
É mais um desaire na vida pública do polémico 'chef' de origem jugoslava, Ljubomir Stanisic, de 43 anos de idade. Ljubo volta a ser acusado de dois crimes e vai ter que se sentar no banco dos réus, no âmbito de um processo que envolve corrupção e tráfico de droga, mas onde foi parar por mero azar.
Depois de ter sido despronunciado da prática dos crimes de corrupção ativa (que pode dar uma pena de prisão até aos cinco anos) e de desobediência (com uma multa máxima de até 120 dias ou um ano de prisão) pelo controverso juiz Ivo Rosa, magistrado do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), o cozinheiro famoso volta a ter a ver o nome inscrito na categoria dos arguidos e deve ficar à espera da notificação para depor.
Tudo isto acontece porque Ljubomir caiu há cerca de dois anos nas malhas de escutas telefónicas do processo de investigação policial que ficou conhecido como 'Operação Dupla Face', uma investigação a uma rede de tráfico de droga que envolve agentes policiais, e só porque pediu um favorzinho.
O juiz Ivo Rosa anulou as escutas, Ljubomir saltava assim do processo, mas os Juízes Desembargadores do Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) consideraram agora as escutas válidas e determinam que o cozinheiro mais famoso da TV portuguesa regresse à acusação e ao rol de arguidos e se sente mesmo no banco dos réus para ser julgado.
Este novo facto ocorre numa fase da vida do cozinheiro em que a segunda temporada do seu programa de domingo à noite na SIC 'Hell’s Kitchen' atravessou vários problemas para se impor junto dos telespetadores e teve resultados de audiências bem abaixo dos esperados por quem manda e decide na SIC - a saber o patrão Francisco Pedro Balsemão e o diretor de programas e entretenimento Daniel Oliveira.
O formato importado de culinária que termina este domingo, dia 20 de março, na SIC, foi quase sempre sistematicamente batido pela concorrente TVI. Em especial desde que diretora de entretenimento e ficção Cristina Ferreira apontou a bazuca 'Big Brother Famosos' à programação da antena da estação de Paço de Arcos, declarando-lhe guerra aberta no horário nobre desse dia.
VIOLOU OU NÃO VIOLOU? EIS A QUESTÃO
A perder em dois campos, no televisivo e no judicial, onde também corre contra si um outro processo onde a TVI exige do 'chef' uma indemnização avultada por rescisão unilateral de contrato, que já vai na casa dos 1,2 milhões de euros, Ljubomir Stanisic vai ter que explicar para já a um juiz se subornou ou não agente policial Nuno Marino com uma garrafa de rum Refugees, que comercializava, à data dos factos, por 35 euros.
Mais. Ljubomir vai ter ainda que encontrar uma excelente justificação para ter violado o cordão de segurança sanitária que impedia residentes em Lisboa de se deslocarem para fora da capital durante o estado de emergência decretado pelo Governo para o fim de semana da Páscoa de 2020.
Alegadamente terá sido com uma garrafa de rum que Ljubo terá resolvido a proibição.
Com a garrafinha entregue ao agente Nuno Marino, supostamente terá ajudado a fechar os olhos a um posto de controlo da PSP na Ponte 25 de Abril, permitindo assim que o sócio do restaurante '100 Maneiras' violasse o estado de emergência e seguisse caminho rumo a Santa Margarida da Serra, em Grândola.
Nessa localidade o cozinheiro possui um monte alentejano e foi para lá que se terá deslocado em pleno estado de emergência durante os dias da Páscoa com a mulher, Mónica Franco, e os filhos, Mateus, hoje com 15 anos, e Luca, de 8.
AFINAL, SÃO QUANTAS GARRAFAS?
Sem saber, e por causa de um favorzinho, Ljubomir acabou envolvido num processo que investiga a existência de uma alegada rede ligada ao crime violento e tráfico de droga, na zona da Grande Lisboa.
Agora, os Desembargadores querem levar a julgamento o chef de cozinha Ljubomir Stanisic, pelo crime de corrupção ativa pois terão escutado o anfitrião do reality show 'Hell's Kitchen' a pedir ajuda a um agente da PSP (que é arguido no processo) para furar o bloqueio policial na Ponte 25 de abril, a 2 de abril de 2020, com o objetivo de passar o fim de semana em Grândola. Em troca, ofereceu uma garrafa de Rum Refugees, no valor de 35 euros, ao agente.
De acordo com o Ministério Público, a estrela da SIC terá entrado em contacto através da aplicação WhatsApp com João Marino, dono do restaurante Villa Mariscos, em Grândola, e irmão do agente policial Nuno Marino, dizendo-lhe que queria passar a quadra na zona de Grândola, onde tem uma propriedade.
O agente ter-se-á oferecido para dar via verde ao 'chef' jugoslavo, fazendo-o atravessar livremente a Ponte 25 de Abril, em Lisboa. A oferta da garrafita de rum surgiu na sequência desta ajuda. A proposta inicial era de lhe entregar ainda três garrafas de vinho para partilhar com os colegas, mas o julgamento esclarecerá a quantidade e o verdadeiro teor alcóolico das mesmas.
O PROCESSO DE UM MILHÃO
Entretanto corre nos tribunais um outro processo mais cabeludo contra o cozinheiro.
A TVI pede uma indemnização de 1.216.785,94 euros ao 'chef' por rescisão do contrato que tinha com a estação para produzir o programa 'Pesadelo na Cozinha', mas Ljubomir também reclama créditos e reclama em tribunal ser credor da estação em quase 9 mil euros.
Dez meses depois de ter saído da TVI, a estação avançou com um processo cível contra Ljubomir Stanisic e a empresa Questão de Palavras Lda., gerida pela mulher do cozinheiro, Mónica, exigindo uma indemnização de valor superior a 1,2 milhões de euros.
Em meados de agosto de 2020, a estação concorrente SIC, detida pela Impresa, anunciou a contratação de Ljubomir Stanisic. A notícia caiu que nem uma bomba em plena guerra de audiências com a SIC e poucas semanas depois de a TVI ter recontratado à Impresa a apresentadora Cristina Ferreira, que é agora também administradora e acionista da Media Capital.
GUERRA DE INDEMNIZAÇÕES EM BREVE
A SIC também exige a Cristina Ferreira uma indemnização de 20 milhões de euros. O assunto promete aquecer este ano na barra dos tribunais.
Voltando a Ljubomir, TVI acusa-o de ter quebrado um vínculo que só cessava no final do ano de 2020 e refere, acusação, que ambas as partes estariam, inclusive, a trabalhar para a renovação do mesmo. "A TVI está surpreendida com este procedimento inusitado, no momento em que decorriam negociações entre as partes para a renovação do acordo global por mais dois anos. A TVI fez uma oferta e uma contra-oferta, dentro de valores considerados ajustados", revelou, na altura, a estação em comunicado.
Ainda de acordo com a TVI, Ljubomir Stanisic "tinha um contrato de trabalho em vigor até ao final do ano, ao qual acrescia um valor dedicado pela produção dos seus programas".
Na missiva, a estação de Queluz de Baixo referia ainda que, "no início de 2020, Stanisic estabelecera já um novo contrato, em condições muito favoráveis e invulgares no mercado, para a produção de uma nova temporada de 'Pesadelo na Cozinha'." E este é o pomo da discórdia. Um de muitos entre as duas estações.