. Hoje em dia a maioria dos brinquedos são feitos de silicone, um produto que não apresenta risco nenhum para a saúde".
E, tal como alertam as agências para a saúde, o silicone ideal para os brinquedos sexuais são de "grau médico".
GUIA PARA ESCOLHER, USAR E GUARDAR O SEU BRINQUEDO SEXUAL
Por esta altura, já deve saber que precisa escolher bem a loja onde vai comprar o seu vibrador certificado e de material hipoalergénico.
Peça apoio a vendedores experientes para escolher o que melhor se adapta ao seu desejo e ao seu corpo. Fátima Martins, CEO de 11 lojas há mais de 15 anos, sublinhou a importância deste contato. "Sabemos aconselhar de acordo com o cliente, isto é extremamente importante pois a sexualidade é algo muito pessoal e único, quase como a impressão digital. Não há duas pessoas iguais, e o que funciona para um indivíduo pode não funcionar para outro".
Em casa, os cuidados devem continuar para evitar a proliferação de doenças. "Brinquedos sexuais não devem ser partilhados com pessoas com problemas de saúde sexualmente transmissíveis e devem ser higienizados antes e depois de cada ato sexual", explicou Fátima. "Caso haja algum tipo de ferimento no corpo ou alguma infeção sexual não deve ser usado nenhum brinquedo sexual", rematou. Se sexo é saúde, então o melhor mesmo é cuidar do prazer.