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O que têm em comum as trágicas histórias de Émile, o menino desaparecido na "aldeia amaldiçoada" em França, e de Maddie

Tem dois anos e meio e desapareceu de casa dos avós. A criança loirinha dos Alpes, que só nos remete para o universo infantil de Heidi e do seu avô, o carrancudo "velho dos Alpes", "evaporou-se" na era das redes sociais e da televisão planetária. O mistério em torno de este menino remete-nos para outro, bem complexo, e que, ao fim de 16 anos, continua sem respostas: O que aconteceu a Maddie?
João Bénard Garcia
João Bénard Garcia
13 de julho de 2023 às 22:30
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Em poucos minutos, Émile, um menino de dois anos e meio, desapareceu de casa dos avós na pequena aldeia de Haut-Vernet, nos Alpes franceses. O lugarejo, com apenas 25 habitantes, tornou-se subitamente o centro mediático do mundo ocidental. Dezenas de estações de televisão de todo o mundo rumaram à montanha. Centenas de jornalistas esperam o único desfecho que interessa: dar a notícia de que Émile apareceu, são e salvo. Só que nada aconteceu… até agora.

Émile, o menino desaparecido em França
Émile, o menino desaparecido em França

Milhões de pessoas seguiram pela televisão o drama da família e das autoridades policiais. Pelo mesmo pequeno ecrã seguiram os passos de dezenas de voluntários que bateram matos, bosques, casas e grutas na montanha onde o menino poderia estar perdido ou escondido. Carros foram vasculhados, pistas de sangue analisadas, suspeitos interrogados, dados cruzados, suspeitas e teorias levantadas. Conclusões: Zero!

Ao fim de cinco dias, os responsáveis decidiram terminar as buscas. Querem avaliar as provas recolhidas, refletir sobre todas as possibilidades e não deixar que a ansiedade da família e a gigante pressão da opinião pública para que resolvam o desaparecimento condicione a investigação.

O TERROR DOS PAIS

Há 16 anos, num 'resort' na praia da Luz, em Lagos, no Algarve, uma menina chamada Madeleine McCann desapareceu, a 9 dias de completar quatro anos de idade. Em menos de 24 horas, a região mais turística de Portugal foi invadida por uma avalancha de meios de comunicação social que transmitiram, para todo o mundo, a novela de notícias de que a criança desaparecera enquanto dormia e os pais jantavam com um grupo de amigos num restaurante do resort Ocean Club, a poucos metros do local, que a mãe Kate tinha ido espreitar os filhos e deu pela falta da mais velha.

Tal como com o desaparecimento de Émile, o desaparecimento de Maddie tinha todos os ingredientes das histórias em que a realidade supera a ficção, alimentando a curiosidade mórbida das sociedades ocidentais, que vivem do terror da perda, em especial de crianças, em particular de crianças pequenas indefesas.

NEM SOMBRA DE ÉMILE

Enquanto o mundo aguarda notícias de uma criança que não conhecem, tal como ninguém conhecia Maddie até se tornar a criança desaparecida mais mediática da história da humanidade, as autoridades francesas vão perdendo a esperança num desfecho feliz. 

Sabe-se agora que Émile não estava sozinho em casa com os avós. E que no mesmo espaço estavam tios e tias, primos e primas da criança, membros de uma família numerosa do Alpes franceses que estava reunida em clima de grande festa. 

Depois de um perímetro de 1,8 Km ao redor da pequena aldeia ter sido passado a pente fino, as autoridades fizeram "varreduras" durante cinco dias numa área mais extensa, de quase 100 hectares, depois de o menino ter desaparecido sábado, dia 8, pelas 17H00.

Acidente? Homicídio? Sequestro? Rapto? "Nenhuma tese é privilegiada, nenhuma tese é excluída", insistiu o promotor de Digne, confirmando que a segunda fase da investigação já estava aberta e em curso. E essa segunda fase, com uma tentativa de maior serenidade e com a poeira mediática a começar a assentar, consiste em "analisar a massa considerável de dados" recolhidos nos cinco dias de investigações em Haut-Vernet, e em particular os dados telefónicos e as mais de 1.200 mensagens deixadas na linha de chamada dedicada ao caso.

A ALDEIA MALDITA

O desaparecimento de Émile é a terceira tragédia que deixa em estado de choque os poucos habitantes da aldeia de Haut-Vernet. Alguns já a apelidaram de "aldeia amaldiçoada" depois do que viveram em 2008 e 2015. Uma das tragédias foi bem conhecida em todo o mundo e fez centenas de mortos. 

Vamos então, por ordem cronológica, revelar o que marca de forma negra a vida destes 25 habitantes perdidos na montanha. Em 2008, uma lojista foi brutalmente assassinada por um cliente, e a notícia chocou a França.

Quando se os habitantes do lugarejo ainda se recompunham dessa tragédia, eis que, em 2015, o piloto de um AirBus A320, da companhia aérea Germanwings atirou a aeronave intencionalmente contra o maciço de Estrop, a poucos quilómetros desta povoação, provocando centenas de mortos e colocando, de novo, a região no mapa das tragédias. Agora foi a vez de Haute-Vernet voltar a ser notícia. E de novo pelos piores motivos.

Também Aldeia da Luz, em Lagos, sofreu, durante os primeiros anos do desaparecimento de Madeleine McCann, os efeitos da tragédia. Muitos turistas ingleses culparam Portugal, e em especial as autoridades policiais portuguesas pelo desaparecimento sem rasto da menina inglesa e escolheram outros locais, e países, como destino alternativo de férias. No caso de Maddie, 16 anos depois tudo voltou à normalidade na praia da Luz. Só mesmo o apartamento de onde Maddie desapareceu permanece fechado.

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