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Passos Coelho, o regressado, abriu a boca, provocou um terramoto, e, segundo António Costa, até o Diabo apareceu

O antigo primeiro-ministro andava desaparecido há anos, apareceu numa manhã fria e soalheira, e zás, provocou um terramoto político, com réplicas ao longo do dia em todos os quadrantes políticos, e com direito a um tsumani de análise televisiva à noite. André Ventura, do Chega, ergueu um altar ao estadista que admira. Luís Montenegro aproveitou a boleia das palavras de Passos para fazer oposição. Costa não gostou, levou o tema para o misticismo e falou de um alegado Diabo à espreita. Mas, afinal, o que anda a fazer o senhor Passos por aí?
João Bénard Garcia
João Bénard Garcia
21 de dezembro de 2023 às 22:48
Padro Passos Coelho no Algarve
Padro Passos Coelho no Algarve
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Padro Passos Coelho no Algarve
Padro Passos Coelho no Algarve
Padro Passos Coelho no Algarve

Pedro Passos Coelho, 59 anos, o ex-primeiro ministro social-democrata, que desde 2018 é professor universitário de Economia, foi depor em Lisboa no processo judicial do Caso EDP e, com três parágrafos apenas de conversa, provocou um verdadeiro terramoto noticioso, que pôs meio país e a maioria dos comentadores televisivos a falar sobre o que falou. Disse Passos aos jornalistas que espera "que o país saiba identificar no atual governo, que está a cessar funções, responsabilidades graves na situação a que o país chegou. Suficientemente graves para que o primeiro-ministro tenha sido o único que eu tenho memória que se tenha sentido na necessidade de apresentar a demissão por indecente e má figura".

António Costa, o "indecente" que na opinião de Passos Coelho fez "má figura", não tardou a reagir: "O azedume não merece comentário. Respeito e percebo que deve ser muito cansativo estar há oito anos a contar dia após dia à espera que o Diabo chegue. O Diabo nunca mais chega e depois sai isto", acrescentando que "ao azedume nem se responde, nem se comenta. Não há nada a dizer. Acho que as palavras dele falam por si". Estava aberta pelos socialistas o tiro ao alvo ao antigo líder do centro-direita.

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São lágrimas, são lágrimas! António Costa chora em plena Assembleia da República após aprovação do OE

AI PASSOS, MEU HERÓI

Mas o ex-presidente do PSD disse mais coisas, marcando de manhãzinha bem cedo toda agenda política do dia. Nem o líder do Chega, André Ventura, demorou muito tempo a meter a gravata e a vestir o casaquinho do fato para comunicar ao país, com solenidade na Assembleia da República, que Passos, um dos seus mentores políticos, era um tipo assertivo e corajoso, um estadista com eles no sítio: "Se toda a oposição tivesse feito a mesma firmeza, assertividade e clareza de raciocínio que vimos hoje em Pedro Passos Coelho, teríamos já uma oposição muito mais forte ao PS".

O governante, que durante quatro anos apanhou por tabela com o embate da Troika de credores, a contestação dos portugueses perante medidas duras de austeridade externamente impostas por quem nos emprestou milhões e conseguiu fazer uma saída limpa do resgate financeiro, foi muito crítico perante os oito anos de governação de António Costa. E deixou um aviso para o futuro: "Desejo que a situação de Portugal possa melhorar, mas não melhorará sem dedicação, esforço e algumas condições para que isso possa ocorrer".

Arredado que estava da ribalta política há vários anos, os jornalistas aproveitaram a oportunidade rara para lhe medirem o pulso político. E o próprio aproveitou a deixa de ouro para se posicionar no xadrez político da direita, não vá vir mais cedo do que pretende o Diabo de que António Costa fala e Passos Coelho tenha que estar bem posicionado na casa de partida, ou numa outra casa de confortável do tabuleiro.

Ó TEMPO, VOLTA P'RA TRÁS

Mostrou-se humilde, como convém a um possível candidato presidencial da direita, ou mesmo a um salvador urgente da nação social-democrata, como o povo laranja tanto almeja, e atirou: "Cada um tem o seu tempo e este tempo não me pertence. E, portanto, devemos deixar o espaço a quem pertence o tempo para fazer aquilo que é preciso. O que eu posso formular é um desejo muito sincero de que o PSD possa estar preparado para os tempos que aí vem", disse o antigo líder social-democrata aos jornalistas, dando aquele que mais parece um valente puxão de orelhas a Luís Montenegro, desafiando as hostes PSD a mexerem-se rápido, se querem mesmo ganhar estas eleições legislativas, que estão longe de estar no papo.

Alertando para o facto de que o ato eleitoral de 10 de março de 2024 não se vislumbra serem favas contadas para o PSD, o antigo "patrão" laranja deixa recados e algumas carapuças. "Espero evidentemente que o PSD possa ser o partido liderante nessa fase nova que se vai abrir, não porque é o meu partido – acho que todos compreenderiam que eu desejasse que o meu partido pudesse ganhar as eleições – e confio que sim, que isso acontecerá", diz, deixando lições estratégicas, e de como se faz política: "O país vai precisar seguramente de um governo que tenha não apenas um rumo bem definido, que é como quem diz: autoridade moral para conduzir uma política diferente, mas que possa inspirar confiança às pessoas para inverter uma degradação extraordinária de uma parte muito significativa das políticas públicas que são importantes para o crescimento da nossa economia".

POR QUEM O PSD SUSPIRA? POR PASSOS

Resumindo: De uma assentada Pedro Passos Coelho deu uma estocada em António Costa, que o derrubou com uma Geringonça política à esquerda em 2015, dizendo que este cai sem honra... "por indecente e má figura"... nem glória oito anos depois, não obstante a almofada política da maioria absoluta de que beneficiava; atira recados à sua própria família política, ao deixar no ar um "espero que PSD esteja preparado", sem garantir ser nisso que efetivamente acredita; e ao referir que "cada um tem o seu tempo e este tempo não me pertence", alimentando o tabu sobre o seu futuro político.

Já se percebeu que aponta para um regresso que depende de outro "tempo" que não é este, para já. Quem está atento ao "tempo" de Passos Coelho são Paulo Portas e Luís Marques Mendes, os possíveis presidenciáveis da direita, que só aguardam uma luz, sinais de fumo ou som de vuvuzelas do lado de Passos para não avançar.

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