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Ingleses fecham 'Caso Maddie', mas inspetores Gonçalo Amaral e Moita Flores dizem ter a solução para o enigma

Quase 15 anos depois do desaparecimento da pequena Madeleine McCann da Praia da Luz, no Algarve, e depois de as autoridades policiais inglesas terem gasto 15,5 milhões de euros a investigar, eis que tudo vai ser arquivado: sem provas, sem suspeitos "reais" e sem o rasto de Maddie. Os dois inspetores portugueses mais mediáticos desta investigação revelam tudo à The Mag: Qual é a solução para o caso. Como com 50 mil euros numa diligência se teria desvendado o mistério. E quem "inquinou" a sua resolução...
João Bénard Garcia
João Bénard Garcia
24 de março de 2022 às 23:26
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A Scotland Yard (a autoridade de investigação criminal do Reino Unido similar à Polícia Judiciária) planeia arquivar em outubro deste ano a operação policial Orange, que investiga o misterioso e mediático desaparecimento da menina Madeleine McCann da Praia da Luz, no Algarve, a 3 de maio de 2007.

Madeleine McCann, maddie mccann
Madeleine McCann, maddie mccann

A investigação durou 11 anos, chegou a ter 40 inspetores a trabalhar em exclusivo (hoje tem apenas 4) e já custou 15,5 milhões de euros aos cofres ingleses, segundo avança em exclusivo o jornal britânico 'The Sun', na sua edição do passado domingo.

No momento em que os ingleses se preparam para fazer exatamente aquilo que a PJ fez, mas em finais de 2008, The Mag falou com dois dos principais rostos da investigação em terras lusas - os inspetores Gonçalo Amaral e Francisco Moita Flores. Dois homens que se aplicaram a fundo, e deram o corpo às balas com as suas teorias, na investigação deste caso ainda sem solução, e que parece ser "o crime perfeito". Mas não é. Como os próprios nos irão explicar.

DAR A VIDA E A REPUTAÇÃO POR UMA CAUSA

Os dois policiais portugueses estavam longe de imaginar que o dia 4 de maio de 2007 iria mudar para sempre as suas vidas. Mas mudou. As firmes convicções de Gonçalo Amaral destruiram-lhe a vida e a carreira; a frustração de não descobrir a verdade sobre o destino de uma criança deixou marcas em Francisco Moita Flores.

Tudo começou às 22h14 do dia 3 de maio. Foi a hora a que foi dado o alerta pela mãe, a médica Kate McCann, do desaparecimento da pequena Madeleine, a criança loirinha e franzina que o mundo inteiro passou a chamar carinhosamente de 'Maddie'.

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Reconstituição do desaparecimento de Maddie

Desde esse dia, passou a ser conhecida como a menina de 3 anos misteriosamente desaparecida de um apartamento do Ocean Club, na praia da Luz, em Portugal, história que encheu capas de jornais em todo o mundo e abriu noticiários televisivos em quase todo o planeta.

capas de jornais com 'Caso Maddie'
capas de jornais com 'Caso Maddie'

Quinze anos depois, após avanços e recuos e centenas de pistas falsas, com dezenas de suspeitos nunca confirmados, e as mais variadas teorias, eis que as autoridades policiais britânicas se preparam para encerrar em definitivo o caso. Fonte da Scotland Yard garante ao jornal 'The Sun' que "atualmente não há planos de levar a investigação adiante", descartando a possibilidade de sucesso na produção de provas que permitam formar uma acusação contra o suspeito alemão Christian Bruechner, um pedófilo e violador conhecido das polícias europeias e a última pista do misterioso caso.

A mesma fonte do 'The Sun' aponta também outubro como o mês em que o processo deverá ser arquivado pelas autoridades policiais britânicas. Os pais de Maddie, Kate e Gerry, continuam em silêncio perante esta notícia.

A "CONSTRUÇÃO DE UM FALSO SUSPEITO"

À The Mag, Gonçalo Amaral, o ex-inspetor-coordenador da PJ no Algarve, adianta que "caso seja verdade a intenção da polícia britânica em encerrar a dita investigação - ou melhor a construção de um falso suspeito - só vem comprovar tudo aquilo que está escrito no meu último livro 'Maddie: Basta de Mentiras', publicado em outubro do ano passado".

Gonçalo Amaral
Gonçalo Amaral Foto: Cofina Media

O ex-investigador, que escreveu também o polémico livro 'Maddie, a Verdade da Mentira', que gerou uma onda de revolta nos pais de Madeleine e os fez acusar Gonçalo Amaral de difamação em tribunal, garante ainda em exclusivo à The Mag que "ao longo dos últimos anos, com o apoio e o beneplácito das autoridades portuguesas, criou-se um suspeito, mas o trabalho da polícia britânica, dos alemães e portugueses, foi o amontoar de mentiras a custo de muito dinheiro".

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'Credibilidade da testemunha é muito duvidosa': Gonçalo Amaral ataca investigação alemã ao desaparecimento de Maddie

Amaral é também muito crítico da forma como a PJ geriu todo este processo, prejudicando a sua imagem e também a de Portugal junto das suas congéneres policiais mundiais. "A Scotland Yard, o BKA alemão e a PJ são polícias competentes, razão pela qual não se compreende a construção de um falso suspeito a modos de solução final", dispara, imputando acusações a quem diz ter gerido todo o processo, em claras críticas a Alípio Ribeiro e Almeida Rodrigues, os dois diretores nacionais da PJ responsáveis: "Como coordenador de investigação criminal da PJ, na situação de aposentação, preocupa-me o facto de termos andado a reboque dos outros, quando somos nós que temos de dirigir a investigação. Tal só foi possível pelas decisões da anterior direção da PJ, a qual decidiu entregar o caso a quem porventura não estava preparado para este tipo de investigação".

"Preocupa-me o facto de termos andado a reboque dos outros, quando somos nós que temos de dirigir a investigação"

Gonçalo Amaral

Questionado sobre se o desaparecimento de Madeleine McCann é "o crime perfeito", Gonçalo Amaral riposta: "Não existem crimes perfeitos, ou melhor, quando um crime é conhecido, não é perfeito". Na sua opinião não só não é perfeito como ainda, pasme-se, tem solução: "Não estamos perante um crime perfeito, nem de grande dimensão e complexidade. A PJ que investigue e rapidamente saberemos o que se passou com Madeleine McCann, sigam as diligências por mim elencadas no meu livro 'Maddie: Basta de Mentiras' e o caso é resolvido, não tenho dúvidas".

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PJ está a ouvir testemunhas sobre o desaparecimento de Maddie

O ex-inspetor Francisco Moita Flores também concorda com o colega Amaral quando este defende que não há crimes perfeitos.

Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores

"Isto é só a prova de que há investigações que não chegam ao fim", diz, deixando um lamento: "Tenho muita pena de não ver resolvido o desaparecimento de uma criança.  É qualquer coisa que nos atormenta muito. Qualquer cidadão gostava de ver isto esclarecido. Procurar saber o destino de uma criança. Todos temos dentro de nós o impulso maior para a proteção de menores. Daí que seja uma frustração muito grande ver o processo chegar ao fim sem avançar um milímetro".

AS "MENTIRAS" ERAM "A SOLUÇÃO DO ENIGMA"

E tudo terá acontecido por causa, segundo Moita Flores, de uma estranha teimosia dos ingleses. "Aquilo que era preciso fazer nunca foi feito. Que era reconstituir o caso. Porque se sabe, pelas declarações prestadas no processo que entre os presentes alguns mentiram quando relataram o desaparecimento da criança. E a solução deste enigma estava aí", relembra Moita Flores.

"Tentaram manipular a informação, inventando tudo e mais alguma coisa, desde raptos, que chegaram à Austrália, até homicídios, como foi o caso do procurador alemão. O que é certo é que as diligências fundamentais para descobrir este caso nunca foram feitas. Não creio que a Scotland Yard seja tão ingénua que não perceba que as primeiras diligências, e as mais importantes, que deviam ter sido feitas e que custavam 50 mil euros, para rever aquelas testemunhas todas numa reconstituição no Algarve. Muitos contradizem-se nas declarações que prestaram. Não sei quem é que está a mentir, mas alguns deles estão a mentir claramente", defende o romancista e ex-inspetor.

"Não existem crimes perfeitos, ou melhor, quando um crime é conhecido, não é perfeito"

Gonçalo Amaral

Francisco Moita Flores acredita que a reconstituição dos factos com a presença dos amigos do casal Kate e Gerry McCann que estavam no Ocean Club, na Praia da Luz, nessa noite era a pedra de toque e seria a solução do mistério. "Isto são diligências elementares de polícia, não precisam de grande sofisticação. Nem sequer precisa de ser uma grande polícia para pensar nessas diligências. Eles (Scotland Yard) pensaram fazê-las. Só não as quiseram fazer", remata.

"Eu parto do princípio de que este processo foi inquinado. E por uma manipulação sórdida que foi feita pelas versões que foram apresentadas no sentido de proteger os pais e afastar qualquer suspeita do círculo mais próximo dos pais. E eventualmente proteção política. Tudo indica que houve alguma proteção política porque Clarence Mitchell, o assessor principal do ex-primeiro ministro inglês Gordon Brown veio imediatamente para Portugal para mediar as relações da família com a comunicação social", recorda o ex-inspetor, lançando uma dúvida: "Isto é muito estranho. Que um homem saía da alta responsabilidade que tem para vir mediar um caso destes se não houver um compromisso maior. Desde o princípio que se percebeu que este processo iria ser um desastre".

O agora escritor lança várias questões, para a quais garante ainda não ter a resposta final. "Gastaram-se 15 milhões de euros e todas eles no sentido de proteger aquele grupo próximo dos pais. Não há outra razão para explicar toda esta loucura com apenas esta criança quando em Inglaterra desaparecem centenas de crianças por ano. E gastar 15 milhões só com ela revela uma intenção muito própria, muito especial...", sublinha, declarando: "E não tenho resposta para isto".

"Gastaram-se 15 milhões de euros e todas eles no sentido de proteger aquele grupo próximo dos pais"

Francisco Moita Flores

O ex-inspetor descarta a possibilidade de uma humilhação dos polícias portugueses, mas não das tentativas: "Reparem que desde que o processo em Portugal foi arquivado e ficou a aguardar a produção de melhor prova - há anos - a partir daí mais nada se adiantou com todos esses milhões envolvidos e todo o histerismo alemão que envolveu o caso. Nada mais se desenvolveu".

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Renasce a esperança. Pais de Maddie têm novo motivo para acreditar no regresso da filha

Moita Flores salienta o papel central e fulcral dos investigadores da PJ em todo este processo. "Tudo aquilo que se sabe foi realizado e desenvolvido pela PJ. A PJ não sai daqui humilhada. Houve uma tentativa das autoridades inglesas e alemãs de o fazer? Houve! O procurador alemão foi muito deselegante com a polícia portuguesa e os ingleses também. Houve aqui manobras. O que resulta deste balanço que se pode fazer agora é que eles, investindo milhões, não conseguiram andar mais um milímetro do que aquilo que andou a brigada de Portimão da PJ", remata.

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